Postagem Dag Vulpi 01/05/2011
Desaparecido em 1971
Documento guardado por militar seria depoimento de comandante da VAR, dado após Beto sumir no Rio
RIO - Do arquivo particular de um oficial reformado emerge a primeira pista sobre o desaparecimento de Carlos Alberto Soares de Freitas, o Beto, um dos comandantes de Dilma Rousseff no tempo em que a hoje presidente da República era militante da VAR-Palmares, organização de esquerda que atuou na luta armada contra o regime militar. Sem assinatura ou qualquer outra prova de autenticidade, um documento de 15 páginas registra o que teria sido um depoimento de Beto prestado ao Exército no dia 28 de fevereiro de 1971, portanto, 13 dias após seu desaparecimento.
Embora a introdução informe que Carlos Alberto, "estando preso, produziu um depoimento de próprio punho", o texto guardado pelo militar está digitalizado e com tipologia típica de computadores dos anos 90. Porém, o que se lê nos 19 capítulos desse suposto depoimento impressiona pela coerência e pela precisão no relato sobre a trajetória da organização e de alguns de seus militantes. O militar resolveu divulgá-lo por discordar da imagem que a esquerda teria construído de Beto, de um jovem idealista que morreu pela causa sem recuar em seus ideais.
Do início da militância política, em 1961, até o seu desaparecimento, em 15 de fevereiro de 1971, em Copacabana, Beto só havia sido preso uma vez, em 1964, por pichação. Como a VAR surgiria cinco anos depois, só há duas hipóteses para as informações a ele atribuídas: ou são montagem, com base em dados colhidos de outros militantes da organização, na maioria dos casos sob tortura, ou realmente foram escritas pelo próprio Beto, em condições que só a abertura dos arquivos da ditadura poderá esclarecer.
Parentes e ex-militantes da VAR preferem a primeira hipótese. Diante da série de detalhes que o depoimento fornece sobre a organização, principalmente sobre a "área", foco guerrilheiro que a VAR tentava montar na região do Bico do Papagaio (divisa entre Maranhão, Goiás e Pará), as pessoas que conheceram Beto sustentam que o vazamento do dossiê apócrifo seria uma tentativa contemporânea de manchar a sua biografia.
- Beto jamais usaria expressões como "elementos" e "amantes", atribuídas a ele nesses papéis falsos - disse o diplomata Sérgio Ferreira, primo do desaparecido e representante da família em questões ligadas ao caso.
Confira a íntegra do depoimento de Beto dado em 1971
CARLOS ALBERTO SOARES DE FREITAS
("BETO", "BRENO", "CLAUDIO", "GUSTAVO", "MELO", "SERGIO", "FERNANDO", "FERNANDO SÁ DE SOUZA", "FERNANDO FERREIRA")
- 28/02/1971: ESTANDO PRESO, PRODUZIU UM DEPOIMENTO DE PROPRIO PUNHO
DEPOIMENTO DE 28/02/1971
- 01. INICIAÇÃO POLÍTICA (FASE DA POLOP)
- 02. O "RACHA" DA POLOP E O SURGIMENTO DA COLINA
- 03. ATUAÇÃO NA COLINA
- 04. A FUSÃO COLINA-VPR E A VAR-PALMARES
- 05. OS "RACHAS" DA VAR-PALMARES
- 06. SOBRE A ÁREA
- 07. O CONGRESSO DE RECIFE (JAN/FEV 71)
- 08. O COMANDO NACIONAL DA VAR-PALMARES
- 09. REUNIÕES PREPARATÓRIAS PARA O CONGRESSO DE RECIFE
- 10. ATUAÇÃO DA VAR-P NO CEARÁ
- 11. SITUAÇÃO DA VAR-P NO RIO GRANDE DO SUL
- 12. INFILTRAÇÃO DA VAR-P NAS FORÇAS ARMADAS, IMPRENSA E CLERO
- 13. A VAR-P NO EXTERIOR
- 14. O SEQUESTRO DO AVIÃO E OS BANIDOS
- 15. SOBRE AS ORGANIZAÇÕES
- 16. POSIÇÃO DA VAR-P QUANTO A SEQUESTRO DE AUTORIDADES
