Mortos e Desaparecidos Políticos

1964
ALBERTINO JOSÉ DE OLIVEIRA
Presidente das Ligas Camponesas de Vitória de Santo Antão, em Pernambuco.
Desapareceu após o golpe militar de 64. Logo depois seu corpo foi encontrado em estado
de putrefação, nas matas do Engenho São José.
Em nota oficial da Secretaria de Segurança Pública de Pernambuco, foi dado a
conhecimento público que Albertino havia se suicidado por envenenamento, não havendo
qualquer indício que pudesse comprovar tal fato.


ALFEU DE ALCÂNTARA MONTEIRO
Coronel Aviador.
Fuzilado, no dia 4 de abril de 1964, na Base Aérea de Canoas, Rio Grande do Sul.
A perícia médica constatou que foi assassinado pelas costas por uma rajada de
metralhadora, tendo sido encontrados 16 projéteis em seu corpo.
Com base nessa perícia e nos depoimentos de vários oficiais que presenciaram o assassinato, a
família moveu um processo incriminando o principal responsável e autor dos disparos, o então Cel.
Roberto Hipólito da Costa que, apesar das inúmeras evidências, foi absolvido.


ARI DE OLIVEIRA MENDES CUNHA
Morto, em 01 de abril de 1964, em escaramuças de rua, quando populares tentavam
se opor ao golpe militar, no Rio de Janeiro, próximo ao Largo do CACO, na Faculdade
Nacional de Direito (UFRJ). Foram cercados pelo CCC que atirou bombas e metralhou o
prédio. Dois populares que se encontravam nas proximidades foram baleados.
Ari foi levado ao Hospital Souza Aguiar, onde veio a falecer. Seu corpo deu entrada
no IML/RJ em 02 de abril de 1964, com a Guia n° 137.


ASTROGILDO PASCOAL VIANNA
DIRIGENTE PARTIDO COMUNISTA BRASILEIRO (PCB)
Portuário de Manaus e tesoureiro da Federação Nacional dos Estivadores.
Torturado e morto pelos agentes de segurança do Rio de Janeiro, segundo denúncia
do livro “Torturas e Torturados”, de Márcio Moreira Alves.
A versão oficial divulgada pelos órgãos de segurança no dia 14 de abril de 1964,
indicou suicídio.
O corpo de Astrogildo entrou no IML/RJ em 08 de abril de 1964 com a Guia n° 69,
da 21ª D.P., que dava como causa mortis “queda”.


BERNARDINO SARAIVA
2º Sargento, servindo no 19º RI de São Leopoldo, Rio Grande do Sul.
Assassinado em 14 de abril de 1964, segundo denúncia do livro “Torturas e
Torturados”, de Márcio Moreira Alves.
A versão oficial indicou suicídio com um tiro no crânio, após Bernardino ter ferido 4
militares que procuravam prendê-lo.


CARLOS SCHIRMER
MILITANTE DO PARTIDO COMUNISTA DO BRASILEIRO (PCB).
Filho de Leopoldo Schirmer e de Maria Benedita da Costa Schirmer nasceu em A1ém
Paraíba, Minas Gerais, no dia 30 de março de 1896.
Seu pai era austríaco, nascido em Viena, e veio para o Brasil a convite do Imperador
D. Pedro II, como engenheiro, para trabalhar na construção da primeira estrada de ferro
brasileira – a Estrada de Ferro Baturité.
Parte de sua infância e adolescência, viveu no interior de São Paulo, onde seu pai
possuía uma fazenda de café. Terminado o Ciclo do Café, a família perdeu todos os bens
que possuía, transferindo-se para o Rio de Janeiro.
Pouco tempo depois, seu pai faleceu na cidade mineira de Paracatu, trabalhando na
construção de outra estrada de ferro.
No Rio de Janeiro trabalhou na Casa Mayrink Veiga: de dia era eletricista e à noite,
ascensorista. Como técnico em eletricidade, especializou-se na montagem de usinas
hidrelétricas. Algumas das quais funcionam até hoje – Usina de Cajuru, do Camarão, em
Itapecerica, outra em Teófilo Otoni. A maioria delas foi encampada pela Companhia
Energética de Minas Gerais - CEMIG.
Por volta de 1920, ainda solteiro, filiou-se ao Partido Comunista Brasileiro - PCB,
permanecendo fiel ao Partido e a sua ideologia até a morte.
Mudou-se, em 1921, para Divinópolis onde viveu até 1° de maio de 1964, quando foi
preso pelas forças da repressão.
Casou-se em 1928, em primeiras núpcias, com Maria de Lourdes Guimarães com
quem teve um filho – Luiz Carlos, em homenagem a Luis Carlos Prestes.
Sua esposa faleceu em 1932, casando-se novamente em 1933, com Mariana de
Carvalho Schirmer, com quem teve uma filha – Sílvia Schirmer.
Homem correto, íntegro, fino, educado e de gênio forte, amava, sobretudo, a família,
as crianças e os animais.
Muito sensível, apreciava música clássica, valsas vienenses e música brasileira.
Gostava muito de cantar.
Por sua militância, foi preso no dia 1º de maio de 1964 – Dia do Trabalho – em sua
casa na Rua Serra do Cristal, n° 388, em Divinópolis.
Foi ferido e levado para o Hospital Felício Roxo, em Belo Horizonte, onde faleceu no
mesmo dia, às 21:00 horas.
Sua casa foi devassada e vistoriada pelos policiais que foram prendê-lo. Alegaram
que tinha um arsenal guardado em casa – uma espingarda Flaubert e um facão que usava
para trabalhar no quintal.
A versão oficial indicou suicídio, em 5 de maio de 1964, em Belo Horizonte, para
onde, fora transportado para ser operado, após resistir à prisão e ferir dois policiais.
Conforme denúncia do boletim de março de 1974 da Amnesty International e do livro
“Torturas e Torturados”, de Márcio Moreira Alves, Carlos Schirmer foi torturado até a
morte.


DILERMANO MELLO DO NASCIMENTO
Nasceu em 09 de fevereiro de 1920, natural do Estado da Paraíba, casado com
Natália de Oliveira Nascimento.
Integrante das Forças Expedicionárias Brasileiras (FEB), embarcou para a Itália no
dia 20 de setembro de 1944, participando da Batalha de Monte Castelo, durante a 2ª Guerra
Mundial, retornando ao Brasil em 8 de maio de 1945.
Fez o curso de Economia no Rio de Janeiro e trabalhou na área de pesquisas.
Ex-diretor da Divisão de Material do Ministério da Justiça, preso para responder a um
Inquérito Policial Militar (IPM) presidido pelo Cel. Waldemar Turola. Foi morto num
sábado, dia 15 de agosto, no intervalo do interrogatório a que estava sendo submetido no 4°
andar do próprio prédio do Ministério da Justiça.
O corpo de Dilermano entrou no IML/RJ pela Guia n° 29, da 3ª D.P. O Registro de
Ocorrência n° 2046 informa: “... houve comunicação que às 9:20 horas, um homem havia
se atirado pela janela do 4° andar do Ministério da Justiça, caindo no pátio interno,
morrendo imediatamente. Tratava-se de Dilermano Mello do Nascimento que, desde o dia
12 último, vinha, na sala n° 05, do Serviço de Administração do dito Ministério, prestando
declarações em inquéritos administrativo-policiais, presididos pelo Comandante da
Marinha de Guerra, José de Macedo Corrêa Pinto e pelo Coronel do Exército, Waldemar
Raul Turola. Hoje, quando aguardava prosseguimento do inquérito, Dilermano trancou-se
na dita sala, cuja maçaneta apresentava defeito e, em seguida, projetou-se por uma janela.
Com o morto, dentre outros pertences, havia um bilhete em que se lê: ‘15/08/64. Basta de
tortura mental e desmoralização’, com assinatura ilegível”.
O exame necroscópico de Dilermano feito no IML/RJ, foi firmado pelos Drs. Cyríaco
Bernardino Pereira de Almeida Brandão e Mário Martins Rodrigues e confirma que houve
suicídio, dando como causa mortis esmagamento do crâneo.
O corpo de Dilermano foi retirado do IML por seu irmão, Paulo Mello do
Nascimento, em 15 de agosto de 1964, sendo sepultado por sua família no Cemitério São
João Batista.
A viúva, D. Natália de Oliveira Nascimento, colocou em dúvida a versão policial
(Diário de Notícias - RJ 11/11/64). Segundo ela, até mesmo o bilhete seria falsificado.
O laudo pericial concluiu, por exclusão de provas, que ele foi induzido a saltar da
janela do 4° andar, após longo interrogatório, dirigido pelo Capitão de Mar e Guerra
Correia Pinto. O laudo, elaborado pelo perito Cosme Sá Antunes, revelou que não houve
nenhum elemento que pudesse fundamentar o suicídio. Nem mesmo foram encontradas as
marcas no parapeito da janela, de onde saltou a vítima, o que não ocorre em casos de
suicídio puro e simples.
Jorge Thadeu Melo do Nascimento, filho de Dilermano, em 03 de janeiro de 1995,
prestou depoimento ao GTNM/RJ, declarando que, no dia 14 de agosto de 1964, às 20
horas, quando tinha 15 anos de idade, dois militares à paisana foram a sua casa,
convidando-o para visitar seu pai que se encontrava preso desde o dia 12 de agosto.
Ao chegar lá, o Capitão de Mar e Guerra Correia Pinto o obrigou a sentar e não o
deixou ver seu pai, ameaçando-o: “Se seu pai não confessar, não sairá vivo daqui.” e “Se
ele não confessar, quem vai pagar por tudo é a família.”
Essas ameaças – ao que lhe pareceu – foram dirigidas a seu pai, que deveria estar
ouvindo e sabendo da presença do filho. No dia seguinte, 15 de agosto de 1964, às 9:30 h
da manhã, soube que seu pai estava morto.




