Paulo Oisiovici
WILSON MARTINS FURTADO: UM SEMEADOR DO AMANHÃ
Falar ou escrever sobre Wilson Martins Furtado é, para mim, além de uma grandiosa tarefa, uma exigência histórica, meu dever como seu camarada, um ato de coerência. É falar de um daqueles homens que lutam a vida inteira e que, por isso, são considerados por Bertold Brecht, “imprescindíveis”.
Apesar da grandiosidade da tarefa, me sinto muito à vontade ao realizá-la, graças ao privilégio que a história me concedeu ao permitir conhecê-lo e participar de suas lutas. Escrever ou falar sobre ele – um tipo de homem, atualmente muito raro, me faz sentir uma mistura de orgulho, gratidão, companheirismo e saudade.
Conheci Wilson em 1978, numa reunião do Partido Comunista do Brasil, no qual militava, na sede da sucursal do jornal “Tribuna Operária”, na Rua Senador Costa Pinto, em Salvador. Fui a ele apresentado pelo camarada Artur de Paula, na época, membro do Comitê Regional. Depois disso, por fazer parte da redação da “Tribuna Operária” e do CEATA, Centro de Estudos e Apoio ao Trabalhador Agrícola, nos encontramos diversas vezes na FETAG-BA e em Correntina, onde estive em 1980-81, para cobrir as conseqüências desastrosas dos programas de irrigação (Mocambo) e de reflorestamento, implantados ainda durante a vigência da ditadura militar no país.
Em 1982, a seu pedido, fui transferido para Correntina, a fim de assessorá-lo no Sindicato dos Trabalhadores Rurais e na tarefa de dar uma nova feição ao jornal “A Foice”. Em 1983, para auxiliar no trabalho da Delegacia Sindical, fui morar em Couro de Porco, hoje Arrojelândia, mesma localidade onde Wilson construiu sua posse e passou grande parte de sua vida. Lá residi até 2002 e até hoje preservo uma pequena propriedade.
Descendente de imigrantes italianos e portugueses, nascido em 26 de fevereiro de 1936, no município paulista de Queluz, Wilson Martins Furtado, o jovem trabalhador que perdeu os pais prematuramente, foi militante do Partido Comunista do Brasil. Em São Paulo, atuou em diversos movimentos, inclusive na construção civil. Teve atuação destacada nas greves operárias de 1950. De volta do exílio na Tchecoslováquia – onde aperfeiçou sua formação comunista, Wilson foi designado pelo camarada Ângelo Arroyo, para participar da Guerrilha do Araguaia. Deslocou-se de Couro de Porco, pelo Tocantins, por várias vezes, para abastecer o destacamento C, com diversos suprimentos adquiridos através de sua atividade concomitante de comerciante, em Bebedor.
A atuação destacada de Wilson Martins Furtado a frente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Correntina, o fez diretor da FETAG-BA no período de 1998 a 2002. Durante sua atuação na FETAG-BA, provocou o desenvolvimento de importantes programas de inclusão social para trabalhadores, realizou vários cursos de capacitação para sindicalistas, participou de diversas campanhas salariais vitoriosas em toda a Bahia, promoveu a ocupação de terras, de forma organizada e responsável, além de organizar diversos sindicatos, tornando a FETAG-BA uma entidade forte, combativa e com caráter de classe.
O camarada Wilson faleceu no dia 2 de julho de 2007, em Correntina, com Mal de Alzheimer. Por ironia do destino, ou perversidade do Estado, serviçal das classes dominantes, ele que tanto lutou pela garantia do direito de aposentadoria para os trabalhadores rurais, mesmo incapacitado para o trabalho, foi privado desse direito. Por capricho da história, faleceu justamente na data comemorativa da Independência da Bahia, legítima Independência do Brasil.
Comprometido com a luta contra todo tipo de injustiça e com o socialismo, Wilson nos ensinou mais com o exemplo do que com palavras. Ele se doou por inteiro à causa dos trabalhadores, à causa do socialismo. Sua simplicidade, naturalidade e despojamento, nos fez perceber que, para ele, doar-se não era simplesmente uma atitude ou qualidade, mas uma maneira de ser – genuinamente sua.
Wilson não morreu. Ele apenas se mudou para o mesmo lugar onde se encontram todos aqueles que não foram convencidos pelo discurso da “natureza capitalista da humanidade” ou do “fim da história” preconizado por Fukuyama. Certamente está a conversar com Massú, que lhe pergunta:
- O socialismo fracassou mesmo?
Wilson, então, com seu jeito inconfundível, lhe responde:
- Digamos que essa árvore regada pelo sangue de tantos trabalhadores, está num período de dormência ou entre-safra. Aguarda a primavera, para então explodir em flores e em novos e vigorosos frutos...
Paulo Oisiovici (Licenciado em História pela FTC , Professor de História e Filosofia da Rede Municipal e Estadual de Ensino em Correntina-BA, Pós-Graduado em História da África pela Realiza, Salvador-BA)
-------------------------------------------------------------------------------------------------------
Paulo Oisiovici Disseram que eu havia mentido quanto a minha ex-filiação. O partido na época era clandestino, portanto, não se filiava, se era recrutado com rígidas normas de segurança, após meticulosa observação da atividade do companheiro no movimento. Mas, só os verdadeiros comunistas sabem disso... Lógico que a pessoa que fez o comentário jamais poderia saber disso... Por isso falou de ex-filiação... Há... tínhamos ainda, que criar um codinome para não revelarmos nossa verdadeira identidade. Meu codinome era Agmael...
