Postagem Dag Vulpi 19/05/2011
VIRGÍLIO GOMES DA SILVA
Dirigente da AÇÃO LIBERTADORA NACIONAL (ALN).
Nasceu a 15 de agosto de 1933 em Sítio Novo - Santa Cruz, no Rio Grande do Norte, filho de Sebastião Gomes da Silva e Izabel Gomes da Silva.
Desaparecido desde 1969.
Casado, tinha 3 filhos.
Foi operário da indústria química e dirigente do Sindicato dos Químicos e Farmacêuticos de São Paulo. Preso durante 4 meses em 1964. Perseguido pela sua militância, não conseguia emprego nas fábricas e sobreviveu mantendo um pequeno bar em São Miguel Paulista.
Foi preso no dia 29 de setembro de 1969, na Av. Duque de Caxias, em São Paulo, por agentes da Operação Bandeirantes - OBAN (DOI-CODI/SP).
Morto sob torturas na sede da OBAN, nas mãos dos assassinos torturadores liderados pelo major Inocêncio F. de Matos Beltrão e pelo Major Valdir Coelho, chefes daquele centro de torturas, além dos capitães Benone Arruda Albernaz, Dalmo Lúcio Muniz Cirillo, Maurício Lopes Lima, Homero Cesar Machado, capitão conhecido como “Tomás”, da PM-SP, delegado Otávio Gonçalves Moreira Jr., sargento da PM Paulo Bordini, agentes policiais Maurício de Freitas, vulgo “Lungaretti”, Paulo Rosa, vulgo “Paulo Bexiga” e agente do Departamento da Polícia Federal conhecido como “Américo”.
Militantes presos na mesma época afirmam que a polícia torturou sua mulher e o filho mais novo, ainda bebê, para obrigá-lo a colaborar.
Em sua ficha encontrada nos arquivos do DOPS/SP ao lado do seu nome, entre parêntesis está escrito à máquina “morto”.
No encaminhamento n° 261 do Serviço Nacional de Informações de 31 de outubro de 1969, encontrado no DOPS/PR, lê-se “Virgílio Gomes da Silva - ‘Jonas’, falecido por resistir à prisão; que também usava a falsa identidade em nome de Joel Ferreira Lima.”
Ainda no DOPS/PR, consta o nome de Virgílio numa gaveta com a identificação: “falecidos”.
No DOPS/RJ, consta o nome de Virgílio no documento do CIE-S/103 - Terroristas da ALN com Cursos em Cuba (situação em 21 de junho de 1972), como estando morto.
O Relatório da Marinha afirma que “morreu em 29 de setembro de 1969, ao reagir à bala quando de sua prisão em um aparelho.”
Depoimentos dos ex-presos políticos Paulo de Tarso Venceslau, Manoel Cyrillo de Oliveira Neto, seu irmão Francisco Gomes da Silva e Celso Antunes Horta, feitos em Auditorias Militares na época, denunciam as torturas sofridas por Virgílio na OBAN.
De Francisco Gomes da Silva, irmão de Virgílio e que também foi preso político:
“Meu irmão Virgílio Gomes da Silva foi preso e morto no DOI-CODI da Operação Bandeirantes, em 29 de setembro de 1969. Virgílio era militante da ALN e estava sendo procurado pelos órgãos da repressão aparecendo inclusive em cartazes com fotografia onde se lia Procura-se. Eu fui preso no dia 28 do mesmo mês de setembro, tendo passado por várias sessões de tortura, quando no dia 29, Virgílio chegou no mesmo local, ou seja Operação Bandeirantes, algemado, tendo sido preso pela equipe do Capitão Albernaz (eu, pela equipe do Raul Careca). Eu estava sendo interrogado quando ouvi os gritos de Virgílio, que chegou algemado e estava sendo espancado, quando levou um chute no rosto, que se abriu e comecou a jorrar sangue.
Continuaram os gritos de Virgílio que estava sendo torturado para que entregasse os companheiros. Ele recusava-se a delatar e reagia xingando os torturadores. Acredito que Virgílio chegou ao DOI-CODI por volta de 11:00 h da manhã, tendo sido assassinado por volta das 21:00 h. O corpo foi mostrado ao Celso Horta, também preso político. Virgílio foi morto pendurado no pau de arara.
