segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

Brasil participou de forma ativa da Operação Condor


Segundo uma reportagem exibida no jornal argentino Página 12, que obteve acesso a um dossiê com centenas de documentos brasileiros e argentinos da época, os laços que ligavam os órgãos repressores do Brasil e da Argentina eram intensos e frequentes.
A maior parte dos telegramas examinados pelo jornal argentino se refere ao aparato repressor dos mandatos de Ernesto Geisel (1974-1979) e João Baptista Figueiredo (1979-1985). A reportagem de Opera Mundi obteve algumas cópias de alguns desses documentos cedidas pelo jornalista Dario Pignotti, do Página 12.
Essa cooperação se fortaleceu principalmente depois de 1975 (no início da fase conhecida como “abertura lenta e gradual” pelo governo Geisel) e não se limitou somente ao plano operacional. É também anterior ao início do período ditatorial argentino (1976-1983).
Além da troca de informações e da colaboração de agentes na caça aos dissidentes dos regimes, também houve uma estreita colaboração diplomática. Uma quantidade significante de diplomatas brasileiros fazia relatórios ao Ciex (Centro de Informações do Exterior), uma rede de inteligência subordinada ao Itamaraty sobre atividades de insurgentes nos países vizinhos.
Nos arquivos da inteligência brasileira, há informações que relatam atividades de personalidades argentinas, como o escritor Juan Gelman, com os montoneros (guerrilha anti-ditadura argentina).
O dossiê não contém informações muito detalhadas sobre os montoneros, mas comprova o alto índice de colaboração entre os dois países. A guerrilha argentina era frequentemente mencionada como uma “ameaça à segurança nacional”.
Outra clara preocupação partilhada por órgãos de repressão argentinos e brasileiros era o apoio de alguns setores da Igreja a dissidentes. Correspondência confidencial, procedente da embaixada brasileira em Roma, comenta as atividades desenvolvidas por religiosos brasileiros com organismos internacionais de direitos humanos, notadamente com o aval CNBB (Conferência Nacional de Bispos do Brasil) e com destaque para Dom Paulo Evaristo Arns, que acolheu refugiados argentinos em São Paulo.
Um grupo que causava preocupação era com religiosos ligados à Teologia da Libertação – especialmente por pressões que alguns de seus membros realizavam no Vaticano. Os órgãos monitoravam um suposto financiamento internacional que comunidades eclesiásticas receberiam. Elas se localizavam em zonas rurais onde se suspeitava que o PCB (Partido Comunista do Brasil) atuava como guerrilha.
Em outro relatório confidencial, datado em 4 de abril de 1978, o SIN (Serviço de Informações Nacional, órgão argentino equivalente ao SNI brasileiro), indica que os montoneros “voltariam a intensificar suas operações (na Argentina) durante a realização da Copa do Mundo (de 1978, na Argentina), buscando afetar entidades governamentais e interferir nas transmissões de rádio e televisão”.

Domesticação
O jornal argentino entrevistou Jair Krischke, líder da ONG brasileira Movimento pela Justiça e Direitos Humanos, que há anos investiga as ações do plano Condor. “No Brasil, instalou-se a ideia de que não houve participação [do país], ou, quando ocorreu, foi secundária. Essa tese está totalmente fora da realidade.O Brasil não só participou mas foi uma peça importante dentro do Condor”. Para ele, no país, “se conhece pouco e se esconde muito”.
E ainda temos a Lei de Anistia, que é um absurdo (…) Quem inaugurou a Operação Condor quando esta nem se chamava assim foi o Brasil. Agentes de inteligência brasileiros sequestraram militantes brasileiros em território argentino no início da década de 70. Quando o Condor é formalizado no Chile, pelo [coronel Manuel] Contreras, os militares brasileiros sempre se preocuparam em não deixar pistas sobre suas participações, mas também estiveram lá”, disse Krischke ao Página 12. (Vermelho)

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Carlos Drumond de Andrade