- 17. FRENTE BRASILEIRA DE INFORMAÇÕES
- 18. SITUAÇÃO ATUAL DA VAR-PALMARES
- 19. CONJUNTURA POLÍTICA ATUAL
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- 01. INICIAÇÃO POLÍTICA (Fase da POLOP)
Ingressei (Carlos Alberto Soares de Freitas, dossiê 10.119) na Faculdade de Ciências Econômicas da UFMG em 1961. Eu já era predisposto à iniciação marxista, pois já lera alguns livros e tinha, à mão, sempre jornais de esquerda (principalmente, o "SEMANÁRIO"). Na faculdade, conheci JUAREZ GUIMARÃES DE BRITO (o "JUVENAL", falecido), MARIA DO CARMO (sua futura esposa) e INES ETTIENNE ROMEU (atualmente na VPR); MARIA DO CARMO e INES eram minhas colegas de sala. Conheci também GUIDO ROCHA, THEOTONIO DOS SANTOS e VANIA BAMBIRRA (os dois últimos, atualmente no CHILE, são aliados da VAR-P). JUAREZ, GUIDO ROCHA, THEOTONIO e VANIA JÁ ERAM LIGADOS À POLOP. Aproveitando a crise causada pela renúncia de JANIO QUADROS, fizemos na Faculdade uma grande agitação e foi a partir daí que TEOTONIO e VANIA me convidaram para frequentar reuniões da POLOP; fui a várias delas, realizadas na própria Faculdade e na sede do Partido Socialista Brasileiro, do qual passei também a fazer parte. Eu não ocupava cargo na POLOP; tinha, através do PSB, atuação junto aos favelados e, através do DCE, atuava como "agitador" do Movimento Estudantil.
Em 1962 (creio que em janeiro), fui a CUBA em viagem patrocinada pela UNE (que recebeu 7 ou 8 passagens). Fiquei nesse país apenas 25 dias, assistindo atos públicos e visitando algumas províncias. Eramos cerca de 20 brasileiros. Lembro-me, entre outros, de VINICIUS JOSÉ NOGUEIRA CALDEIRA BRANDT (preso como militanto do PRT), FRANCISSO JULIÃO com a mulher e filhos, CARLOS ESTEVAM (da UNE), BELDA (do jornal METROPOLITANO), um filho de IVAN RIBEIRO e ÉLVIO CARLOS MOREIRA (na época, estudante de veterinária em BH/MG). Voltamos em FEVEREIRO, desembarcando em CONGONHAS/SP. Todos trouxeram material político, principalmente livros e revistas sobre Reforma Agrária e Reforma Urbana. A viagem foi legal, sendo os passaportes visados normalmente. Em CUBA, não mantive nenhuma conversação privada com funcionários cubanos. Desde então, não mais saí do BRASIL.
Em 1963, fiquei um pouco desligado. TEOTONIO, VANIA, JUAREZ e GUIDO ROCHA tinham se mudado. "LIA" (MARIA DO CARMO) já se casara com JUAREZ e estavam em GOIÂNIA, indo depois para RECIFE. TEOTONIO e VANIA estavam em BRASILIA. O que se fazia era Movimento Estudantil, com algumas poucas incursões no Movimento Operário.
Com o Movimento de Março de 1964, dirigi-me ao RIO, onde estive com ERICH SACCHS ("ERNESTO MARTINS", "EURICO MENDES" ou "SALLES" - asilado), EDER SADER ("RAUL") e RUI MAURO MARINI (no chile atualmente, como aliado da VAR-P). TEOTONIO E VANIA BAMBIRRA foram para SÃO PAULO. Apareceram, no RIO, GUIDO ROCHA e CLÁUDIO GALENO DE MAGALHÃES LINHARES ("LOBATO" - ainda deve estar no exterior). Fiquei no RIO cerca de dois meses e como não tinha nada para fazer, regressei a MINAS. Em julho, EU, INES ETIENNE ROMEU e alguns elementos do PC do B resolvemos fazer uma pichação a favor de CUBA; nessa operação, sou preso junto com uma menina simpatizante da POLOP (não me lembro o nome - consta no processo). A garota foi liberada porque era menor e EU fiquei preso cerca de três meses, sendo solto em novembro de 1964.