Mais ou menos meia hora depois que eu soube da morte de Virgílio, através de um outro preso, o Capitão Albernaz dirigiu-se a mim, informando que Virgílio havia fugido. Ouvi comentários na prisão que os torturadores haviam retirado os olhos de Virgílio, bem como seus testículos.
Mais tarde fui transferido para o DOPS e lá, um delegado cujo nome não me recordo, falou que Virgílio havia sido enterrado na quadra do DOPS no cemitério de V. Formosa.
Mais ou menos um ano depois, minha mãe e meu irmão Vicente foram ao cemitério de V. Formosa e souberam através de um funcionário o local onde Virgílio estava enterrado, tendo se dirigido ao referido local que, entretanto, estava fortemente vigiado pela polícia militar, sendo que os policiais determinaram que se afastassem e não voltassem mais ao local. Os jornais publicaram que Virgílio estava foragido, quando na verdade já estava morto.”
Apesar das buscas efetuadas no Cemitério de Vila Formosa pela Comissão 261/90 da Prefeitura de São Paulo, seu corpo não foi encontrado.
COMUNICADO POLÍTICO URGENTE
24 DE JUNHO DE 2004
O Grupo Tortura Nunca Mais - SP comunica que foram encontradas no Arquivo do Estado as provas da morte por tortura de Virgilio Gomes da Silva, nas dependências da Operação Bandeirantes (DOI CODI-SP.) em 29de setembro de l969. Até hoje Virgílio está desaparecido e seu corpo não foi encontrado. Sua viúva, Ilda Martins da Silva, e seus quatro filhos exigem que seja indicada a localização de seus restos mortais para que possam finalmente enterrá-lo com a dignidade que merece.
A família de Virgílio exibirá à imprensa, aos amigos e ao país o laudo do Instituto Médico Legal de São Paulo, feito àquela época, que prova a morte por tortura de Virgílio Gomes da Silva, com sua foto depois de morto e suas impressões digitais. Sobre esse laudo, aparece um aviso escrito à mão com a frase "Não deve ser informado", o que prova que houve uma ordem para o desaparecimento do corpo e o não comunicado da morte à família ou à imprensa. Sua viúva, aliás, foi presa no mesmo dia e permaneceu presa na Operação Bandeirantes (Doi-Codi), no Dops paulista e no presídio Tiradentes por dez meses num verdadeiro sequestro, pois não foi processada. Seus filhos, com idade de 8, 7 e 2 anos, além de uma filha de quatro meses, foram levados ao Juizado de Menores.
Contamos com a sua presença para este ato em defesa da memória e da justiça, que será realizado em 24 de junho de 2004, no auditório Wladimir Herzog do Sindicato dos Jornalistas - Rua Rego Freitas, 230 -Sobreloja/SP - Fones para contato: 9615-3293 | 3283-3082
Rose Nogueira
GRUPO TORTURA NUNCA MAIS -SP
Presidente Fonte: Boletim Agência Carta Maior
35 ANOS DEPOIS
Documentos comprovam morte por tortura na ditadura
Encontrados por acaso no Arquivo do Estado, laudos mostram que Virgílio Gomes da Silva, preso político desaparecido em 1969, foi torturado e assassinado nas dependências da Operação Bandeirante, o Doi Codi-SP
Bia Barbosa 24/06/2004
São Paulo – Gilberto da Cruz, Emílio Máttar, Roberto A. Magalhães e Paulo A. de Queiroz Rocha. Onde estão esses homens? Hoje, eles são a única pista que a família de Virgílio Gomes da Silva tem para tentar encontrar seu corpo, desaparecido há 35 anos. Virgílio, operário da indústria química e militante da Aliança de Libertação Nacional (ALN), foi preso pela ditadura militar em setembro de 1969 e nunca mais visto. Nesta quinta-feira (24), o Grupo Tortura Nunca Mais/SP divulgou em São Paulo documentos encontrados no Arquivo do Estado que comprovam o assassinato de Virgílio por tortura nas dependências da Operação Bandeirantes (o DOI CODI-SP), no dia 29 de setembro de 1969. Roberto A Magalhães e Paulo A de Queiroz Rocha são os médicos que assinam o laudo do Instituto Médico Legal, datado de 30 de setembro, que atesta a morte do militante. Gilberto da Cruz e Emílio Máttar trabalhavam na época na Divisão de Identificação Civil e Criminal da Secretaria de Estado dos Negócios da Segurança Pública, sendo que o delegado Máttar era o diretor do órgão, que identificou o cadáver desconhecido como sendo o do preso político.