EDU BARRETO LEITE
3º Sargento do Exército.
Na madrugada de 13 de abril de 1964, Edu Barreto Leite deu entrada no Hospital
Souza Aguiar, no Rio de Janeiro, com várias fraturas e escoriações. Os policiais que o
escoltavam alegavam que tais ferimentos eram em conseqüência de uma queda do 8º andar
do prédio em que morava, quando de sua tentativa de fuga ao resistir à prisão, que o teriam
levado à morte.
Seu corpo entrou no IML/RJ com a Guia n° 154 do Hospital Souza Aguiar, sendo
posteriormente retirado e enterrado por sua família.


IVAN ROCHA AGUIAR
Estudante secundarista. Morto a tiros em manifestação de rua contra o golpe militar,
em 1° de abril de 1964, em Recife, Pernambuco, conforme denúncia do livro “O caso eu
conto como o caso foi”, de Paulo Cavalcanti.


JONAS JOSÉ ALBUQUERQUE BARROS
Estudante secundarista. Morto a tiros em manifestação de rua contra o golpe militar,
em 1° de abril de 1964, em Recife, Pernambuco, conforme denúncia do livro “O caso eu
conto como o caso foi”, de Paulo Cavalcanti.
JOSÉ DE SOUZA
Mecânico e ferroviário, era membro do Sindicato dos Ferroviários do Rio de Janeiro.
Preso no dia 8 de abril de 1964, para averiguações sobre suas atividades no Sindicato.
No dia 17 de abril, às 5:00 horas, após intensos interrogatórios, foi divulgada nota oficial,
onde dizia que José havia se suicidado, atirando-se pela janela do 3° andar do prédio da
Polícia Central do Rio de Janeiro.
O corpo de José entrou no IML no mesmo dia de sua morte, com a Guia n° 30, da 5ª
D.P. com a seguinte informação: “atirou-se da janela da sala do Serviço de Atividades
Anti-Democráticas do DOPS.” (sic)
A necrópsia foi feita pelos Drs. Vicente Fernandes Lopes e Elias Freitas que
confirmaram a versão de suicídio, com esmagamento do crâneo. Seu corpo foi retirado por
seu primo, Edson Campos, sendo enterrado pela família, em 18 de abril de 1964.
LABIB ELIAS ABDUCH
Morto a tiros, em 01 de abril de 1964 pelo CCC, no Largo do CACO, ao lado da
Faculdade Nacional de Direito da UFRJ, onde estavam concentrados cerca de 800
estudantes.
Foi levado para o Hospital Souza Aguiar, onde morreu. Seu corpo entrou no IML no
dia 02 de abril de 1964, com a Guia n° 38, de onde foi retirado e sepultado pela família.
MANUEL ALVES DE OLIVEIRA
2° Sargento do Exército.
Conforme denúncia do livro “Torturas e Torturados”, de Márcio Moreira Alves,
Manuel foi preso no Regimento Andrade Neves, onde respondia a um Iinquérito Policial
Militar, em abril de 1964. Posteriormente foi removido para o Hospital Central do Exército (HCE) do Rio de Janeiro. Faleceu em 8 maio, em circunstâncias não esclarecidas. O laudo
necroscópico feito no IML/RJ confirmou que seu corpo deu entrada no dia 08 de maio de
1964, procedente do Hospital Central do Exército (HCE).
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1965

1965
SEVERINO ELIAS DE MELO
Militância política desconhecida.
Comerciante, casado, morto aos 52 anos.
Preso para averiguações por oficiais da Aeronáutica, todos à paisana e portando
metralhadoras, foi conduzido para a Base Aérea do Galeão. Lá permaneceu incomunicável
por um dia, ao fim do qual foi dado como morto, por suicídio.
Segundo nota oficial divulgada pelos órgãos de segurança, Elias teria se enforcado
com um lençol, no dia 30 de julho de 1965.
Registro de ocorrência de n° 1122, da 37ª D.P., de 30 de julho de 1965, confirma
comunicação da Base Aérea do Galeão e informa que “... cerca de zero hora de hoje, o
indivíduo Severino Elias de Melo, de qualificação ignorada, preso para averiguações por
ordem do encarregado de um Inquérito Policial Militar (IPM) instaurado no Núcleo do
Parque de Material Bélico, suicidou-se (enforcou-se) no xadrez da Base Aérea do Galeão.”
(sic)
Seu óbito de n° 29.474 teve como declarante Dalton Pereira de Souza e foi firmado
pelo Dr. Cyríaco B. de Almeida Brandão.
O corpo de Severino foi retirado por sua família, que o enterrou no Cemitério da
Cacuia, na Ilha do Governador (RJ).


1966

1966
JOSÉ SABINO
Militância política desconhecida.
O corpo de José Sabino entrou no IML/RJ, em 19 de maio de 1966 (data de sua
morte), pela Guia n° 03, do Hospital Paulino Werneck, após ter sido ferido à bala em
manifestação de rua no Rio de Janeiro, reprimida pela polícia.
MANOEL RAIMUNDO SOARES
Militante do MOVIMENTO REVOLUCIONÁRIO 26 DE MARÇO (MR-26).
Nasceu a 15 de março de 1936, em Belém do Pará, filho de Etelvina Soares dos
Santos.
Morreu aos 30 anos.
Cursou o primário no Grupo Escolar Paulino de Brito e depois foi para o Instituto
Lauro Sodré, onde fez o curso de aprendizagem industrial, estudando e trabalhando numa
oficina mecânica. Aos 17 anos foi para o Rio de Janeiro. Em 1955, ingressou no Exército.
Era um estudioso e amante da música erudita. Em 25 de agosto de 1963 foi transferido do
Rio de Janeiro para Mato Grosso como represália a sua participação na vida social do País
e, em abril de 1964 teve sua prisão decretada. Foi viver na clandestinidade.
Preso, no dia 11 de março de 1966, em frente ao Auditório Araújo Viana, em Porto
Alegre, por dois militares à paisana: sargento Carlos Otto Bock e Nilton Aguiadas, da 6ª
Companhia da Polícia do Exército (PE), por ordem do Comandante dessa guarnição,
Capitão Darci Gomes Prange. Foi conduzido em um táxi à PE, onde foi submetido a
torturas pelo Tenente Glênio Carvalho Sousa. Destacaram-se também no espancamento o
1º Tenente Nunes e o 2º Sargento Pedroso. Mais tarde, os mesmos militares o entregaram
ao DOPS, com a recomendação de que só poderia ser solto por ordem do Major Renato, da
PE.
No DOPS, Manoel foi torturado pelos Delegados Itamar Fernandes de Souza e José
Morsch, entre outros.
No dia 24 de agosto de 1966, seu corpo foi encontrado boiando no Rio Jacuí.
Segundo depoimentos das testemunhas ouvidas no inquérito instaurado para
esclarecimento da prisão, tortura e morte do Sargento Manoel Raimundo, sua via crucis
pelos órgãos de repressão foi a seguinte: até o dia 19 de março, esteve detido no DOPS; em
seguida, foi transferido para a ilha-presídio existente no Rio Guaíba; em 13 de agosto foi
recambiado para o DOPS e, em 24 de agosto, foi encontrado boiando no Rio Jacuí.
Seu corpo, em estado de putrefação, tinha as mãos e os pés amarrados às costas,
apresentando sinais diversos das sevícias sofridas durante o período em que esteve preso.
No inquérito aberto, várias testemunhas contradisseram a nota oficial divulgada à
época, que dava conta da soltura de Manoel Raimundo no dia 13 de agosto. O estudante de
agronomia Luis Renato Pires de Almeida, preso na mesma época, afirmou que Manoel
Raimundo estava em uma das celas do DOPS gaúcho na noite de 13 de agosto e nos dias dos depoimentos que prestou’ ”.