Em 1965 voltei a estudar, pois estava no último ano de sociologia, iniciando a fazer trabalho estudantil. INES ETTIENE ROMEU, então, já ingressara na POLOP e GUIDO ROCHA voltava a BELO HORIZONTE. Entre as "ampliações" que fizemos, recordo-me de: APOLO HERINGER LISBOA (atualmente, um dos chefes da DVP), ANGELO PEZZUTI (banido), MURILO PEZZUTI, ERWIN RESENDE DUARTE (preso), HERBERT EUSTÁQUIO DE CARVALHO (atualmente na VPR - o "DANIEL"), MARIA AUXILIADORA LARA BARCELOS (banida); na Faculdade de Ciências Econômicas, havia um rapaz de nome NILMÁRIO, na de Engenharia o EDSON SOARES, na da DIREITO o LEOVEGILDO e na de Filosofia, o BADIH MELHEM; posteriormente, ainda na de Ciências Econômicas, virão a "Wanda" (a DILMA VANA ROUSSEF LINHARES presa), o JOSÉ ANIBAL PEREZ ("CLEMENTE") e o MARCOS SPIEGNER depois da UNE); na de Engenharia, o "TOMAZ JUDEUZINHO", com a VAR-P, está na DVP). Essas "ampliações" foram feitas, principalmento em 66/67, quando a POLOP se rachou em MINAS GERAIS.
Em fevereiro de 1967, fui condenado a 3 (três) anos de prisão (caso da pichação) - fico, então, cerca de dois meses na casa de "LIA" (MARIA DO CARMO - banida) em NITERÓI/RJ, no bairro de ICARAI. De lá regresso a MINAS, onde fico cerca de um mês na dos PEZZUTI; em seguida, fui para a casa de JOSÉ ANIBAL PEREZ, na Avenida Francisco Sá (a casa foi "estourada").
- 02. O "RACHA" DA POLOP E O SURGIMENTO DA COLINA
O Congresso da POLOP, em setembro de 1967, ocasionou o "racha".
Grande parte do pessoal de MINAS "rachou" (EU, GUIDO ROCHA, INES ETTIENE ROMEU, ANGELO PEZZUTI, MURILO PINTO PEZZUTI, JOSÉ ANIBAL PEREZ, BADIH MELHEM, APOLO HERINGER LISBOA e sua esposa CARMEN, "TOMAZ" (Judeuzinho), HELVÉCIO LUIZ DE AMORIM RATTON ("CLEMENTE") e DILMA ROUSSEF ("WANDA"). Desses, não tomaram parte no Congresso: CARMEM, "TOMAZ" e "CLEMENTE". Ficaram na POLOP: EDSON SOARES, NILMÁRIO e LEOVEGILDO que arrastaram com eles mais alguns, entre eles o MARCOS SPIGNER.
JOÃO LUCAS ALVES e JUAREZ, da GB (ambos falecidos), também "racharam" (estavam no Congresso).
O "JACQUES" (talvez PIO CHAVES DOS SANTOS) e o "CHICÃO (não é codinome - é apelido, foi preso em 1969) eram delegados de SÃO PAULO e também "racharam".
Formaram-se, em consequência, em MG, na GB e em SP, grupamentos que se intitularam "DISSIDÊNCIA DA POLOP" e que pretendiam se juntar nacionalmente. Em MINAS, ficam na direção: EU (na época, "GUSTAVO"), ANGELO PEZZUTI e APOLO HERINGER LISBOA; pouco depois o JORGE NAHAS passa também à direção. No RIO, é o JUAREZ ("JUVENAL"), a "LIA" (MARIA DO CARMO) e o JOÃO LUCAS ALVES, que chefiam. Em SÃO PAULO, o "JACQUES" (na época "AMAURI"), o "LAÉRCIO" (WILSON EGIDIO FAVA, no exterior) e um outro ("caído" numa fazenda em MATO GROSSO em JANEIRO DE 1969); posteriormente estes de SÃO PAULO juntam-se ao grupo de ONOFRE PINTO (banido), formando o embrião da futura VPR.