Os documentos divulgados nesta quinta foram encontrados no meio de 180 mil pastas pelo jornalista e escritor Mário Magalhães, durante pesquisas que realizava para o livro que está escrevendo sobre a vida de Carlos Marighella e da ALN. As informações até hoje secretas sobre o destino de Virgílio Gomes da Silva estavam “perdidas” no meio de dossiês que tratavam da atuação dos freis dominicanos durante a ditadura. Sobre tais papéis, um aviso manuscrito com a frase “Os símbolos 30-Z-160-4820, 4821, 4819 e 4918 não podem ser informados”. Na opinião da família, esta é uma prova de que houve uma ordem para o desaparecimento do corpo e o não comunicado da morte de Virgílio aos familiares.
Com o codinome de Jonas, Virgílio foi uma das lideranças na luta contra a ditadura militar no Brasil. Uma de suas ações foi o sequestro do embaixador americano Charles Burke Elbrick, posteriormente trocado por 15 presos políticos, entre eles o Ministro Chefe da Casa Civil, José Dirceu. Preso pouco tempo depois do sequestro, Virgílio foi o primeiro brasileiro dado como desaparecido no processo da ditadura. Esta foi a versão oficial dada pelo Estado. Em 1995, Ilda Martins da Silva, sua esposa, recebeu o atestado de óbito do marido, por morte presumida por desaparecimento. Mas os papéis que comprovavam a morte do preso político existem há 35 anos – e sempre estiveram sob poder do Estado. A descoberta desses documentos vira de ponta cabeça a história oficial contada pelo país sobre o destino de seus desaparecidos políticos.
“Desde que meu pai morreu existe um laudo e nós só ficamos sabendo disso agora. Para mim, ele morreu esta semana, por isso estamos de luto. Minha avó morreu sem saber o destino do meu pai”, disse emocionado Vladimir da Silva, filho mais velho de Virgílio. “Estes documentos me enchem de esperança. Da mesma forma que eles apareceram por acaso, os de outros companheiros podem estar lá. Há uma urgência em se estudar este arquivo. Ao mesmo tempo, já que tudo foi registrado, queremos saber de quem partiu a ordem de ocultar o corpo do meu pai. Queremos rever este atestado de morte presumida. Estamos aqui não para pedir uma indenização, mas o reestabelecimento de uma verdade histórica. Não tenho esperança de que estas pessoas que são citadas nos laudos venham a público fazer este reconhecimento. Nunca vieram. Minha esperança é na Justiça”, explica Vladimir.
Desaparecido desde 1969.
Casado, tinha 3 filhos.
Foi operário da indústria química e dirigente do Sindicato dos Químicos e Farmacêuticos de São Paulo. Preso durante 4 meses em 1964. Perseguido pela sua militância, não conseguia emprego nas fábricas e sobreviveu mantendo um pequeno bar em São Miguel Paulista.
Foi preso no dia 29 de setembro de 1969, na Av. Duque de Caxias, em São Paulo, por agentes da Operação Bandeirantes - OBAN (DOI-CODI/SP).
Morto sob torturas na sede da OBAN, nas mãos dos assassinos torturadores liderados pelo major Inocêncio F. de Matos Beltrão e pelo Major Valdir Coelho, chefes daquele centro de torturas, além dos capitães Benone Arruda Albernaz, Dalmo Lúcio Muniz Cirillo, Maurício Lopes Lima, Homero Cesar Machado, capitão conhecido como “Tomás”, da PM-SP, delegado Otávio Gonçalves Moreira Jr., sargento da PM Paulo Bordini, agentes policiais Maurício de Freitas, vulgo “Lungaretti”, Paulo Rosa, vulgo “Paulo Bexiga” e agente do Departamento da Polícia Federal conhecido como “Américo”.
Militantes presos na mesma época afirmam que a polícia torturou sua mulher e o filho mais novo, ainda bebê, para obrigá-lo a colaborar.
Em sua ficha encontrada nos arquivos do DOPS/SP ao lado do seu nome, entre parêntesis está escrito à máquina “morto”.