1967

1967
MILTON PALMEIRA DE CASTRO
Militante do MOVIMENTO NACIONALISTA REVOLUCIONÁRIO (MNR)
Operário metalúrgico, preso juntamente com vários companheiros, na Serra do
Caparaó, quando da repressão ao movimento guerrilheiro que ali se iniciava. Naquela
ocasião todos os presos foram levados para um quartel do Exército em Juiz de Fora, MG.
Companheiros de Milton, presos na mesma época, afirmam que ele teria sido morto
em conseqüência de uma discussão com o Major Half, o qual assumiu, logo após o seu
assassinato, o comando do 10º RI de Juiz de Fora. Após a discussão, Milton foi recolhido a
uma cela isolada. No dia seguinte, 12 de abril de 1967, apareceu morto nesta mesma cela.
Segundo a versão oficial, Milton teria se suicidado por enforcamento, o que foi
desmentido pelos depoimentos dos próprios soldados do Quartel, que diziam que seu corpo
sangrava abundantemente ao ser retirado da cela, anulando a hipótese do enforcamento.
A necrópsia, feita no Hospital Geral de Juiz de Fora, em 28 de abril de 1967, pelos
Drs. Nelson Fernandes de Oliveira e Marcus Antonio Nagem Assad, descreve algumas
equimoses em sua pernas, principalmente nos joelhos, mas confirma a versão oficial da
repressão de suicídio (enforcamento).
A certidão de óbito dá sua morte no mesmo dia 28, por enforcamento, na
Penitenciária de Juiz de Fora e é assinada pelo Dr. J. Guadalupe (que não havia feito a
necrópsia). Milton foi enterrado pela família no Cemitério de Santa Maria, Rio Grande do
Sul.
1968
BENEDITO FRAZÃO DUTRA
No dossiê anterior aparecia com o nome de João Frazão Dutra.
Funcionário do INPS, no Rio de Janeiro e também estudante.
Morto aos 20 anos de idade no Rio de Janeiro em 28 de março de 1968, quando
policiais militares invadiram o Restaurante Calabouço, matando o estudante Edson Luiz de
Lima Souto.
Benedito foi ferido a tiros, sendo levado para o Hospital Souza Aguiar, onde veio a
falecer, segundo registro de ocorrência n° 917 da 3ª D.P..
Há também a denúncia de sua morte feita pelo Deputado Raul Brunini, constante do
Diário do Congresso do dia 29 de março de 1968.
CLÓVIS DIAS AMORIM
Servente da Companhia Antarctica Paulista, no Rio de Janeiro.
Morto aos 22 anos de idade, em 23 de outubro de 1968, após ser baleado numa
passeata na Av. 28 de Setembro, no Bairro de Vila Isabel.
Ao que tudo indica, Clóvis não fazia parte da passeata, tendo sido morto pelas armas
dos policiais que tentavam dispersar os manifestantes desarmados.
Clóvis deu entrada no Hospital Pedro Ernesto, já sem vida. Seu corpo foi
encaminhado ao IML pela Guia n° 76, da 20ª D.P.
A necrópsia foi realizada em 24 de outubro de 1968, foi firmada pelos Drs. Ivan
Nogueira Bastos e Nelson Caparelli.
O corpo foi retirado por seu pai, José Leite de Amorim, sendo enterrado pela família
no Cemitério do Mundú.
DAVID DE SOUZA MEIRA
Escriturário, funcionário da Cia. de Navegação Costeira, no Rio de Janeiro.
Morto a tiros, aos 24 anos, quando da repressão à manifestação realizada no dia 1º de
abril de 1968, na rua Nilo Peçanha, no chamado Dia Nacional de Protesto.
O corpo de David foi encaminhado para o IML/RJ, com a Guia n° 1572 do Hospital
Souza Aguiar.
O exame necroscópico foi realizado em 02 de abril de 1968 e firmado pelos Drs.
Nelson Caparelli e Ivan Nogueira Bastos.
A certidão de óbito teve como declarante Nelson Gonçalves Chaves e informa que foi
retirado por sua mãe, Alzira Novaes Meira, sendo enterrado pela família no Cemitério de
Inhaúma (RJ).
EDSON LUIZ DE LIMA SOUTO
Nasceu em 24 de fevereiro de 1950, em Belém, no Pará, filho de Maria de Belém de
Lima Souto.
De família muito pobre, começou seus estudos primários na Escola Estadual Augusto
Meira, em sua cidade natal. Mudou-se para o Rio de Janeiro e prosseguiu seus estudos secundários no Instituto Cooperativo de Ensino, que funcionava no Calabouço.
Morto a tiros durante a repressão policial utilizada para desalojar os estudantes que
haviam ocupado o Restaurante Calabouço no dia 28 de março de 1968.
O corpo de Edson, baleado pela Polícia Militar não chegou a ir para o IML. Foi
levado imediatamente por estudantes para a Assembléia Legislativa.
A necrópsia foi feita no próprio local do velório, pelos Drs. Nilo Ramos de Assis e
Ivan Nogueira Bastos, na presença do Secretário de Saúde do Estado. Seu óbito de n°
16.982 teve como declarante o estudante Mário Peixoto de Souza.
O registro de Ocorrência n° 917 da 3ª D.P. informou que, no tiroteio ocorrido no
Restaurante Calabouço, outras seis pessoas ficaram feridas, sendo atendidas no Hospital
Souza Aguiar. Foram elas: Telmo Matos Henriques, Benedito Frazão Dutra (que veio a
falecer, logo depois), Antônio Inácio de Paulo, Walmir Gilberto Bittencourt, Olavo de
Souza Nascimento e Francisco Dias Pinto. Outras três pessoas foram feridas na Praça
Floriano, durante o velório de Edson Luiz, realizado na Assembléia Legislativa, quando
ocorreram violências provocadas por policiais civis e militares: Jouber Valan, João Silva
Costa e Henrique Rego Carnel, também atendidas no Hospital Souza Aguiar.
O corpo de Edson Luiz foi levado por milhares de estudantes em passeata até o
Cemitério São João Batista.
FERNANDO DA SILVA LEMBO
Morto a tiros, pela Polícia Militar do Rio de Janeiro, em 21 de junho de 1968, durante
repressão às manifestações de rua.
Seu corpo entrou no IML/RJ no mesmo dia com a Guia n° 105 do Hospital Miguel
Couto (RJ).
JORGE APRÍGIO DE PAULA
Estudante da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade do Estado da
Guanabara.
Morto no dia 1º de abril de 1968, pela Polícia do Exército, durante repressão a uma
manifestação estudantil. Quando os manifestantes se aproximavam da residência do
Ministro da Guerra, soldados da Polícia do Exército, que protegiam aquele local,
desferiram vários tiros contra a população, atingindo, entre outros, Jorge Aprígio.
O corpo deu entrada no IML em 02 de abril de 1968, com a Guia n° 15 da 18ª D.P.
Foi retirado e sepultado pela família.
JOSÉ CARLOS GUIMARÃES
Nasceu em São Paulo, filho de Alberto Carlos Barreto Guimarães e Magdalena
Topolovisk.
Estudante secundarista do Colégio Marina Cintra, em São Paulo.
Morto aos 20 anos, no dia 3 de outubro de 1968, por membros do chamado CCC e
DEOPS paulista, no conflito entre estudantes da Universidade Mackenzie e da Faculdade
de Filosofia da Universidade de São Paulo, na rua Maria Antônia.
Nesse dia, membros do CCC e do DEOPS deflagraram um conflito entre os
estudantes das duas universidades. José Carlos foi morto, segundo os estudantes que testemunharam o fato, pelo membro do CCC e alcagüete policial de nome Osni Ricardo.
Entre os policiais instigadores do conflito, foram reconhecidos Raul Nogueira de
Lima, vulgo Raul Careca, torturador do DOI/CODI-SP e Otávio Gonçalves Moreira Jr.,
vulgo Otavinho, torturador daquele departamento militar-policial.
José Carlos foi enterrado no Cemitério da Lapa por seus familiares.
LUIS PAULO CRUZ NUNES
Estagiário de Patologia da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Estadual
do Rio de Janeiro.
Morto aos 21 anos de idade, no Rio de Janeiro, em 22 de outubro de 1968, quando foi
atingido por um tiro em manifestação estudantil em frente à Universidade Estadual do Rio
de Janeiro (UERJ). Levado para o Hospital Pedro Ernesto com ferimento no crânio, foi
operado e faleceu no mesmo dia.
A necrópsia foi realizada pelos Drs. João Guilherme Figueiredo e Nelson Caparelli.
Foi retirado pelo tio, Oscar Freire de Sá Siqueira, e sepultado pela família no
Cemitério São Francisco Xavier.
MANOEL RODRIGUES FERREIRA
Estudante universitário e comerciário. Morto aos 18 anos de idade, no Rio de Janeiro,
em 05 de agosto de 1968.
Manoel foi ferido na cabeça por duas balas, em 21 de junho de 1968, ao participar de
passeata estudantil, na Av. Rio Branco, esquina da Rua Sete de Setembro. Foi socorrido no
Hospital Souza Aguiar, onde foi operado. Transferido para a Casa de Saúde Santa Luzia e,
posteriormente, para o Hospital Samaritano, onde veio a falecer no dia 05 de agosto de
1968, após novas cirurgias.
Entrou no IML/RJ pela Guia n° 85, da 10ª D.P..
O óbito de n° 92.932 foi assinado pelo Dr. Rubens Pedro Macuco Janini, tendo como
declarante Francisco de Souza Almeida. Foi enterrado pela família no Cemitério de
Inhaúma (RJ).
MARIA ÂNGELA RIBEIRO
Morta a tiros pela polícia carioca, no dia 21 de junho de 1968, quando da repressão às
manifestações de rua realizadas naquele dia.