Falar ou escrever sobre Wilson Martins Furtado é, para mim, além de uma grandiosa tarefa, uma exigência histórica, meu dever como seu camarada, um ato de coerência. É falar de um daqueles homens que lutam a vida inteira e que, por isso, são considerados por Bertold Brecht, “imprescindíveis”.
Apesar da grandiosidade da tarefa, me sinto muito à vontade ao realizá-la, graças ao privilégio que a história me concedeu ao permitir conhecê-lo e participar de suas lutas. Escrever ou falar sobre ele – um tipo de homem, atualmente muito raro, me faz sentir uma mistura de orgulho, gratidão, companheirismo e saudade.
Conheci Wilson em 1978, numa reunião do Partido Comunista do Brasil, no qual militava, na sede da sucursal do jornal “Tribuna Operária”, na Rua Senador Costa Pinto, em Salvador. Fui a ele apresentado pelo camarada Artur de Paula, na época, membro do Comitê Regional. Depois disso, por fazer parte da redação da “Tribuna Operária” e do CEATA, Centro de Estudos e Apoio ao Trabalhador Agrícola, nos encontramos diversas vezes na FETAG-BA e em Correntina, onde estive em 1980-81, para cobrir as conseqüências desastrosas dos programas de irrigação (Mocambo) e de reflorestamento, implantados ainda durante a vigência da ditadura militar no país.
Em 1982, a seu pedido, fui transferido para Correntina, a fim de assessorá-lo no Sindicato dos Trabalhadores Rurais e na tarefa de dar uma nova feição ao jornal “A Foice”. Em 1983, para auxiliar no trabalho da Delegacia Sindical, fui morar em Couro de Porco, hoje Arrojelândia, mesma localidade onde Wilson construiu sua posse e passou grande parte de sua vida. Lá residi até 2002 e até hoje preservo uma pequena propriedade.
Descendente de imigrantes italianos e portugueses, nascido em 26 de fevereiro de 1936, no município paulista de Queluz, Wilson Martins Furtado, o jovem trabalhador que perdeu os pais prematuramente, foi militante do Partido Comunista do Brasil. Em São Paulo, atuou em diversos movimentos, inclusive na construção civil. Teve atuação destacada nas greves operárias de 1950. De volta do exílio na Tchecoslováquia – onde aperfeiçou sua formação comunista, Wilson foi designado pelo camarada Ângelo Arroyo, para participar da Guerrilha do Araguaia. Deslocou-se de Couro de Porco, pelo Tocantins, por várias vezes, para abastecer o destacamento C, com diversos suprimentos adquiridos através de sua atividade concomitante de comerciante, em Bebedor.
A atuação destacada de Wilson Martins Furtado a frente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Correntina, o fez diretor da FETAG-BA no período de 1998 a 2002. Durante sua atuação na FETAG-BA, provocou o desenvolvimento de importantes programas de inclusão social para trabalhadores, realizou vários cursos de capacitação para sindicalistas, participou de diversas campanhas salariais vitoriosas em toda a Bahia, promoveu a ocupação de terras, de forma organizada e responsável, além de organizar diversos sindicatos, tornando a FETAG-BA uma entidade forte, combativa e com caráter de classe.
O camarada Wilson faleceu no dia 2 de julho de 2007, em Correntina, com Mal de Alzheimer. Por ironia do destino, ou perversidade do Estado, serviçal das classes dominantes, ele que tanto lutou pela garantia do direito de aposentadoria para os trabalhadores rurais, mesmo incapacitado para o trabalho, foi privado desse direito. Por capricho da história, faleceu justamente na data comemorativa da Independência da Bahia, legítima Independência do Brasil.
Comprometido com a luta contra todo tipo de injustiça e com o socialismo, Wilson nos ensinou mais com o exemplo do que com palavras. Ele se doou por inteiro à causa dos trabalhadores, à causa do socialismo. Sua simplicidade, naturalidade e despojamento, nos fez perceber que, para ele, doar-se não era simplesmente uma atitude ou qualidade, mas uma maneira de ser – genuinamente sua.
Wilson não morreu. Ele apenas se mudou para o mesmo lugar onde se encontram todos aqueles que não foram convencidos pelo discurso da “natureza capitalista da humanidade” ou do “fim da história” preconizado por Fukuyama. Certamente está a conversar com Massú, que lhe pergunta:
- O socialismo fracassou mesmo?
Wilson, então, com seu jeito inconfundível, lhe responde:
- Digamos que essa árvore regada pelo sangue de tantos trabalhadores, está num período de dormência ou entre-safra. Aguarda a primavera, para então explodir em flores e em novos e vigorosos frutos...
Paulo Oisiovici (Licenciado em História pela FTC , Professor de História e Filosofia da Rede Municipal e Estadual de Ensino em Correntina-BA, Pós-Graduado em História da África pela Realiza, Salvador-BA)
-------------------------------------------------------------------------------------------------------
BATE PAPO DEBATE FACE
-------------------------------------------------------------------------------------------------------Paulo Oisiovici Disseram que eu havia mentido quanto a minha ex-filiação. O partido na época era clandestino, portanto, não se filiava, se era recrutado com rígidas normas de segurança, após meticulosa observação da atividade do companheiro no movimento. Mas, só os verdadeiros comunistas sabem disso... Lógico que a pessoa que fez o comentário jamais poderia saber disso... Por isso falou de ex-filiação... Há... tínhamos ainda, que criar um codinome para não revelarmos nossa verdadeira identidade. Meu codinome era Agmael...
Esse artigo foi publicado no jornal CORRENTINA NEWS, em 2008.
ResponderExcluirPaulo Oisiovici.