No encaminhamento n° 261 do Serviço Nacional de Informações de 31 de outubro de 1969, encontrado no DOPS/PR, lê-se “Virgílio Gomes da Silva - ‘Jonas’, falecido por resistir à prisão; que também usava a falsa identidade em nome de Joel Ferreira Lima.”
Ainda no DOPS/PR, consta o nome de Virgílio numa gaveta com a identificação: “falecidos”.
No DOPS/RJ, consta o nome de Virgílio no documento do CIE-S/103 - Terroristas da ALN com Cursos em Cuba (situação em 21 de junho de 1972), como estando morto.
O Relatório da Marinha afirma que “morreu em 29 de setembro de 1969, ao reagir à bala quando de sua prisão em um aparelho.”
Depoimentos dos ex-presos políticos Paulo de Tarso Venceslau, Manoel Cyrillo de Oliveira Neto, seu irmão Francisco Gomes da Silva e Celso Antunes Horta, feitos em Auditorias Militares na época, denunciam as torturas sofridas por Virgílio na OBAN.
De Francisco Gomes da Silva, irmão de Virgílio e que também foi preso político:
“Meu irmão Virgílio Gomes da Silva foi preso e morto no DOI-CODI da Operação Bandeirantes, em 29 de setembro de 1969. Virgílio era militante da ALN e estava sendo procurado pelos órgãos da repressão aparecendo inclusive em cartazes com fotografia onde se lia Procura-se. Eu fui preso no dia 28 do mesmo mês de setembro, tendo passado por várias sessões de tortura, quando no dia 29, Virgílio chegou no mesmo local, ou seja Operação Bandeirantes, algemado, tendo sido preso pela equipe do Capitão Albernaz (eu, pela equipe do Raul Careca). Eu estava sendo interrogado quando ouvi os gritos de Virgílio, que chegou algemado e estava sendo espancado, quando levou um chute no rosto, que se abriu e comecou a jorrar sangue.
Continuaram os gritos de Virgílio que estava sendo torturado para que entregasse os companheiros. Ele recusava-se a delatar e reagia xingando os torturadores. Acredito que Virgílio chegou ao DOI-CODI por volta de 11:00 h da manhã, tendo sido assassinado por volta das 21:00 h. O corpo foi mostrado ao Celso Horta, também preso político. Virgílio foi morto pendurado no pau de arara.
Mais ou menos meia hora depois que eu soube da morte de Virgílio, através de um outro preso, o Capitão Albernaz dirigiu-se a mim, informando que Virgílio havia fugido. Ouvi comentários na prisão que os torturadores haviam retirado os olhos de Virgílio, bem como seus testículos.
Mais tarde fui transferido para o DOPS e lá, um delegado cujo nome não me recordo, falou que Virgílio havia sido enterrado na quadra do DOPS no cemitério de V. Formosa.
Mais ou menos um ano depois, minha mãe e meu irmão Vicente foram ao cemitério de V. Formosa e souberam através de um funcionário o local onde Virgílio estava enterrado, tendo se dirigido ao referido local que, entretanto, estava fortemente vigiado pela polícia militar, sendo que os policiais determinaram que se afastassem e não voltassem mais ao local. Os jornais publicaram que Virgílio estava foragido, quando na verdade já estava morto.”
Apesar das buscas efetuadas no Cemitério de Vila Formosa pela Comissão 261/90 da Prefeitura de São Paulo, seu corpo não foi encontrado.
COMUNICADO POLÍTICO URGENTE
24 DE JUNHO DE 2004
O Grupo Tortura Nunca Mais - SP comunica que foram encontradas no Arquivo do Estado as provas da morte por tortura de Virgilio Gomes da Silva, nas dependências da Operação Bandeirantes (DOI CODI-SP.) em 29de setembro de l969. Até hoje Virgílio está desaparecido e seu corpo não foi encontrado. Sua viúva, Ilda Martins da Silva, e seus quatro filhos exigem que seja indicada a localização de seus restos mortais para que possam finalmente enterrá-lo com a dignidade que merece.
A família de Virgílio exibirá à imprensa, aos amigos e ao país o laudo do Instituto Médico Legal de São Paulo, feito àquela época, que prova a morte por tortura de Virgílio Gomes da Silva, com sua foto depois de morto e suas impressões digitais. Sobre esse laudo, aparece um aviso escrito à mão com a frase "Não deve ser informado", o que prova que houve uma ordem para o desaparecimento do corpo e o não comunicado da morte à família ou à imprensa. Sua viúva, aliás, foi presa no mesmo dia e permaneceu presa na Operação Bandeirantes (Doi-Codi), no Dops paulista e no presídio Tiradentes por dez meses num verdadeiro sequestro, pois não foi processada. Seus filhos, com idade de 8, 7 e 2 anos, além de uma filha de quatro meses, foram levados ao Juizado de Menores.