Em junho/julho de 1968, há uma reunião para a fusão dos 3 grupos. Dela participam: EU, ANGELO PEZZUTI, APOLO HERINGER LISBOA, "LIA", "JUVENAL", JOÃO LUCAS ALVES, "LAERCIO", JOÃO CARLOS KFOURI QUARTIN DE MORAES ("MANOEL" - na EUROPA), "MOISES" (JOSÉ RAIMUNDO DA COSTA - foragido). A reunião é feita em ANGRA DOS REIS/RJ. O pessoal de MINAS e GUANABANA se unificam sob o nome de COLINA, mas SÃO PAULO permanece separado. A direção da COLINA vai ser composta por JUAREZ, ANGELO PEZZUTI, EU e, depois, "LIA" e HERBERT EUSTÁQUIO DE CARVALHO ("DANIEL") são cooptados; JUAREZ e PEZZUTI ficam nos Seteres de Operações (GB e MG, respectivamente), EU no Setor de Levantamento de Área e "LIA" e "DANIEL" nos Setores de Massa. No meu setor (levantamento de áreas), me auxiliaram: REINALDO JOSÉ DE MELO ("RAFAEL" - banido) e o ERWTN RESENDE DUARTE (preso).
- 03. ATUAÇÃO NA COLINA
A partir de setembro de 1968, são realizadas viagens de levantamento a MINAS GERAIS, ESPIRITO SANTO (CAPARAÓ), MATO GROSSO (NW de CUIABÁ), PARANÁ (SW), SANTA CATARINA E MARANHÃO. A última viagem não é feita pelo ERWIN, que devia ter sido preso em MINAS GERAIS.
Em janeiro de 1969, a COLINA foi duramente atingida em MINAS, assim como a VPR em SÃO PAULO. Em vista disso, a COLINA se concentra então na GUANABANA, sendo DILMA VANA ROUSSEF LINHARES ("WANDA"), cooptada para a Direção. Em abril 69, há uma reunião (não chega a ser Congresso) em TEREZÓPOLIS, quando se reestrutura a COLINA e o "MAX" (CARLOS FRANKLIN PAIXÃO DE ARAÚJO - preso) passa a integrar o Comando, juntamente com "CHIQUINHO" (CARLOS BRASIL - deve estar legalmente em PORTO FRANCO/MA). Além desses dois, são Comando: EU, JUAREZ, HERBERT ("DANIEL"), "LIA" e "WANDA" (DILMA ROUSSEF)."CHIQUINHO" e EU ficamos com a ÁREA, JUAREZ com o Setor de Operações e o restante encarrega-se das Regionais (RS, GB, MG, BA e GO).
EU e "CHIQUINHO" fizemos uma viagem ao NE, passando pela BA e CE (Chapada de ARARIPE). Quando regressamos, o Comando se reúne e resolve que a melhor área é de MARANHÃO/PIAUÍ (isso se deu em junho de 1969). Esta área é imensa (mais de 100.000 km2) - as cidades mais importantes selecionadas são: IMPERATRIZ, PORTO FRANCO, BARRA DO CORDA, TOCANTINÓPOLIS (N de Goiás) e continua para o lado de PIAUI, onde não chegamos a ir. A concepção do trabalho era ir enviando pessoas, de preferência legais, para a região fazendo um trabalho de implantação social e não propriamente um trabalho político de massa. Esse trabalho seria longo, demorado, pois só assim seria possível fazer algo que não "caisse" da noite para o dia.
- 04. A FUSÃO COLINA-VPR E A VAR-PALMARES
Em junho de 1969, há a 1ª reunião das Direções da COLINA e da VPR para estudar o problema da fusão. Em julho, uma 2ª reunião decide pela unidade. Desta, participaram, além dos 7 já citados da COLINA, 5 da VPR (LAMARCA, ESPINOSA (ANTONIO ROBERTO ESPINOSA, "BENTO", "LINO"), CLÁUDIO DE SOUZA RIBEIRO, "MARIO JAPA" e o FERNANDO CARLOS MESQUITA SAMPAIO, o "DIOGO"). A nova Direção, da VAR-P, fica composta de: LAMARCA, "MAX", MARIA DO CARMO BRITO ("LIA"), CLAUDIOI DE SOUZA RIBEIRO ("MATOS"), ANTONIO ROBERTO ESPINOSA e JUAREZ GUIMARÃES DE BRITO. Essa reunião foi no início de Jul 69 em MONGUAGUÁ, perto de Santos. Dessa data, até o I Congresso da VAR-P, fico dessetorizado; encontro-mo com alguns deslocados e recebo a tarefa de diseutir com eles - é assim que vou rever antigos militantes da COLINA e ter notícias de outros. Encontro-me com ATHOS COSTA E SILVA (atualmente em CUBA), com RATTON ("CLEMENTE"), com GILBERTO (o "RUIVO", de origem COLINA de UBERADA que caiu em SP junto com "WANDA"). Eles irão encontrar-se, por sua vez, com APOLO HERINGER LISBOA, CARMEM (sua mulher), VERA LIGIA HUEBRA ("VERINHA", baixinha, mineira, presa no RS), ANA (gaúcha, Setor de Comunicações, "caíu" na GB), NAHAS (irmão de JORGE), "TOMAZ" (o judeu), um casal de origem VPR ("PAULO" = ANTONIO DE PADUA PRADO JUNIOR, e "NARA" = IARA GLORIA AREIAS PRADO, e que cairam no Sul), o "CLÁUDIO" e, o irmão de RATTON (de GOIÂNIA) e "LUCIANO" (que caiu, posteriormente, com MARIANI = JOSE MARIANE FERREIRA ALVES, PRESO EM 29 DEZ 69).
