terça-feira, 26 de abril de 2011

A FORMAÇÃO HISTÓRICO-SOCIAL DE UM PROFESSOR

Postagem Dag Vulpi 25/04/2011 23:59                             

Meu nome é Paulo Oisiovici. Sou professor de História e Filosofia na rede municipal e estadual de ensino em Correntina-BA. Conclui o curso de Licenciatura em História pela FTC, nesta cidade e me pós-graduei em História da África. O sobrenome diferente e complicado, foi herdado de meu pai, que se chamava Oséas Oisiovici. Ele nasceu em Jassy, uma cidade da Romênia, na Europa. A família de meu pai veio para o Brasil durante a Segunda Guerra Mundial. Os alemães ocuparam a Romênia e, como sua família era de origem judaica, foi presa em campo de concentração nazista. Um de meus tios foi morto em Auschwitz, na Polônia. Os outros, obrigados a empreenderem uma marcha interminável e aviltante, morreram pela exaustão – um assassinato lento, gradativo, covarde e vil, em que os nazistas, hipócrita e covardemente, não assumiam a autoria. Meus avós, meu pai e minha tia, conseguiram capturar um avião e fugiram. Chegaram ao Brasil, se estabeleceram em Salvador-BA e reconstruíram suas vidas.

Meu pai concluiu o curso de Engenharia Civil na Universidade Federal da Bahia. Acabou conhecendo minha mãe, casaram-se e tiveram quatro filhos.

Como meu pai era engenheiro civil, a família morou em vários lugares do Brasil. Eu nasci no Rio de Janeiro-RJ, em 7 de novembro de 1961, ano em que os russos supreenderam o mundo ao enviarem o primeiro homem ao espaço: o cosmonauta Iuri Gagárin. Nesse mesmo ano, Cuba se tornou um país socialista. Em 1970, a família mudou-se para Salvador-BA, onde cursei da 5ª a 7ª série no Centro Educacional Edgard Santos e a 8ª série e parte do 2º grau, no Colégio 2 de Julho, no bairro do Garcia, onde morava, concluindo o ensino médio no Colégio Estadual da Bahia, o CENTRAL, na Avenida Joana Angélica.

Por adquirir muito cedo o hábito da leitura na vida em família, num ambiente em que debatíamos – pais, filhos e irmãos – sobre os mais variados assuntos, no convívio com diversos intelectuais renomados que freqüentavam nossa casa no Rio de Janeiro e em Salvador, tive contato com idéias e contribuições de diferentes pensadores e desenvolvi uma precoce preocupação com a realidade social, política e econômica do país.

Identificado com as contribuições do filósofo, historiador, sociólogo e economista, Karl Marx, ingressei em 1976, aos 15 anos de idade, em plena ditadura militar, no Partido Comunista do Brasil, que na época não possuía registro legal.

Ainda na vigência da ditadura militar, atuei como líder estudantil durante o ginásio no Centro Educacional Edgard Santos e, durante o ensino médio, no Colégio 2 de Julho e no CENTRAL, onde fui diretor do grêmio estudantil. Participei dos congressos de reconstrução da UMES – União Metropolitana de Estudantes Secundaristas, da ABES – Associação Baiana de Estudantes Secundaristas e vivenciei a reconstrução da UNE – União Nacional dos Estudantes. Em 1981, por dirigir uma greve de estudantes e professores pela melhoria da qualidade do ensino e por melhores condições de trabalho no CENTRAL, fui expulso daquele colégio, retornando rapidamente graças a um mandado de segurança impetrado pelos advogados Joviniano Neto e Ronilda Noblat.

No mês de agosto daquele mesmo ano, durante a gestão de Mário Kértez como prefeito de Salvador, participei ativamente do movimento contra o aumento do preço das passagens nos transportes coletivos, que culminou com o quebra-quebra de ônibus. Ainda no mês de agosto daquele ano, com o exército já nas ruas, a pedido de Antônio Carlos Magalhães, a Polícia de Choque invadiu o CENTRAL, há 62 dias em greve, atirando e espancando uma multidão que ali se refugiava da repressão. Centenas de estudantes foram gravemente feridos e, entre eles, Edno Santos Sena, de 22 anos, aluno do curso de saúde no turno noturno, foi atingido por um tiro de fuzil disparado por um soldado do Pelotão de Choque da PM. Tais fatos foram noticiados em edições do jornal “A TARDE” dos dias 6, 21, 25 de agosto e 1 e 2 de setembro de 1981.