ORNALINO CÂNDIDO DA SILVA
Lavador de carros. Morto a tiros pela Polícia Militar durante a repressão às
manifestações de rua realizadas em Goiânia, no dia 1º de abril de 1968.
Ornalino, ao que tudo indica, não participava das manifestações, conforme denúncia
do Deputado Paulo Campos, constante do Diário do Congresso do dia 5 de abril de 1968.
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1969
ANTÔNIO HENRIQUE PEREIRA NETO (PADRE)
Coordenador da Pastoral da Arquidiocese de Olinda e Recife.
Professor e especialista em problemas da juventude, desenvolvia atividades junto ao
Arcebispo Dom Helder Câmara.
Por sua destacada posição, firmemente contrária aos métodos de repressão utilizados
pelo governo, tendo como destaque a missa que celebrou em memória do estudante Edson
Luiz de Lima Souto, Padre Antônio Henrique passou a receber constantes ameaças de
morte por parte do chamado CCC.
No dia 26 de maio, foi seqüestrado, por este mesmo CCC. Seu corpo foi encontrado, no
dia seguinte, em um matagal existente na Cidade Universitária de Recife, pendurado de cabeça
para baixo, em uma árvore, com marcas evidentes de tortura: espancamento, queimaduras de
cigarro, cortes profundos por todo o corpo, castração, e dois ferimentos produzidos por arma de
fogo.
No inquérito aberto no Tribunal de Justiça de Pernambuco, para apurar as circunstâncias
da morte de Padre Henrique, foram acusados como responsáveis pelo seqüestro, tortura e morte
Rogério Matos do Nascimento, delegado Bartolomeu Gibson, investigador de polícia Cícero
Albuquerque, tenente José Ferreira dos Anjos, da Polícia Militar, Pedro Jorge Bezerra Leite,
José Caldas Tavares e Michel Maurice Och.
Entre as testemunhas de acusação, estavam a mãe do Padre Henrique, Sra. Isaias
Pereira, e uma investigadora de polícia, de nome Risoleta Cavalcanti, que acusaram as
pessoas acima mencionadas, não só por este assassinato, mas também, pelo metralhamento
que deixou paralítico, em 1969, o líder estudantil recifense, Cândido Pinto de Melo.
Segundo o Desembargador Agamenon Duarte de Lima, do Tribunal de Justiça de
Pernambuco, “Há provas da participação do CCC no assassinato do Padre Henrique, mas é
possível que também esteja implicado no episódio o Serviço Secreto dos Estados Unidos, a
CIA.”
Do inquérito, resultou o arquivamento. Nenhum dos acusados foi condenado, apesar
dos testemunhos e provas irrefutáveis.
CARLOS MARIGHELLA
Fundador e dirigente nacional da AÇÃO LIBERTADORA NACIONAL
(ALN).
Depoimento de Clara Charf e editores de “Escritos de Carlos Marighela”,
Editorial Livramento, 1979:
“O comandante Carlos Marighella dedicou toda sua vida à causa da
libertação dos povos. Com quarenta anos de militância, iniciada no Partido Comunista Brasileiro (PCB), foi assassinado pela ditadura militar em 1969, aos 57
anos.
Filho de negra e imigrante italiano, Augusto Marighella e Marialva
Nascimento Marighella, nasceu em Salvador, Bahia, a 5 de dezembro de 1911. Ainda
adolescente despertou para as lutas sociais. Aos 18 anos iniciou curso de
Engenharia na Escola Politécnica da Bahia e começou a militar no PCB.
Conheceu a prisão em 1932. Poeta, pagou com a liberdade poema crítico
dedicado ao interventor Juracy Magalhães. A militância levou-o a interromper os
estudos universitários no terceiro ano.
AS TORTURAS
Em 1935 mudou-se para o Rio. Já fazia parte da Comissão Especial do Comitê
Central e era o responsável por todo o trabalho de imprensa e divulgação do
Partido. A 1° de Maio de 1936 era novamente preso. Durante 23 dias enfrentou as
torturas da Polícia Especial de Filinto Müller. Um ano depois foi libertado e mudouse
para São Paulo. Com 26 anos tornava-se membro do Comitê Estadual de São
Paulo.
Sua atividade política, então, se concentrava em torno de dois eixos: a
reorganização dos revolucionários paulistas, duramente atingidos pela repressão e o
combate ao terror imposto pela ditadura de Getúlio.
Em 1939 voltou aos cárceres. Diante das torturas, renovou seu exemplo de
resistência e determinação. O revolucionário, testado diante da violência dos
interrogatórios, foi agora submetido a outro tipo de tortura: o cárcere prolongado, o
isolamento na ilha de Fernando de Noronha. Sua terceira prisão durou seis anos. Mas
não conseguiu abater seu ânimo. Trabalhou duro na educação cultural e política de seus
companheiros de cárcere.
CONSTITUINTE DE 46
Em 1945, conquistada a anistia, voltou à liberdade. Sua capacidade de
organização e liderança e seu prestígio público o elegeram deputado à Assembléia
Nacional Constituinte de 1946. Representando o Estado da Bahia, proferiu em menos
de dois anos 195 discursos, denúncias das condições de vida do povo, da crescente
penetração imperialista no país e em defesa de aspirações operárias.
A legalidade democrática e a liberdade partidária duraram pouco. Em 1948,
cassado, voltou à clandestinidade. Desta vez pelo resto da vida. As restrições de
segurança, no entanto, não o impediram de participar ativamente de todas as lutas
políticas da década de 50: a defesa do monopólio estatal do petróleo, contra o envio
de soldados brasileiros à Coréia, contra a desnacionalização do ensino e de toda a
economia.
Em 1952 passou a integrar a Comissão Executiva do Comitê Central, e, no ano
seguinte, foi enviado à China. Durante mais de um ano estudou a experiência da
Revolução Chinesa.
TEORIA E ROMPIMENTO
No Brasil suas atenções cada vez mais se voltaram para o campo. Em 1958, o
n° 1 da revista ‘Estudos Sociais’ publicou um ensaio de Marighella intitulado
‘Alguns Aspectos da Renda da Terra no Brasil’. Neste trabalho ele deu uma
significativa contribuição ao estudo da questão agrária em nosso País particularmente em relação às culturas do café, cana de açúcar e algodão.
O início da ruptura de Marighella com a ortodoxia do PCB se manifestou a
partir de 1962. Por ocasião da renúncia de Jânio Quadros ele teceu duras críticas à
postura do Partido. O golpe militar de 1964 também é um marco neste
distanciamento. A esquerda de modo geral, e o PCB, principalmente, estavam
completamente despreparados para a resistência.
Marighella aprofundou suas críticas à orientação oficial do Partido. Poucas
semanas após o golpe, no dia 9 de maio, foi localizado num cinema da Tijuca, no Rio, e
preso. Embora baleado, à queima-roupa, repetiu a postura de altivez das prisões
anteriores. Fez de sua defesa um ataque aos crimes da ditadura.
A mobilização política forçou os generais a aceitarem a concessão de um
habeas-corpus que novamente lhe deu a liberdade. O episódio resultou em um
pequeno livro ‘Porque resisti à prisão’. Escrito em 18 capítulos, os 12 primeiros são
um relato minucioso do fato. Os seis últimos, no entanto, são pura lenha na fogueira
da luta interna então em curso dentro do PCB.
Em 1966 escreveu ‘A Crise Brasileira’, uma importante contribuição teórica.
Ali, o dirigente analisou a fundo a sociedade brasileira e denunciou as ilusões do
PCB quanto aos processos eleitorais e sua política de alianças com a burguesia.
Neste documento, ele destaca a importância do trabalho junto aos operários e
camponeses e a necessidade da luta armada popular como caminho para a
derrubada da ditadura e para a instalação de um Governo Popular Revolucionário.
Marighella caminhava rapidamente para uma ruptura definitiva com a direção
do PCB. Em dezembro do mesmo ano apresentou sua carta-renúncia à Comissão
Executiva do PCB, mas permaneceu à frente do Comitê Estadual de São Paulo.
Em outros documentos, de meados de 1967 (‘Crítica às Teses do Comitê
Central’ e ‘Ecletismo e Marxismo’) o dirigente contrapôs-se ao conjunto de teses
baixado pela direção partidária em preparação ao VI Congresso.
EM HAVANA
Seu passo seguinte, em aberta desobediência à direção do PCB, resultou em
rompimento definitivo com o Partido. Em agosto de 1967, os comunistas cubanos
promoveram em Havana a 1ª Conferência da Organização Latino-Americana de
Solidariedade (OLAS). Ao lado de revolucionários de todo o continente, entre eles
Chê Guevara, Marighella empunha a bandeira da luta armada como caminho da
libertação dos povos da América Latina.
Expulso do PCB, ainda em Cuba, publicou ‘Algumas Questões sobre a
Guerrilha no Brasil’ onde declara sua adesão às teses da OLAS, mas rebate a teoria
do ‘foco guerrilheiro’ amplamente difundida entre os revolucionários latinoamericanos.
Para ele a luta armada no Brasil tomaria necessariamente contornos