Contamos com a sua presença para este ato em defesa da memória e da justiça, que será realizado em 24 de junho de 2004, no auditório Wladimir Herzog do Sindicato dos Jornalistas - Rua Rego Freitas, 230 -Sobreloja/SP - Fones para contato: 9615-3293 | 3283-3082
Rose Nogueira
GRUPO TORTURA NUNCA MAIS -SP
Presidente Fonte: Boletim Agência Carta Maior
35 ANOS DEPOIS
Documentos comprovam morte por tortura na ditadura
Encontrados por acaso no Arquivo do Estado, laudos mostram que Virgílio Gomes da Silva, preso político desaparecido em 1969, foi torturado e assassinado nas dependências da Operação Bandeirante, o Doi Codi-SP
Bia Barbosa 24/06/2004
São Paulo – Gilberto da Cruz, Emílio Máttar, Roberto A. Magalhães e Paulo A. de Queiroz Rocha. Onde estão esses homens? Hoje, eles são a única pista que a família de Virgílio Gomes da Silva tem para tentar encontrar seu corpo, desaparecido há 35 anos. Virgílio, operário da indústria química e militante da Aliança de Libertação Nacional (ALN), foi preso pela ditadura militar em setembro de 1969 e nunca mais visto. Nesta quinta-feira (24), o Grupo Tortura Nunca Mais/SP divulgou em São Paulo documentos encontrados no Arquivo do Estado que comprovam o assassinato de Virgílio por tortura nas dependências da Operação Bandeirantes (o DOI CODI-SP), no dia 29 de setembro de 1969. Roberto A Magalhães e Paulo A de Queiroz Rocha são os médicos que assinam o laudo do Instituto Médico Legal, datado de 30 de setembro, que atesta a morte do militante. Gilberto da Cruz e Emílio Máttar trabalhavam na época na Divisão de Identificação Civil e Criminal da Secretaria de Estado dos Negócios da Segurança Pública, sendo que o delegado Máttar era o diretor do órgão, que identificou o cadáver desconhecido como sendo o do preso político.
Os documentos divulgados nesta quinta foram encontrados no meio de 180 mil pastas pelo jornalista e escritor Mário Magalhães, durante pesquisas que realizava para o livro que está escrevendo sobre a vida de Carlos Marighella e da ALN. As informações até hoje secretas sobre o destino de Virgílio Gomes da Silva estavam “perdidas” no meio de dossiês que tratavam da atuação dos freis dominicanos durante a ditadura. Sobre tais papéis, um aviso manuscrito com a frase “Os símbolos 30-Z-160-4820, 4821, 4819 e 4918 não podem ser informados”. Na opinião da família, esta é uma prova de que houve uma ordem para o desaparecimento do corpo e o não comunicado da morte de Virgílio aos familiares.
Com o codinome de Jonas, Virgílio foi uma das lideranças na luta contra a ditadura militar no Brasil. Uma de suas ações foi o sequestro do embaixador americano Charles Burke Elbrick, posteriormente trocado por 15 presos políticos, entre eles o Ministro Chefe da Casa Civil, José Dirceu. Preso pouco tempo depois do sequestro, Virgílio foi o primeiro brasileiro dado como desaparecido no processo da ditadura. Esta foi a versão oficial dada pelo Estado. Em 1995, Ilda Martins da Silva, sua esposa, recebeu o atestado de óbito do marido, por morte presumida por desaparecimento. Mas os papéis que comprovavam a morte do preso político existem há 35 anos – e sempre estiveram sob poder do Estado. A descoberta desses documentos vira de ponta cabeça a história oficial contada pelo país sobre o destino de seus desaparecidos políticos.