- 05. OS "RACHAS" DA VAR-P
O Congresso da VAR-P desemboca no "racha dos 7". É realizado em TEREZÓPOLIS e a VAR-P é acusada de sabotar a guerrilha e se dedicar ao "massismo". Entre outros, lembro-me dos seguintes participantes: LAMARCA, "MARIO JAPA", CLAUDIO ("MATTOS"), LUNGARETTI, "MOISES", JUAREZ, "LIA", "MAX", "WANDA", ESPINOSA, "DANIEL", APOLO e a mulher, WELLINGTON, SAAVEDRA DURÃO, "FELIPE" ou "VALDO", "LOYOLA", "TADEU", "ALOISIO" (origem DDD da GB, foi para o CHILE), o "BODE" e a "JULIANA" ou "GALEGA". O congresso foi suspenso e nos 10 a 15 dias de intervalo, o JUVENAL, a "LIA", o "DANIEL" e o WELLINGTON romperam também com a VAR-P, levando com eles a INES ETTIENE ROMEU, o "DINO" e outros.
Na 2ª fase de Congresso, é eleito o Comando Nacional da VAR-P: EU, "MAX", ESPINOSA, "CLAUDIO" (JORGE EDUARDO SAAVEDRA DURÃO) e "LOYOLA". Na primeira reunião do CN, sou designado para o trabalho de área - a chamada "Executiva de Luta Principal". Os outros quatro dividem o trabalho da seguinte forma: ESPINOSA - Setor de Operações; "LOYOLA" iria reestruturar GOIÁS; DURÃO e "MAX" se encarregariam das diversas regionais (MG, SP, GB, RS e BA).
Ainda em 1969, logo após o término do Congresso, o APOLO, a CARMEM, um MILITANTE da COLINA/GB de origem boliviana (daí o "BOLIVIANO") rompem com a VAR-P e carregam com eles o "TOMAZ" (judeuzinho) e um elemento do Estado Rio. Criam a chamada DVP, que, pelo, que sei, se encontra na GUANABANA.
- 06. SOBRE A ÁREA
Em fins de 1969/início de 1970, as primeiras pessoas começam a ir para a Área. São passadas a mim, entre dezembro 69 e junho 70: CARLOS BRASIL ("CHICO", "HONORIO" e "CHIQUINHO"); "DOUGLAS" (origem ALA VERMELHA); "CARLOS" (origem ALA VERMELHA); "ALBERTO" (origem NML, bancário); 2 camponeses de SÃO PAULO, da região de RIBEIRÃO PRETO; "MATEIRO" que ficou junto com "DOUGLAS"; o MARIANI; o "MARCOS", originário da BAHIA; o "LUCIANO", origem COLINA, que caiu com o MARIANI e o "OLAVO". Desses, MARIANI, "LUCIANO" e "MARCOS" caem quando se dirigiam para VITÓRIA DA CONQUISTA/BA, onde EU e o "DOUGLAS" nos encontraríamos com eles. Posteriormente, "DOUGLAS" sobe para o MARANHÃO e, de lá, para o PARÁ e se localiza mais ou menos a NW de IMPERATRIZ (no local chamado "ZERO"), levando com ele o MATEIRO (também origem ALA VERMELHA). "DOUGLAS", posteriormente em julho ou agosto de 1970, fura o ponto (e a alternativa) e foi para SÃO PAULO se ligar à VPR (conforme conta ao seu irmão, ligado a "ARI" - ADILSON FERREIRA DA SILVA); diz aí ao seu irmão (talvez DIMAS ANTONIO CASEMIRO, foragido) que recebera da VPR cerca de Cr$ 20.000,00 para continuar o trabalho, alegando, além de divergências políticas, o fato de que nós, da VAR-P, estaríamos negando-lhe dinheiro e sabotando seu trabalho. "DOUGLAS" ficou com o "MATEIRO" e a esposa deste. Nós lhe deramos, de 2 ou 3 vezes, um total de 15 a 18 milhões de cruzeiros, para comprar uma gleba (posse) e ali iniciar, com calma, sua infiltração social, assim como o reconhecimento de toda a região adjacente.