próprios.
A rebeldia de Marighella repercutiu profundamente dentro do PCB. Dos 37
delegados, escolhidos como representantes das bases do PCB em São Paulo à
Conferência Estadual realizada em maio de 1967, em Campinas, nada menos de 33
se alinharam às teses defendidas por ele. A maior parte das bases operárias e o setor
estudantil do Partido romperam com o Comitê Central e se aproximaram de
Marighella, enquanto em outros estados outras dissidências se processaram.SURGIMENTO DA ALN
Em fevereiro de 1968, em documento intitulado ‘Pronunciamento do
Agrupamento Comunista de São Paulo’, Marighella expôs os motivos do rompimento
com o PCB e anunciou o surgimento de uma organização disposta a dar início
imediatamente às ações políticas armadas. A organização foi batizada de ALN –
Ação Libertadora Nacional – com a intenção de resgatar o espírito revolucionário
da ANL – Aliança Nacional Libertadora – responsável pela Insurreição Armada de
novembro de 1935, comandada por Luís Carlos Prestes. Com sua presença pessoal,
e sob seu comando e de Joaquim Câmara Ferreira a ALN deflagrou, já em 1968, as
primeiras operações de guerrilha urbana no Brasil.
A resistência armada à ditadura, que teve em Marighella uma de suas mais
importantes lideranças, rapidamente se espraiou por todo o País. Jovens e velhos
militantes abraçaram com entusiasmo esse exemplo de rebeldia. Os revolucionários
brasileiros, naquele final de década, irmanavam-se ao espírito de rebelião que
incendiava toda a América Latina e alimentava as lutas de libertação anticolonialistas na
Indochina e na África.
Ameaçados pelo potencial de explosão dos problemas sociais brasileiros, os
generais fascistas revelaram novamente suas garras reagindo com o terror e a
tortura. Na noite de 4 de novembro de 1969, Carlos Marighella foi surpreendido por
uma emboscada na Alameda Casa Branca, em São Paulo.
A EMBOSCADA
Marighella estava sozinho. Sequer teve tempo de empunhar a arma que trazia
dentro da pasta. A fuzilaria desferida pelos policiais comandados pelo delegado
Sérgio Paranhos Fleury fez duas outras vítimas fatais: o dentista Friederich Adolph
Rohmann e a própria agente policial Stela Borges Morato.
O “violento tiroteio” referido na nota oficial que comunicou sua morte não
passou de uma desordenada troca de tiros entre os próprios policiais.
O laudo da necrópsia foi assinado pelo médico legista Harry Shibata, do
IML/SP. Também participaram do assassinato de Marighella os delegados Raul
Ferreira, Rubens Tucunduva, Ivahir de Freitas Garcia (ex-deputado), Edsel
Magnotti, Firminiano Pacheco, Roberto Guimarães e um último conhecido pelo
nome de Rosseti. Enterrado como indigente no cemitério da Vila Formosa, em São
Paulo, seus restos mortais foram trasladados para a Bahia em 1980.
HERANÇA
A morte de Marighella, no entanto, não significou o fim da ALN. Câmara
Ferreira e outros companheiros levariam a ALN adiante. Do revolucionário baiano
ficaram as idéias e o testemunho de uma vida dedicada inteiramente à luta pela
libertação nacional e pela causa do socialismo.
Depoimento dos editores de ‘Escritos de Carlos Marighella’, de dezembro de
1979, dez anos após sua morte, apontava a figura deste revolucionário como ainda
‘envolta por paixões que vão do ódio declarado à veneração acrítica’. Só no futuro,
advertem eles, ‘será possível compreender com mais objetividade seu papel, da
mesma forma que, é lícito lembrar, figuras históricas como Tiradentes e Frei Caneca
não foram compreendidas no seu tempo, em sua magnitude exata.”
CARLOS ROBERTO ZANIRATO
Militante da VANGUARDA POPULAR REVOLUCIONÁRIA (VPR). Morto aos 21 anos, era um dos soldados que desertaram do Exército junto com o
Capitão Carlos Lamarca e se aliaram às forças revolucionárias, em 1968.
Preso no dia 23 de junho de 1969 pelo DEOPS paulista, passou logo a ser torturado,
conforme testemunho de vários de seus companheiros presos na época.
Segundo versão policial, no dia 29 de junho, foi conduzido pelos policiais a um
encontro com seus companheiros. O encontro se realizaria no cruzamento das ruas Bresser
com Celso Garcia, em São Paulo. Lá chegando, aproveitou um descuido dos policiais que o
conduziam e jogou-se contra um ônibus em movimento, vindo a morrer em conseqüência
das fraturas sofridas.
O laudo necroscópico de nº 30757 do IML, refere-se a ele como a um desconhecido,
que suicidou-se atirando-se sob um ônibus. Ainda pode se ler no texto: “apresentava um
par de algemas com a corrente partida ficando uma algema em cada pulso, estas foram
serradas retiradas e entregues sob recibo ao sr. Moacir Gallo, guarda civil nº 22548.” Isto
não deixa dúvidas de que o suicida encontrava-se preso, porque então desconhecido na
solicitação de exame necroscópico senão a intenção de ocultar o cadáver?
Assinam o laudo necroscópico os médicos legistas José Manella Netto e Orlando
Brandão, que confirmam a falsa versão oficial.
Foi enterrado como indigente no Cemitério de Vila Formosa/SP.
Os relatórios do Ministérios da Marinha e Aeronáutica, confirmam sua morte
como suicídio, sendo que o da Marinha faz referências, inclusive, de que o mesmo
estava algemado.
CHAEL CHARLES SCHREIER
Militante da VANGUARDA ARMADA REVOLUCIONÁRIA PALMARES (VARPALMARES).
Nasceu em 23 de abril de 1946, na cidade de São Paulo, filho de Ary Schreier e
Emília B. Schreier.
Estudante da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de Misericórdia de São
Paulo e membro da Comissão Executiva da União Estadual de Estudantes de São Paulo. O
AI-5 o obriga à clandestinidade. Liga-se à Dissidência de São Paulo, trabalhando jundo a
bases operárias e participando da redação e distribuição do jornal Luta Operária.
Posteriormente, militou na VAR-Palmares, participando de sua direção regional. Foi preso
no dia 21 de novembro de 1969, na casa em que morava, na Rua Aquidabã, nº 1053, em
Lins de Vasconcelos, Rio de Janeiro, juntamente com Antônio Roberto Espinoza e sua
mulher, Maria Auxiliadora Lara Barcelos. Segundo o testemunho de Espinoza, Maria
Auxiliadora e de alguns soldados que serviam no Quartel da Polícia do Exército (PE), na
Vila Militar do Rio de Janeiro, Chael foi o mais torturado entre os três presos.
A equipe responsável pela prisão era chefiada pelo Comissário Brito e composta pelo
inspetor Vasconcelos e mais 11 policiais dirigidos pelo detetive Antero. Presos, foram
imediatamente levados para o Quartel da PE onde ficaram sob a responsabilidade do
capitão João Luís. Nessa ocasião, Chael não apresentava nenhum ferimento, conforme
declarações dos próprios policiais que o prenderam, transcritas nos jornais cariocas que
circularam no dia seguinte.
Chael foi torturado por uma equipe de oficiais e sub-oficiais comandada pelo tenente
Lauria, segundo denúncia de Espinoza e Maria Auxiliadora na Auditoria Militar, quando
descrevem os chutes e pontapés que levou do Capitão Airton Guimarães, hoje banqueiro do
jogo do bicho, e acusado de fazer parte de grupos de extermínio no Espírito Santo.
De acordo com declarações do diretor-médico do HCE, general de brigada Galeno de
Penha Franco: “Chael deu entrada no hospital já morto”, sendo que “o envio do corpo foi
apenas uma formalidade, uma vez que provinha de uma unidade militar.”
Na certidão de óbito a causa mortis é “contusão abdominal com rupturas do
mesocólon transverso e mesentério, com hemorragia interna.” A necrópsia foi feita no
HCE, em 24 de novembro de 1969, pelos Drs. Oswaldo Caymmi Ferreira, Guilherme
Achilles de Faria Mello e Rubens Pedro Macuco Janini.
Sua família, sem ter recebido qualquer notificação da morte, aguardava a promessa de
uma visita. No dia 25 de novembro foram informados de que ele se encontrava morto, tendo
sido possível comprovar os evidentes sinais de tortura.
Segundo relatório do II Exército datado de 24 de novembro de 1969, arquivado no
DOPS/SP, “Antonio Roberto Espinosa, Maria Auxiliadora de Lara Barcelos e Chael
Charles Schreier, ao serem presos, reagiram violentamente com disparos de revólver,
espingarda e mesmo com bombas caseiras. Da refrega os três terroristas sairam feridos,
sendo Chael o que estava em estado mais grave, foram medicados no HCE, entretanto
Chael sofreu um ataque cardíaco, vindo a falecer.”
O relatório do Ministério do Exército encaminhado ao Ministério da Justiça em 1993,
sequer menciona o nome de Chael.
EREMIAS DELIZOIKOV
Militante da VANGUARDA POPULAR REVOLUCIONÁRIA (VPR).
