Heróis são homenageados nos 40 anos da Guerrilha do Araguaia
Sábado, 14 de abril de 2012. A data que lembrou os 40 anos da
Guerrilha do Araguaia ficou marcada por uma emocionante homenagem aos
que tombaram, mas principalmente por um importante ato em defesa da
busca pelos mortos e desaparecidos da ditadura militar e da justiça
contra os que cometeram os assassinatos e ocultações.
Por Priscila Lobregate, para a Fundação Maurício Grabois
No mesmo evento, foi feito o lançamento da segunda edição do livro
"Guerrilha do Araguaia – a esquerda em armas", do historiador Romualdo
Pessoa Campos Filho.
Realizada no Memorial da Resistência – sediado no antigo Deops, no
centro da capital paulista – a atividade reuniu mais de 200 pessoas. As
exposições foram feitas pelo secretário nacional de Justiça e presidente
da Comissão de Anistia do Ministério da Justiça, Paulo Abrão Pires Jr.,
pelo procurador da República em Ribeirão Preto e membro do Grupo
Direito à Memória e à Verdade do MPF, Andrey Borges Mendonça, e pelo
professor Campos Filho.
Evento reúne mais de 200 pessoas
“Temos muito orgulho de sermos de esquerda, de termos nos insurgido. O
que a esquerda fez naqueles tempos não é motivo de vergonha, mas de
muito orgulho”, disse Ivan Seixas, do Núcleo de Preservação da Memória
Política, na abertura dos trabalhos. “Aquelas pessoas que estiveram
presas, que foram torturadas, como Dilma Rousseff e tantos outros, estão
aí, contribuindo para melhorar o Brasil. E que contribuição deram
aqueles que prenderam, que mataram?”, questionou.
Logo após a exibição de um breve vídeo em que todos os mais de 60
guerrilheiros foram lembrados, Romualdo Pessoa Campos Filho falou sobre o
seu livro. Emocionado, dedicou a obra – cuja primeira edição foi
lançada em 1997 – à sua filha Ana Carolina, vítima de leucemia em 2007
aos dez anos.
Romualdo explica contexto da Guerrilha
Ao relatar a trajetória que o levou a escrever o livro, lembrou que o
impulso principal era a necessidade de contribuir para que a Guerrilha
do Araguaia fosse inserida na história brasileira. “E este episódio
ainda é uma história inacabada”, disse, em referência às muitas
informações ainda não tornadas públicas sobre o ataque das Forças
Armadas e o paradeiro dos corpos. Até hoje, apenas dois militantes,
Maria Lúcia Petit e Bergson Gurjão Farias, tiveram seus restos mortais
encontrados, identificados e sepultados.
Campos Filho recordou que o movimento de resistência “foi dizimado
devido à grande truculência usada pelos agentes”. E lamentou que “muitas
pessoas que viveram aquele período ignorem a Guerrilha ou
desqualifiquem aqueles que deram sua vida pela democracia partindo de
uma análise anacrônica dos fatos”.
Baseado especialmente na narrativa dos camponeses que testemunharam as
ações da ditadura, o livro de Campos Filho é um importante documento de
resgate histórico sob a óptica do povo mais simples da região do
Araguaia, condenado ao sofrimento e à miséria por ter ajudado os
comunistas. “Muita gente desinformada diz que os camponeses contam
histórias para poderem receber indenização. Mas, vou à região desde
1992, quando iniciei minha pesquisa, e já naquele momento eles contavam o
que viram, mesmo sem nenhuma perspectiva de reparação”.
Por fim, disse que contar essa história era um compromisso “com os
camponeses, com os familiares que lutam até hoje para descobrir a
verdade e com a nossa história. A história se constrói com fatos
concretos. Pode-se esconder a verdade por um tempo, mas não para
sempre”.
Estiveram também presentes ao ato Adalberto Monteiro, presidente
da Fundação Maurício Grabois, uma das promotoras do evento; Zezinho do
Araguaia, um dos guerrilheiros; o assessor do Ministério da Defesa, José
Genoíno; Clara Charf, viúva de Carlos Marighela; os presidentes
estadual e municipal do PCdoB, Nádia Campeão e Wander Geraldo; o
secretário sindical do PCdoB, Nivaldo Santana; o secretário especial de
Articulação da Copa em São Paulo, Gilmar Tadeu Ribeiro Alves e o membro
da Comissão de Anistia, Egmar José de Oliveira, entre outros.
“Este é tempo de divisas, tempo de gente cortada. É tempo de meio silêncio, de boca gelada e murmúrio, palavra indireta, aviso na esquina.” Carlos Drumond de Andrade
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