“Desde que meu pai morreu existe um laudo e nós só ficamos sabendo disso agora. Para mim, ele morreu esta semana, por isso estamos de luto. Minha avó morreu sem saber o destino do meu pai”, disse emocionado Vladimir da Silva, filho mais velho de Virgílio. “Estes documentos me enchem de esperança. Da mesma forma que eles apareceram por acaso, os de outros companheiros podem estar lá. Há uma urgência em se estudar este arquivo. Ao mesmo tempo, já que tudo foi registrado, queremos saber de quem partiu a ordem de ocultar o corpo do meu pai. Queremos rever este atestado de morte presumida. Estamos aqui não para pedir uma indenização, mas o reestabelecimento de uma verdade histórica. Não tenho esperança de que estas pessoas que são citadas nos laudos venham a público fazer este reconhecimento. Nunca vieram. Minha esperança é na Justiça”, explica Vladimir.
20/10/2005 - 14h01m
Aprovada anistia para militante da ALN assassinado
Evandro Éboli - O Globo
BRASÍLIA - Numa sessão histórica e marcada pela emoção, a Comissão de Anistia do Ministério da Justiça aprovou nesta quarta-feira a concessão de anistia post-mortem para o ex-guerrilheiro da Ação Libertadora Nacional (ALN) Virgílio Gomes da Silva, morto pela ditadura em setembro de 1969, e também para sua esposa, a viúva Ilda Martins da Silva, que foi presa e torturada. A comissão aprovou também anistia para dois filhos do casal, Vladimir e Isabel Maria Gomes da Silva. Os dois, quando crianças, foram parar na prisão acompanhando a mãe e foram ameaçados por agentes da ditadura de serem entregues para adoção. Foi aprovada ainda o pagamento de indenização, em prestação única, de R$ 100 mil para cada um dos processos, valor máximo desse tipo de reparação.
A sessão foi acompanhada por Ilda e pelos seus quatro filhos, Vladimir, Virgílio, Gregório e Maria Isabel. A família chorou emocionada, várias vezes, durante as duas horas e meia de duração do julgamento dos quatro casos. No combate à ditadura, Virgílio usou a codinome "Jonas" e coordenou o sequestro do embaixador americano Charles Elbrick, trocado por 15 companheiros comunistas que estavam presos, entre eles o ex-ministro da Casa Civil e deputado José Dirceu (PT-SP).
Com a morte de Jonas, em 29 de setembro de 1969, Ilda, depois de passar um tempo na cadeia, sem condições de cuidar dos filhos e perseguida pelos militares, exilou-se em Cuba. Ilda recebia uma ajuda de custo do governo cubano. Os quatro filhos estudaram na ilha e todos se formaram e fizeram curso superior. Três deles casaram-se com cubanas. A família começou a retornar ao Brasil somente a partir dos anos 90, até a caçula Isabel Maria tirar o diploma em geologia.
Jonas foi filiado ao PCB nos anos 50 e virou líder sindical, da categoria dos químicos, em São Paulo. Foi no movimento sindical que conheceu Ilda, funcionária de uma indústria do setor e envolvida na política. Fundou a ALN ao lado de Carlos Marighela. Foi preso várias vezes, torturado e morto em 29 de setembro de 1969. O regime militar divulgou que ele havia fugido da prisão e prevaleceu durante muito tempo a versão de que ele estava foragido. Somente no ano passado, com o aparecimento de um laudo do Instituto Médico Legal (IML), descobriu-se que Jonas morreu numa das vezes que foi preso. Até hoje sua ossada não foi localizada.
Ilda ficou dez meses presa. Foi detida pela Operação Bandeirantes, a Oban. Incomunicável, não viu os filhos nesse período. Os filhos seguiram para uma instituição de menores. Durante os 25 dias que tiveram nesse local, eles dormiam sempre juntos e unidos por um cordão. Caso tentassem retirar algum deles, os outros perceberiam e acordariam. Ilda fez um agradecimento ao governo cubano e comemorou a decisão da comissão.
- Agradeço muito a Cuba que permitiu que continuasse a viver e educasse meus filhos. Espero que os brasileiros nunca esqueçam a luta do Virgílio. Ele deu a vida para muitas das pessoas que hoje estão no poder. Ajudou a tirar muitos deles da cadeia - disse, emocionada, Ilda Martins da Silva.