Nasceu aos 27 de março de 1951, em São Paulo, filho de Jorge Delizoicov e Liubov
Gradinar.
Estudante secundarista, foi assassinado no dia 16 de outubro de 1969, na Rua Tocopi,
59, em Vila Cosmos, Rio de Janeiro, quando reagiu ao cerco montado pelos agentes do
DOI/CODI-RJ que tentavam prendê-lo.
Foi identificado e enterrado como José Araújo Nóbrega – o sargento Nóbrega – que
até hoje se encontra vivo e, à época dos fatos, era também um perseguido político e
militava na VPR.
Os órgãos de repressão, aparentemente, pareciam confusos e não sabiam qual a
verdadeira identidade daquele cadáver. Era pura encenação, para mais uma vez, cometerem
o crime de ocultação de cadáver.
Na verdade, as impressões digitais de Eremias Delizoicov já estavam confirmadas
pelo datiloscopista da Delegacia de Crimes Contra a Pessoa, de São Paulo, no dia 11 de
dezembro de 1969, conforme comunicado n° 76/69 da Secretaria de Segurança Pública. Ou
seja, ao enterrarem aquele cadáver, sabiam que era de Eremias Delizoicov.
O Relatório do Ministério da Aeronáutica diz que foi “morto em 16/outubro/69, em
tiroteio com membros dos Órgãos de Segurança...” e o da Marinha afirma que “...morreu
ao resistir ao cerco da Polícia do Exército, em Vila Cosmos/RJ”.
Texto de Demétrio Delizoicov Neto, irmão de Eremias:
“Eremias viveu toda a sua infância e boa parte da sua curta adolescência na
Moóca. Completou o curso primário, em 1961, no Grupo Escolar Pandiá Calógeras
e o ginasial em 1965, no Colégio Estadual M.M.D.C. Neste mesmo colégio iniciou,
em 1966, o curso clássico. Em 1967 foi aprovado no exame de seleção da Escola Técnica Federal de São Paulo e cursou, simultaneamente com o clássico, o curso de
mecânica.
Sensível e criativo, destinava suas horas de lazer ao esporte e à música.
Tocava violão várias horas por dia. Estudou música clássica e, a partir de 66,
imbuído de um ‘espírito nacionalista’, começou a expressar seus sentimentos
interpretando músicas nacionais, notadamente aquelas enquadradas como ‘Bossa
Nova’.
Tentou, com um colega pianista e outro baterista, formar um trio.
Como esportista, em 1962 disputou o torneio paulista de Judô, tendo tirado a
primeira colocação na sua categoria. Treinou natação durante 65 e 66 e participou
de algumas competições. Em 1967, integrou a equipe de remadores do Corinthians e
começou a treinar capoeira.
Organizava seus horários de tal modo a, paralelamente, auxiliar o pai nas
atividades do comércio.
Iniciou a leitura das obras de Aluísio de Azevedo, Jorge Amado e Graciliano
Ramos. Ficou particularmente sensibilizado com as poesias de Augusto dos Anjos e
passou a questionar a realidade brasileira ao ler Geopolítica da Fome, de Josué de
Castro. Em 1967, no Colégio Estadual M.M.D.C., articulou-se com outros colegas
para formar uma chapa que disputaria as eleições para o grêmio estudantil,
iniciando sua militância política.
Ficou conhecendo detalhes do acordo MEC-USAID e engajou-se no movimento
estudantil contra tal acordo. Passou a interagir com estudantes de outras escolas
secundárias e articularam uma chapa para disputar, em 68, as diretorias da União
Paulista de Estudantes Secundaristas (UPES) e a União Brasileira de Estudantes
Secundaristas (UBES). Organizou, juntamente com o grupo, o movimento estudantil
secundarista nas escolas da zona leste de São Paulo. Eremias, em 1968, passou a
liderar um movimento reivindicatório de alunos no Colégio Estadual M.M.D.C.,
organizando uma greve e comícios. Em virtude disso, foi transferido
compulsoriamente, juntamente com alguns colegas, pela Direção do Colégio
coonestada por alguns professores. Conseguiu matricular-se no Colégio Estadual
Firmino de Proença, terminando o ano. Paralelamente continuou seu curso técnico.
Durante as greves operárias de 68, em Osasco, assistiu a algumas assembléias
sindicais, com outros colegas que levavam o apoio dos estudantes aos operários em
greve. Engajou-se na campanha para obter fundos de greve.
No início de 1969, entrou para a VPR. Simulou uma discordância com os pais
e passou a morar fora de casa, mas visitava-os semanalmente. Confidenciava ao seu
único irmão, um ano mais velho, e, então, estudante universitário, com quem
mantinha uma estreita ligação e com quem discutia posições políticas.
Em meados de julho de 69, os órgãos de repressão já sabiam da sua militância.
Dias antes, Eremias, sabendo do inevitável, reuniu-se com os pais e os pôs a par da
sua real situação. Estes esforçaram-se para uma saída segura: enviá-lo ao exterior,
mas Eremias optou pelo Brasil e pela clandestinidade. Nunca mais o viram, vivo ou
morto.
Seu pai foi detido duas vezes no Q.G. do II Exército para prestar depoimentos.
Os prontuários das escolas onde estudara foram vasculhados. Junto com os demais companheiros, sua foto foi exposta em cartazes de pessoas procuradas pelos órgãos
de repressão.
No início de 1970, meu pai foi convocado ao DOPS em São Paulo pelo
Delegado Sérgio Fleury. Enquanto aguardava na ante-sala daquele policial,
percebeu que Fleury pressionava a mãe de um cidadão procurado, dizendo que
deveria fornecer o paradeiro de seu filho. A certa altura, meu pai, que a tudo ouvia,
pois a porta do delegado estava aberta, ouviu-o dizer algo como ‘É uma questão de
tempo, ou ele é preso ou morto como o filho daquele senhor’, referindo-se a meu pai,
que nesse momento, inteirou-se do falecimento de Eremias. Em seguida, Fleury
explicou-lhe o ocorrido na Vila Cosmos, agregando que Nóbrega estava vivo e havia
sido preso dias antes, e que, portanto, o morto em outubro de 1969 era Eremias.
Fleury descartou qualquer possibilidade de ajuda em relação ao esclarecimento
oficial dos fatos, alegando que se algo pudesse ser feito, seria no Rio de Janeiro,
junto ao I Exército. Dias após a ida de meu pai ao Dops, a imprensa toda noticiaria
que Nóbrega havia sido preso e que a pessoa morta no confronto com o Exército, em
outubro de 1969, era Eremias. Enquanto durou a clandestinidade de Eremias,
principalmente nos meses de junho a agosto de 1969, a casa de meus pais era
constantemente visitada e vigiada por agentes policiais ou militares. Diante do
clima de repressão reinante à época, meu pai entendeu não ser possível iniciar o
esclarecimento dos fatos. Em 1975 ou 1976, meus pais foram ao Rio de Janeiro para
tentar obter mais informações e localizaram uma vizinha da casa onde fora morto.
Segundo a vizinha, a repressão montou um grande aparato, interditando o
quarteirão onde se situavam as casas e pessoas que se diziam militares do Exército
pediam que os moradores das vizinhanças permanecessem quietos em suas casas.
Contra a casa em que morava Eremias foram disparados inúmeros tiros, inclusive de
metralhadora e bombas e, de dentro da casa, partiram também vários tiros. A
vizinha acrescentou que parte do efetivo militar utilizou-se de sua casa para invadir
a casa onde estava Eremias.
Em 1979, após a edição da Lei de Anistia, meus pais iniciaram a tramitação
jurídica para obtenção do atestado de óbito.”
Os companheiros da VPR homenagearam Eremias dando seu nome a um dos campos
de treinamento no Vale do Ribeira.
Seu corpo entrou no IML/RJ pela Guia n° 471, da 27ª D.P., em 17 de outubro de
1969 como desconhecido.
A necrópsia foi feita pelos Drs. Elias Freitas e Hygino de Carvalho Hércules, que
confirmaram sua morte em tiroteio. Esta necrópsia, de 22 páginas, foi enviada ao Tenente-
Coronel Ary Pereira de Carvalho, do I Ex–1ª DI, em 04 de novembro de 1969, em resposta
ao ofício n° 164 IPM, de 21 de outubro de 1969, com o seguinte teor:
“A fim de instruir autos do IPM de que sou encarregado pelo Exmo. Sr. Gen. Syseno Sarmento,
Comandante do I Ex., solicito V. Sa. determinar o atendimento dos seguintes quesitos:
a) termo de necrópsia do cidadão José Araújo de Nóbrega, morto em ação
policial-militar, ocorrida cerca das 11:00 horas do dia 16 do corrente, na Rua
Tocopi, n° 59, Vila Cosmos/GB,
b) comparecimento ao Hospital da Guarnição da Vila Militar de médicos
legistas, a fim de procederem a exames de corpo de delito nos militares: major Enio de Albuquerque Lacerda, Capitão Ailton Guimarães Jorge e Cabo Mário Antônio
Povaleri, feridos na mesma ação...”(sic)
O óbito foi, portanto, passado em nome de José Araújo de Nóbrega, tendo o cadáver
tido um reconhecimento forçado, feito pelo irmão de José Araújo, Francisco Araújo de
Nóbrega, que se encontrava preso à época.
