O
secretário nacional do Partido Comunista do Brasil (PC do B), Aldo Arantes,
criticou nesta quinta-feira, 2, o fracasso nas buscas de restos mortais de
desaparecidos na Guerrilha do Araguaia e responsabilizou as Forças Armadas,
especialmente o Exército. Segundo o dirigente comunista, antes que as
buscas começassem, os militares retiraram os corpos dos locais onde estavam
enterrados. Não se descarta a hipótese de alguns terem sido
incinerados ou jogados no Rio Araguaia.
“Não
vamos chegar a qualquer lugar ou teremos resultados pífios sem informações
sobre essa Operação Limpeza”, afirmou. “E não adianta dizer que os
documentos queimaram, porque existem pessoas que podem falar a respeito. Isso é
conversa pra boi dormir. Se houver uma determinação da presidente, do
comandante do Exército, as informações aparecem.”
Arantes
é um dos quatro representantes do PC do B no Grupo de Trabalho Araguaia (GTA),
criado para cuidar das buscas de desaparecidos na guerrilha. Ele falou
sobre o fracasso das expedições durante reunião da Comissão Municipal da
Verdade, na Câmara de Vereadores de São Paulo. Foi a segunda vez, em poucas
semanas, que se criticou publicamente as ações nessa área. Há poucos dias, um
grupo de familiares de mortos e desaparecidos atacou o governo, que também está
sendo interpelado pela Comissão de Direitos Humanos da Organização dos Estados
Americanos (OEA).
O
tema inicialmente agendado para o encontro era a chamada Chacina da Lapa, nome
com o qual ficou conhecido o massacre de dirigentes do PC do B, ocorrido em
1976. Na noite do dia 16 de dezembro daquele ano, agentes do Exército
invadiram uma casa na Rua Pio XI, em São Paulo, onde estava reunida a cúpula do
partido, e mataram as pessoas que lá se encontravam. Ângelo Arroyo e
Pedro Pomar, dois dos principais dirigentes comunistas, foram mortos naquela
noite.
Para
falar sobre a chacina foram convidados Vladimir Pomar, que não integra mais os
quadros do PC do B, e Arantes. Foi ao final de sua exposição que
o secretário nacional abordou as fracassadas expedições do
GTA. O tema atraiu a atenção dos vereadores e acabou ocupando a maior
parte da reunião, presidida por Italo Cardoso (PT).
Na
avaliação do secretário nacional do PC do B e dos vereadores, o tema deve
ser levado à Comissão Nacional da Verdade. “Eu estou a disposto a falar
sobre o assunto se for chamado”, disse o dirigente comunista.
Ele
contou que, no início da repressão militar à guerrilha organizada pelo PC do B,
em 1972, os guerrilheiros mortos foram enterrados em cemitérios da região,
especialmente na cidade de Xambioá. Nesses casos, observou, as
possibilidades de localização de restos mortais são maiores. Os dois únicos
corpos identificados até agora estavam em cemitérios.
Mais
tarde, com o agravamento do conflito, o esquema foi alterado. “Quando
começaram a matar muita gente, passaram a enterrar nas proximidades dos
lugares onde as pessoas morriam. Na fase final da repressão tomaram a
decisão de limpar ao máximo os vestígios das violências praticadas.”
Segundo
Arantes alguns guerrilheiros tiveram a cabeça cortada quando ainda estavam
vivos. “Queriam impedir que as gerações futuras conhecessem a dimensão do
que havia ocorrido ali”, continuou. “Fizeram várias operações com o objetivo de
retirar os mortos dos locais onde estavam. Em geral isso era feito com mateiros,
que tinham conhecimento da área, ou soldados. Eles tiravam os corpos e
entregavam para oficiais.”
Arantes
disse que passou a ter certeza da existência da chamada Operação Limpeza
após os repetidos fracassos das expedições do GTA. ”Nós tínhamos uma
ouvidoria, que suscitava informações dos camponeses, moradores da
região, ex-militares, pessoas com informações concretas sobre os locais
onde as pessoas haviam sido enterradas. Mas quando se chegava lá e cavava, não
encontrava nada. Aos poucos ficou caracterizado que tinham retirado os corpos.”
Vários
militares, segundo o dirigente comunista, já deram depoimentos sobre a Operação
Limpeza. ”Numa reunião do grupo, que ainda se chamava Grupo de Trabalho
Tocantins e era coordenado pelo Ministério da Defesa, eu disse ao então
ministro, Nelson Jobim, e a todos os participantes do grupo, que a
operação tinha ocorrido e que não chegaríamos a nenhum resultado ou o
resultado seria pífio, caso não se obtivesse informações dela.”
Por
Roldão Arruda / Via estadão.com.br
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