Gravemente ferido na cabeça e com o braço direito quebrado em vários lugares, fui retirado do colégio na mesma noite da invasão, escondido no porta-malas de um TL do ex-deputado Haroldo Lima, para me livrar da barreira policial e levado para uma casa no município de Lauro de Freitas. Como a polícia objetivava prender todos os líderes do movimento, era obrigado a cada noite, dormir num local diferente. Acabei sendo capturado, preso durante 60 dias no quartel da 4ª CIA do exército e interrogado no DOPS do Beiru, sendo liberado graças à ação de advogados do Movimento pela Anistia e Direitos Humanos.

Concomitante a atuação no movimento estudantil, fiz parte da redação do jornal TRIBUNA OPERÁRIA, órgão de massas do partido, na sucursal de Salvador-BA e atuei no CEATA – Centro de Estudos e Apoio ao Trabalhador Agrícola.

Em 1982, cheguei a Correntina, enviado pelo partido para assessorar o recém-fundado Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Correntina e para organizar a resistência dos posseiros à invasão das empresas reflorestadoras e a luta dos bóias-frias por seus direitos trabalhistas.

No mesmo ano, para auxiliar no trabalho da Delegacia Sindical, fui morar na comunidade de Couro de Porco, atual Arrojelândia, a 110 Km da sede do município, onde garanti minha sobrevivência trabalhando como agricultor durante 15 anos. Em 1990, participei da fundação e organização da Associação dos Pequenos Agricultores de Arrojelândia, da qual fui presidente por quatro mandatos consecutivos. Lá residi até 2002 e até hoje preservo uma pequena propriedade.

Casei-me em 1985 e tenho duas filhas: Mariana e Gisele. Em 2002 fui obrigado a residir na sede do município para garantir a continuidade dos estudos de minhas filhas. Acabei me separando em 2005.



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DEBATE BATE PAPO FACE
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Paulo Oisiovici Essa é a história do equivocado, incoerente e direitista, como fui acusado... Esperava isso de um membro da repressão, na época da ditadura, e não de uma pessoa que se diz "marxista-leninista" (será que sabe o que é isso?) ou "comunista"..
Fabio Morais Ao Sr. Paulo, Sr. Paulo, se dê ao respeito e preserve a sua história, não importa quem o Sr.é ou deixou de ser e quem será, pelo que consta quem grafou-me de direitista foi vc, e portanto após divulgar sua história ou currículun vem se fazendo de perseguido, usando seu passado para impingir práticas as quais o Sr. históricamente vem as repetindo...
Fabio Morais Finalizar por favor a discussão.
Fernanda Tardin Paulo, um conselho: evite divulgar dados sobre suafamilia, como nome, local... "caldo de galinha e cuidado" .
Fernanda Tardin ao menos, isto que tento fazer com o meu... nem comento ter...
Paulo Oisiovici Fui obrigado a fazer isso por conta dos julgamentos a minha pessoa. Sou uma pessoa pobre materialmente... Não tenho o que me roubarem... Já me roubaram a liberdade-o bem mais precioso- rouberem o que agora... Fui obrigado a isso... Fui acus...ado de mentir quantoa minha ex-filiação (não sabia que partido clandestino fazia filiação...). Fui acusado de equivocado... O oráculo de Apolo traçou o meu perfil, como o de uma pessoa como ele... Tinha que me defender... Diversas pessoas da comunidade acadêmica, camaradas, companheiros da época da militância, e de minha cidade - inclusive, camponeses, vão se manifestar a meu favor, publicamente. Ficaram revoltados quando souberam...
Paulo Oisiovici Quiseram me colocar como um desconhecido, sem passado e sem presente, intruso, caído de pára-quedas, como se opinasse sobre o que desconhecia. Emitiram-se vários julgamentos sobre mim, sem a mínima informação a meu respeito. Isso só tem dois nomes: pré-conceito e ódio de classe.
Paulo Oisiovici Os dois textos foram escritos, apresentados e publicados durante o curso de graduação...
Fabio Morais Manda pro SBT derrepente vc consegue mais platéia!
Paulo Oisiovici rsrsrs...kkkkkk....
Paulo Oisiovici O SBT está pelo menos tendo a coragem de divulgaro que realmente aconteceu durante a ditadura... Ao contrário de pessoas que ao invés de fazer o mesmo, escondem a verdade sobre várias coisa que vem acontecendo no país, como discursos esquer...distas e simultaneamente apoio ao latifúndi e ao agronegócio... É compreensível, portanto, o ódio, o sarcasmo e a ironia... Mas, os cães ladram e a caravana passa... Não conseguirão, apesar do seu esforço, deter a marcha inexorável da História..       