Eremias foi enterrado no Cemitério São Francisco Xavier, em 21 de outubro de 1969,
na cova n° 59.262, quadra 45.
Somente em 1993, a família conseguiu o atestado de óbito de Eremias, além da necrópsia e
certidão de óbito em nome de Nóbrega e 31 fotos de perícia de local (ICE n° 658/69).
O laudo de perícia de local, também encontrado no ICE/RJ é longo, tendo 10 páginas
e descreve o desalinho em que se encontrava a casa onde Eremias foi morto, uma
verdadeira operação de guerra.
Documento da Santa Casa de Misericórdia/RJ afirma que, em 25 de maio de 1975, os
restos mortais de Eremias foram incinerados como era de praxe.
No Arquivo do DOPS/RJ, consta documento do CENIMAR, de n° 0189, de 23 de
julho de 1970, que traz uma relação de militantes do COLINA, VAR-PALMARES e VPR
e sua situação em 15 de junho de 1970, onde há os nomes de José Araújo Nóbrega, como
banido e Eremias Delizoicov, como morto
FERNANDO BORGES DE PAULA FERREIRA
Militante da VANGUARDA ARMADA REVOLUCIONÁRIA PALMARES (VARPALMARES).
Nasceu em São Paulo, filho de Tolstoi de Paula e Célia Borges de Paula Ferreira.
Líder estudantil da Universidade de São Paulo, onde cursava Filosofia.
Assassinado aos 24 anos no dia 30 de julho de 1969, em São Paulo, no Largo da Banana,
por agentes do Departamento de Investigações Criminais - DEIC, que montaram uma
emboscada para prendê-lo. Tal emboscada resultou no assassinato de Fernando e na prisão de
João Domingos da Silva, morto posteriormente sob torturas.
Assinaram o laudo de necrópsia os médicos legistas Pérsio R. Carneiro e Antônio
Valentine.
O corpo foi retirado e sepultado no Cemitério da Paz, pela família.
O episódio do tiroteio no Largo da Banana é descrito no doc. 30-Z-162-37, DOPSSP,
assim como toda a trama para o extermínio dos grupos da ALN e FELA - Frente
Estudantil pela Luta Armada.
O Relatório do Ministério da Marinha confirma a versão acima.
HAMILTON FERNANDO CUNHA
Militante da VANGUARDA POPULAR REVOLUCIONARIA (VPR).
Nasceu em Florianópolis/SC em 1941, filho de Fernando Manoel Cunha e Filomena
M. Rosa.
Fuzilado em 11 de fevereiro de 1969, ao resistir à prisão, quando policiais do DOPS
paulista tentavam prendê-lo em seu local de trabalho, na Gráfica Urupês.
A versão policial da repressão diz que Hamilton teria sido atingido por um companheiro
ao receber voz de prisão, o qual teria fugido sem ser identificado.
Foi enterrado como indigente no Cemitério de Vila Formosa, São Paulo.
JOÃO DOMINGOS DA SILVA
Dirigente da VANGUARDA ARMADA REVOLUCIONARIA PALMARES (VARPALMARES).
Nasceu em Sertanópolis/PR, filho de Antonio José da Silva e Eliza Maria de Jesus.
Morto aos 20 anos em São Paulo.
Operário e um dos líderes das greves realizadas em Osasco (SP) durante o ano de
1968, passou a ser constantemente ameaçado de prisão e morte.
No dia 30 de julho de 1969, estava em companhia de Fernando Borges de Paula
Ferreira, quando foram emboscados no Largo da Banana, em São Paulo, por agentes do
DEIC.
A emboscada resultou no assassinato de Fernando. João Domingos, apesar de ferido
gravemente, conseguiu escapar, indo para a casa de sua irmã, em Osasco, onde foi preso
ainda no mesmo dia.
Os agentes do DEIC transportaram João para o Hospital das Clínicas, onde recebeu
assistência médica. Em 4 de agosto foi submetido ao exame de corpo de delito-lesão
corporal, assinado pelos médicos José Francisco de Faria e Abeylard de Queiroz Orsini,
que descrevem um único ferimento por arma de fogo, na face anterior do hemitórax
esquerdo e várias ferimentos corto-contusos na região occipital. Mesmo correndo risco de
vida, os agentes do DEIC transportaram-no para o Hospital Geral do Exército, onde
iniciaram um processo de interrogatório e de torturas que culminou com sua morte, a 23 de
setembro.
O laudo de necrópsia inclui, além do ferimento descrito no exame de corpo de delito,
cicatrizes cirúrgicas, escaras de decúbito na região sacra e mais um ferimento por projétil
na região vertebral, terço inferior. Assinam o laudo os legistas Octávio D’Andrea e Orlando
Brandão e apontam como causa mortis ‘colapso tóxico infeccioso’. A evidência do
assassinato fica constatada ao comprovar-se que, ao ser retirado do Hospital das Clínicas,
João apresentava apenas um ferimento produzido por arma de fogo, conseqüência da
emboscada.
Foi enterrado por seus familiares em Osasco.
JOÃO LUCAS ALVES
Militante do COMANDO DE LIBERTACÃO NACIONAL (COLINA).
Nasceu em Canhotinho/PE, em 3 de novembro de 1935.
Era 2º sargento da Aeronáutica.
Morto aos 34 anos, em Belo Horizonte.
Estudou no Grupo Escolar Marcelo Pinheiro e fez o Colegial no Ginásio Visconde de
Mauá, em Recife, indo para a Escola de Especialistas da Aeronáutica em Guaratinguetá/SP,
de onde saiu como 3° sargento. Serviu na Base Aérea de Ibura/PE de 1957 a 1960. Em
1961 esteve nos Estados Unidos especializando-se por conta do Ministério da Aeronáutica.
Expulso da FAB em 1964 pelo Ato Institucional n° I.
Preso, no Rio de Janeiro, a 8 de novembro de 1968 e levado para o DOPS/RJ e,
posteriormente, para a PE. Em 20 de novembro de 1968, foi decretada sua prisão
preventiva por 30 dias e, em 18 de dezembro, prorrogada por mais 30 dias. Ao final dos 60
dias, foi requerido o relaxamento de sua prisão, em 20 de janeiro, ato reiterado em 29 de janeiro, pedidos que não foram apreciados pela Justiça. Em 28 de fevereiro, em nota oficial, foi transferido para a Polícia de Belo Horizonte e, em
06 de março, foi anunciada sua morte por suicídio na Delegacia de Furtos e Roubos de Belo
Horizonte.
Nas torturas que sofreu nesse departamento policial, João Lucas teve vários ossos
quebrados, olhos vazados, além de queimaduras generalizadas. Onofre Pinto (ex-banido e
desaparecido em 1974), preso na mesma época, denunciou o ocorrido em depoimento à
organização “Amnesty International”.
Vários presos políticos, como Antônio Pereira Mattos, Angelo Pezzutti da Silva e
Afonso Celso Lana Leite dentre outros, em depoimentos realizados em Auditorias
Militares, à época, denunciaram as torturas sofridas por João Alves.
O laudo médico, requerido pelo advogado Modesto da Silveira, revelou unhas
arrancadas, escoriações e equimoses ao longo do corpo, inclusive no rosto e nas nádegas,
não demonstrando qualquer indício do suposto suicídio por enforcamento.
A necrópsia, realizada no Departamento de Medicina Legal/MG, em 06 de março de
1969, firmada pelos Drs. Djezzar Gonçalves e João Bosco Nacif da Silva, confirma a falsa
versão policial de suicídio por enforcamento, apesar de descrever algumas escoriações
presentes no braço esquerdo, pé direito e na região glútea, assim como a falta de uma unha
e rouxidão em outras. Esses médicos foram denunciados pelo GTNM/MG, mas sequer
foram investigados, pois o CRM/MG arquivou a denúncia.
Foi encontrado no arquivo do antigo DOPS/SP, um relatório sobre sua vida pregressa
oriundo da Delegacia Regional-Guanabara-Serviço de Ordem Política e Social, datado de 8 de
novembro de 1968, com uma anotação a caneta “suicidou-se no DOPS/BH”.
JOÃO ROBERTO BORGES DE SOUZA
Vice-presidente da UNIÃO ESTADUAL DOS ESTUDANTES da Paraíba.
Estudante da Faculdade de Medicina de João Pessoa, foi preso no inicio de 1969, em
Recife. Ficou detido por 3 meses para interrogatórios, tendo sofrido torturas, conforme
relatou após ser posto em liberdade.
Em 7 de outubro, foi seqüestrado por elementos do CCC e do CENIMAR, segundo o
testemunho de seus companheiros e familiares.
O corpo de João Roberto, apresentando inúmeros ferimentos e tendo o rosto quase
que completamente desfigurado, foi jogado em um açude, em Catolé do Rocha,
Pernambuco, segundo o boletim de março de 1974 da “Amnesty International”.
Em nota oficial, a Secretaria de Segurança Pública de Pernambuco afirmava à época,
que João Roberto teria morrido em conseqüência de afogamento.
JOSÉ WILSON LESSA SABAG
Militante da AÇÃO LIBERTADORA NACIONAL (ALN).
Morto aos 25 anos de idade em São Paulo. Casado, estudava na Pontifícia
Universidade Católica do Rio de Janeiro.
Ao resistir à prisão no dia 3 de setembro de 1969, quando agentes do DOPS e
CENIMAR, apoiados por tropas de choque, tentaram prendê-lo, foi sumariamente fuzilado.
O exame necroscópico, realizado no IML/SP, em 10 de setembro, pelos Drs. Ruy
Barbosa Marques e Orlando Brandão confirma a morte em tiroteio.
LUIZ FOGAÇA BALBONI
Militante da AÇÃO LIBERTADORA NACIONAL (ALN).
Nasceu, em 25 de maio de 1945, em Itapetininga/SP, era filho de Luiz Balboni e