Alguns dados sobre os outros elementos da Área:
- "CARLOS" (ou "CARLITO" ou "MANECO"): em fevereiro ou março de 1970, "CARLOS" foi para IMPERATRIZ e se instala no Município (não na sede), parece que com um pequeno comércio. Foi-me passado ainda em dezembro, mas tinha ido a SÃO PAULO resolver uns problemas. Estive com ele em IMPERATRIZ em julho ou agosto e em BELÉM (Novembro). Passei um ponto com ele para o "ALBERTO", mas perece-me que em final de Dezembro ele furou um ponto, mas tinha alternativa para Janeiro ou Fevereiro, que "ALBERTO" cobriria.
"CARLOS" deslocou-se para a Área juntamente com "CERQUEIRA" e sua família (este, também, origem ALA VERMELHA) para alguns quilômetros acima de IMPERATRIZ (no sentido do RIO TOCANTINS - no mapa, ao Sul de IMPERATRIZ). "CARLOS" comprou uma gleba à margem desse rio, no lado de GOIÁS - não é um povoado, apenas um aglomerado de casas (a uns 10 a 15 quilômetros de IMPERATRIZ). Eram conhecidos como "MINEIROS" ou "GOIANOS". O "CARLOS" já saiu de lá; participou do Congresso de RECIFE e tem ponto marcado com o "CIRO" (JAMES ALLEN LUZ) para a 2 fase. Em principio, não voltaria mais para a Área. O "CERQUEIRA" continuou lá.
- DOIS CAMPONESES de origem paulista (RIBEIRÃO PRETO). Fiz um ponto com eles em SÃO PAULO, em junho, passado pelo "MAX". Nessa oportunidade, passei-lhe aproximadamente Cr$ 18.000,00 para os dois, para a transferência deles e suas famílias e instalação na região. A cidade de IMPERATRIZ foi dada como ponto de orientação, para se localizarem a algumas dezenas de quilômetros de lá. Em princípios de agosto estive com os dois em BELÉM e eles desceram para encaminhar a tarefa. Quando retornei em novembro, eles não cobriram ponto comigo, nem a alternativa (24 horas depois). O "ALBERTO" cobriu um ponto um mês depois (pois eles poderiam aparecer), mas não o fizeram, ficando perdidos.
- CARLOS BRASIL ("CHICO", "CHIQUINHO" e "HONÓRIO"): foi o que primeiro se transferiu (Nov/Dez 69). Estive com ele em Março ou Abril em BELÉM, em julho ou agosto em IMPERATRIZ, mas em Novembro nos desencontramos em BELÉM. Não tenho certeza se quem furou o ponto foi eu ou ele. Encontra-se abaixo de IMPERATRIZ, possivelmento em PORTO FRANCO e eu teria que ir lá para achá-lo. É médico e clinica na região (PORTO FRANCO); tem uma C-14 bege (ou amarela); é muito cuidadoso em matéria de segurança, tendo se negado a comparecer no Congresso já que "sua clientela iria desconfiar de sua ausência". Apesar de legal, CARLOS BRASIL foi Direção da COLINA, conforme já relatado.
- "ALBERTO": de origem bancária, veio do NML (NUCLEO MARXISTA LENINISTA - dissidência da AP). Fiz pontos com ele em março, abril, agosto, novembro e janeiro (este último no NE, aliás, primeiro no RIO, depois no NE para o Congresso). Ele tinha ponto com o "CARLOS", para recuperar. Tenho um ponto com ele para princípio de março, no RIO (já aberto em depoimento anterior). Ele não estava fixo, entre BELÉM e SÃO
LUIZ, parece que montando em esquema de representação que lhe desse uma fachada mínima. Antes de descer, passaria novamente pelo NE. Sua esposa, SARA, é legal e atua também.