3 comentários:

  1. Prezado Paulo,
    existe alguns fatos no histórico de meu pai Oséas Oisiovici que precisam ser corrigidos, por favor entre em contato. abraços Levi Oisiovici (oisiovici@hotmail.com)

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    Respostas
    1. Sim. Se precisam ser corrigidos, a partir de que fonte(s)? Pois, a fonte que consultei foi meu pai Oséas Oisiovici, e ele já morreu, assim como meus avós, Rachel oisiovici e Levi Oisiovici. Quais seriam as fontes confiáveis? Pessoas que eu nem sequer conheço? Como historiador sou muito exigente quanto as fontes. Não considero depoimento de pessoas cuja prática se mostra contrária ao discurso.

      Paulo Oisiovici.

      Excluir
  2. Prezado irmão Paulo,
    Em primeiro lugar gostaria de pedir desculpas pela demora na resposta, é que estava em viagem e só agora tive oportunidade de responder seu email.
    Bom, com relação as suas informações postadas no seu blog, teço abaixo meus comentários que foram pesquisados quando da minha viagem para Rômenia e outros ouvidos de nosso próprio pai:
    1 - Você diz “ A família de meu pai veio para o Brasil durante a Segunda Guerra Mundial”.
    Na verdade nosso pai, a irmã dele e nossos avós chegaram ao Brasil em 1925, saíram do porto de Porto de Cherbourg, na França, chegaram nesse porto de trem numa viagem de aproximadamente 22 horas desde Bucareste. Então a informação não procede visto que a chegada deles foi 14 anos antes do início da Segunda Guerra.
    2 – “Um de meus tios foi morto em Auschwitz, na Polônia”.
    Não houve nenhum Oisiovici morto em Auschwitz, mesmo porque nenhum judeu deportado da Romênia foi enviado para a Polônia. O campo de concentração usado para trabalhos forçados para judeus romenos era os de Mogilev , Peciora e Transnistria.
    3 – “Os outros, obrigados a empreenderem uma marcha interminável e aviltante, morreram pela exaustão”
    Não houve nenhum Oisiovici que morreu nessas condições.
    4 – “Meus avós, meu pai e minha tia, conseguiram capturar um avião e fugiram”.
    Não procede, vieram de navio em 1925 conforme relatado no item 1.
    5 – “Meu pai concluiu o curso de Engenharia Civil na Universidade Federal da Bahia. Acabou conhecendo minha mãe, casaram-se e tiveram quatro filhos”.
    Nosso pai se formou em 1936, e foi trabalhar (solteiro ainda) no DENOCS (Departamento Nacional de Obras contra a Seca) morou em Juazeiro ficou lá de 1937 até 1947, quando foi morar em Ilhéus a convite de nossa tia Rosa e seu marido Dr. Antonio Vianna Dias da Silva, para juntos construírem um hospital naquela cidade. Lá conheceu Dna. Adail e contraíram matrimonio, ficaram casados por 29 anos e não tiveram filhos. Durante o casamento com Dna Adail foi que, segundo nosso próprio pai, que ele conheceu sua mãe e tiveram um relacionamento extraconjugal . No início de 1967 se desquita de Dna. Adail e em fevereiro de 1968 resolve ir morar junto com minha mãe, só vieram a se casar em 1980 com o advento da lei do divórcio. Então na realidade ele só foi casado 2 vezes.

    6 – “Como meu pai era engenheiro civil, a família morou em vários lugares do Brasil”.
    Na verdade, ele morou em vários lugares da Bahia, nunca morou em outro estado ou cidade fora daí.

    Ah, Henry Oisiovici era irmão desse nosso primo que visitei em Bucareste, e ele não é judeu francês, visto que todos eles nasceram na cidade de
    Dorohoi na Romênia, foi morto quando tentava fugir em navio chamado Mefkure, afundado por um submarino alemão.

    Por favor, entenda que meu intuito é apenas contribuir com a realidade dos fatos e principalmente preservar a memória do nosso pai livre de qualquer fato que não condiz com a verdade.
    forte abraço shalom,

    Levi Oisiovici

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“Este é tempo de divisas, tempo de gente cortada. É tempo de meio silêncio, de boca gelada e murmúrio, palavra indireta, aviso na esquina.”
Carlos Drumond de Andrade