Francisca Áurea Fogaça Balboni.
Estudante da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo, onde cursou até o 3°
ano. Trabalhava como professor e desenhista da Empresa Geotécnica.
Desde 1968 fazia parte da Ala Vermelha do PCdoB, como membro do Setor
Universitário. Divergindo da organização, ligou-se, em meados de março de 1969, à ALN.
Nesse período entrou na clandestinidade, onde permaneceu até sua morte.
Fuzilado, com 24 anos de idade, ao resistir à prisão, na Alameda Campinas, em São
Paulo, no dia 25 de setembro de 1969, em emboscada montada pelos delegados Sérgio
Fleury, Rubens Tucunduva e Firminiano Pacheco.
Em entrevista à Revista Realidade, em 1971, Sérgio Paranhos Fleury, assumiu que
viu morrer à sua frente Luiz Fogaça Balboni.
O laudo necroscópico é assinado pelos médicos legistas Irany Novah Moraes e
Antônio Valentini.
O corpo foi retirado pela família e sepultado no Cemitério da cidade de São Miguel
Arcanjo (SP).
MARCO ANTÔNIO BRÁS DE CARVALHO
Dirigente da AÇÃO LIBERTADORA NAClONAL (ALN).
Nasceu no Estado do Rio de Janeiro, filho de José de Carvalho Filho e Anna Braz de
Carvalho.
Desenhista mecânico.
Fuzilado sumariamente no dia 28 de janeiro de 1969, em sua própria casa, em São
Paulo, quando tinha 30 anos de idade.
Policiais do DOPS, chefiados pelo delegado Raul Nogueira de Lima, vulgo “Raul
Careca”, invadiram a casa de Marco Antônio e eliminaram-no com vários tiros,
desfechados à queima-roupa pelas costas.
Segundo depoimentos de seus companheiros, o autor dos disparos foi o próprio
“Raul Careca”. Tal delegado é o mesmo que matou o estudante do Colégio Marina Cintra,
José Carlos Guimarães, numa passeata em 1968, na Rua Maria Antônia.
NELSON JOSÉ DE ALMEIDA
Militante da organização COMANDO DE LIBERTAÇÃO NACIONAL (COLINA).
Morto aos 21 anos.
Filho de camponeses humildes, nascidos e radicados em Minas Gerais , na cidade de
Mendes Pimentel, região do Vale do Rio Doce.
Aos 10 ou 11 anos, mudou-se com sua família para uma cidade maior, Governador
Valadares. Aí concluiu o curso primário na Escola Israel Pinheiro, em 1963. Nelson
trabalhava desde quando cursava o primário, vendendo produtos agrícolas aos construtores
do prédio da USIMINAS.
Terminado o curso primário, mudou-se mais uma vez com a família para Brasília. Lá
já se encontrava trabalhando seu irmão mais velho. Nelson teve que encarar serviços
bastante pesados, como ajudante de pedreiro, apesar de sua pouca idade. Estudou à noite,
em Sobradinho, e assim concluiu o curso ginasial. Por essa época passou a compreender o
significado do golpe militar de 64 e percebeu o grau de repressão política sobre aqueles que
criticavam o acirramento das desigualdades sociais.
Com o advento do AI-5, integrou-se à COLINA e foi para o interior de Minas. Em Teófilo
Otoni, no dia 11 de março de 1969, foi preso no Quartel do Batalhão por agentes do DOPS.
Na prisão foi reconhecido por um soldado, Artur Orozimbo, que tinha sido seu colega e
também de seu irmão ainda no curso primário, em sua cidade natal, Mendes Pimentel.
Este mesmo soldado deu à familia a notícia de sua morte.
Segundo o Relatório do Ministério da Aeronáutica, Nelson “morreu durante um
assalto à Caixa Econômica Federal, em Teófilo Otoni.”
A certidão de óbito tem como causa da morte “ferida perfuro-contusa do tórax com
lesão de órgão e víscera interna, dando em conseqüência grave hemotórax”. Assina o óbito
o Dr. Christobaldo Motta de Almeida.
Foi enterrado no Cemitério de Teófilo Otoni.
REINALDO SILVEIRA PIMENTA
Dirigente do MOVIMENTO REVOLUCIONÁRIO 8 DE OUTUBRO (MR-8).
No dia 27 de junho de 1969, seu apartamento foi invadido por agentes do
CENIMAR. Ao tentar fugir pela janela, Reinaldo acabou pendurado no parapeito,
segurando-se com as mãos. Os agentes passaram a desferir golpes com a coronha de suas
armas sobre seus dedos, e assim acabou por cair do 5° andar.
Seu corpo entrou no IML/RJ pela Guia n° 13, da 14ª D.P., como desconhecido,
“morto ao cair na área interna do prédio da Rua Bolivar, n° 214, apt. 510, no Bairro de
Copacabana”. Deu entrada no Hospital Miguel Couto, morrendo poucas horas depois.
A necrópsia de 28 de junho, ainda como desconhecido, foi firmada pelo Dr. Mário
Martins Rodrigues, não havendo nome do 2° legista.
Enterrado no Cemitério de Maruí, em Niterói (RJ).
ROBERTO CIETTO
Militante do MOVIMENTO ARMADO REVOLUCIONÁRIO (MAR).
Morreu, aos 32 anos de idade, em 04 de setembro de 1969 no DOI-CODI/RJ.
Preso, casualmente, ao passar defronte da casa do embaixador Charles Burke Elbrick,
seqüestrado naquele dia.
Roberto era conhecido pelos agentes da repressão, pois em maio daquele ano havia logrado
fugir da penitenciária Lemos de Brito, no Rio de Janeiro. Foi levado diretamente para o CENIMAR e
submetido a intensas sessões de torturas, resistindo apenas algumas horas.
Roberto iniciou sua militância política na Penitênciária Lemos de Brito, onde cumpria
pena como preso comum. Ali manteve contatos com presos políticos e aderiu à luta
revolucionária. Após sua fuga junto com outros presos políticos, passou a atuar na
clandestinidade, ligando-se ao MAR.
Seu corpo entrou no IML, no mesmo dia 04, pela Guia n° 71, da 19ª D.P., sendo
necropsiado por requisição do Quartel General do I Exército, de onde foi removido.
A necrópsia, firmada pelos Drs. Elias Freitas e João Guilherme Figueiredo, em 05 de
setembro, confirma a falsa versão oficial da repressão de que Roberto suicidou-se, por
enforcamento, em sua cela, no DOI-CODI/RJ, apesar de descrever algumas escoriações
encontradas no corpo, como hematomas na pálpebra direita, no braço direito e perna
esquerda.
As fotos de perícia de local (n° 5198/69) realizadas pelo ICE/RJ mostram claramente
as marcas de torturas. Como o enforcamento foi cometido com Roberto praticamente
sentado? Também o laudo de perícia de local, feito pelo mesmo órgão oficial (Ocorrência
n° 367/69) cita outras escoriações além das apresentadas na necrópsia afirmando que “... a
necrópsia a ser procedida, deverá esclarecer, a recenticidade dos ferimentos por ação
contundente constatadas nas regiões frontal orbitária direita e face anterior do joelho direito
da vítima”(sic) o que não foi feito pelo exame necroscópico.
O atestado de óbito, de n° 118.656, somente assinala seu nome, tendo todas as outras
informações colocadas como ignoradas, apesar de tratar-se de alguém que já havia
cumprido pena, tendo todas as informações oficiais, o que é confirmado por sua ficha do
IFP, em 05 de setembro de 1969. O óbito teve como declarante José Severino Teixeira.
Foi enterrado como indigente no Cemitério de Santa Cruz (RJ), em 30 de setembro
de 1969, na cova n° 203, da quadra 18.
SEBASTIÃO GOMES DA SILVA
Lavrador.
Fuzilado em Cachoeiro de Macacú (ES), no projeto de colonização do Instituto
Brasileiro de Reforma Agrária, quando resistiu à prisão, em junho de 1969.
Seucorpo entrou no IML/RJ, em 02 de junho de 1969, vindo do HCE, para onde foi
levado junto com o de Severino Viana Colon.
SEVERINO VIANA COLON
Militante da COMANDO DE LIBERTAÇÃO NACIONAL (COLINA).
Morto aos 39 anos de idade.
Natural de Pernambuco.
Preso na 1ª Cia. da Polícia do Exército, na Vila Militar (RJ), à disposição de IPM a
cargo do I Exército, morto nas dependências daquele órgão de repressão, em 24 de maio de
1969. Conforme denúncia do boletim de março de 1974 da “Amnesty Internacional” e do
livro “Oposição no Brasil, Hoje”, de Marcos Freire é falsa a versão oficial da repressão de
que Severino suicidou-se, por enforcamento, em sua cela.
Em declarações prestadas em Auditorias Militares, à época, Antônio Pereira Mattos,
Ângelo Pezzuti da Silva e Afonso Celso Lana Leite denunciaram as torturas que Severino
sofreu na Vila Militar.
Seu corpo somente deu entrada no IML/RJ, em 02 de junho, juntamente com o de
Sebastião Gomes da Silva, vindo do HCE o, onde foi feita a necrópsia, assinada pelo Dr.
Rubens Pedro Macuco Janini, que confirmou a versão policial da repressão.
O atestado de óbito, de n° 11789 teve como declarante José Severino Teixeira e
informa que foi enterrado como indigente no Cemitério da Cacuia, na Ilha do Governador (RJ), em 25 de julho de 1969, sepultura 11.252, quadra 26.















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“Este é tempo de divisas, tempo de gente cortada. É tempo de meio silêncio, de boca gelada e murmúrio, palavra indireta, aviso na esquina.”
Carlos Drumond de Andrade