Aprovada anistia para militante da ALN assassinado
Evandro Éboli - O Globo
BRASÍLIA - Numa sessão histórica e marcada pela emoção, a Comissão de Anistia do Ministério da Justiça aprovou nesta quarta-feira a concessão de anistia post-mortem para o ex-guerrilheiro da Ação Libertadora Nacional (ALN) Virgílio Gomes da Silva, morto pela ditadura em setembro de 1969, e também para sua esposa, a viúva Ilda Martins da Silva, que foi presa e torturada. A comissão aprovou também anistia para dois filhos do casal, Vladimir e Isabel Maria Gomes da Silva. Os dois, quando crianças, foram parar na prisão acompanhando a mãe e foram ameaçados por agentes da ditadura de serem entregues para adoção. Foi aprovada ainda o pagamento de indenização, em prestação única, de R$ 100 mil para cada um dos processos, valor máximo desse tipo de reparação.
A sessão foi acompanhada por Ilda e pelos seus quatro filhos, Vladimir, Virgílio, Gregório e Maria Isabel. A família chorou emocionada, várias vezes, durante as duas horas e meia de duração do julgamento dos quatro casos. No combate à ditadura, Virgílio usou a codinome "Jonas" e coordenou o sequestro do embaixador americano Charles Elbrick, trocado por 15 companheiros comunistas que estavam presos, entre eles o ex-ministro da Casa Civil e deputado José Dirceu (PT-SP).
Com a morte de Jonas, em 29 de setembro de 1969, Ilda, depois de passar um tempo na cadeia, sem condições de cuidar dos filhos e perseguida pelos militares, exilou-se em Cuba. Ilda recebia uma ajuda de custo do governo cubano. Os quatro filhos estudaram na ilha e todos se formaram e fizeram curso superior. Três deles casaram-se com cubanas. A família começou a retornar ao Brasil somente a partir dos anos 90, até a caçula Isabel Maria tirar o diploma em geologia.
Jonas foi filiado ao PCB nos anos 50 e virou líder sindical, da categoria dos químicos, em São Paulo. Foi no movimento sindical que conheceu Ilda, funcionária de uma indústria do setor e envolvida na política. Fundou a ALN ao lado de Carlos Marighela. Foi preso várias vezes, torturado e morto em 29 de setembro de 1969. O regime militar divulgou que ele havia fugido da prisão e prevaleceu durante muito tempo a versão de que ele estava foragido. Somente no ano passado, com o aparecimento de um laudo do Instituto Médico Legal (IML), descobriu-se que Jonas morreu numa das vezes que foi preso. Até hoje sua ossada não foi localizada.
Ilda ficou dez meses presa. Foi detida pela Operação Bandeirantes, a Oban. Incomunicável, não viu os filhos nesse período. Os filhos seguiram para uma instituição de menores. Durante os 25 dias que tiveram nesse local, eles dormiam sempre juntos e unidos por um cordão. Caso tentassem retirar algum deles, os outros perceberiam e acordariam. Ilda fez um agradecimento ao governo cubano e comemorou a decisão da comissão.
- Agradeço muito a Cuba que permitiu que continuasse a viver e educasse meus filhos. Espero que os brasileiros nunca esqueçam a luta do Virgílio. Ele deu a vida para muitas das pessoas que hoje estão no poder. Ajudou a tirar muitos deles da cadeia - disse, emocionada, Ilda Martins da Silva.
NOSSOS GRITOS
ResponderExcluirCarlos Silva
Os sonhos tangidos ao longe, tingidos de outras cores rubras, em secretos locais escuros tapando a visão e calando a boca que gritou e fe-la ouvi por outros ouvidos que também aprenderam o valor do grito.
A chama que chama, inflama e clama por um justiça deposta em quartos escuros, onde a baioneta servia de forma opressora, e os bicos dos coturnos encontraram rostos, estomagos, pernas e costas, numa "maltratança" desumana e fria.
E O GRITO?
O grito se fez forte, atravessou paredes, concretos de muros e balançou estruturas onde ostentavam os botões dourados e seus verdes caps perderam a sua "MANDANÇA" autoritária.
Eles sim, o grito deles calaram e o povo eclodiu, foi reparido, arrebentou a placenta, ressurge feito fenix, em meio a tantas cinzas de maus tratos vividos.
Quanto sangue engolido em soluços mudos agora era representado por quem não desistiu dos mesmos ideais e tantos sonhos.
Tantos gritos ecoados em verde, amarelo azul e (NÃO MAIS) branco, todavia, tingidos de vermelho enfileirados em trincheiras, agonizantes mas não recuantes da lida que o fez para sempre BRASILEIRO.