- "CRISTO": é baiano e está em IMPERATRIZ, onde é conhecido como "CARECA" ou "BAIANO". É preto, forte, totalmente calvo e tem um jeep que faz serviço de taxis. Deve ser legal. Foi-me passado por "VALDO" (FERNANDO LUIZ NOGUEIRA DE SOUZA, preso) que poderá identificá-lo.
- CASAL DE CAMPONESES: não é, na realidade, um casal, mas uma família constituída de um casal de velhos, um filho adulto, uma filha e seu marido e 2 a 3 crianças. Não são militantes, mas simpatizantes. Estão acima de IMPERATRIZ, 10 a 15 kms, à margem direita da BELÉM-BRASILIA. Foram ampliados por JOÃO LUCAS ALVES e SEVERINO VIANA CALLOU (ambos mortos) e são originários do Estado do Rio. O velho é "cantador", ajuda a rezar missa e, por isso, é muito conhecido na região. Foram-me passados em um ponto na BAHIA, no princípio do ano. Têm contato com o "CIRO" (JAMES ALLEN LUZ, foragido).
- "TIÃO": estava em PARAGOMINAS/PA (BELÉM-BRASILIA); é legal. Lá exerceu profissão de rádio-técnico (oficina montada em sua casa); talvez seja (ou tenha sido) a única oficina de rádio da cidade. Por ser a cidade inexpressiva e estar fora da área, ordenei-lhe que saísse de lá e procurasse outra região. Deslocou-se para a BAHIA, com família, perdendo o contacto, só se encontrando por acaso com "LOYOLA" que marcou um ponto para mim, no RIO (já "aberto" em depoimentos anteriores).
- "LUIS": origem DDD, entrou na clandestinidade porque seu nome surgiu como um dos autores do sequestro do Embaixador Americano ("LUIS" não teve nada a ver com isso); tem ligação com o ME de BELÉM. É de origem judáica. Pode ser identificado por JORGE EDUARDO SAAVEDRA DURÃO ("CLAUDIO" - preso).
- "OLAVO": em abril de 1970, tive um ponto com senha com "OLAVO", origem COLINA/GB, que tinha estado um período em MINAS. Nesse ponto, concluímos que, além de ele ser um pouco queimado, ainda usava o nome legal. Ficou, pois decidido que ele voltaria à GB para arranjar documentação falsa e alguma representação que lhe desse fachada legal na região. Passei o ponto para ele em maio, com o pessoal das comunicações (parece que ele caiu nesse ponto).
Quase nada se conseguiu na área. As pessoas estavam, inicialmente, se implantando, conhecendo a região, se ambientando, para, a partir daí, poderem enriquecer as informações sobre os melhores locais. O objetivo era, depois de feito todo esse trabalho social mas também político, possibilitar a atuação guerrilheira, tendo cobertura local. A falta de quadros e a queda de alguns que já se deslocaram limitam profundamente o trabalho. O estrangulamento maior vai se dar a partir de agosto, com as quedas de SÃO PAULO, que vão tornar totalmente impossível qualquer novo deslocamento. Discutia-se mesmo a validade de eu continuar ligado ao trabalho, já que teríamos que desenvolver trabalho na GB e em SP, onde a Organização fora praticamente aniquilada (principalmente em SP). Fora, sem dúvida, um trabalho pioneiro, mas os poucos que lá estavam ou estão não poderiam realizar nada. Discutia-se mesmo sua transferência (o que seria feito no Congresso, na parte de planejamento) para o RIO ou são PAULO. De qualquer forma, nada ficou decidido - o Congresso é que iria deliberar.
07. O CONGRESSO DE RECIFE
0 Congresso realizou-se no RECIFE, a partir de 23/24 de janeiro. Participaram: "NELSON" ou "ITALIANO" ou "TONINHO" ("MAX" o conhece) por SÃO PAULO, "MARCOS" e "MIGUEL" (NE), "ALBERTO" (pela área), além de EU, "LOYOLA", "CRISTINA" (ANA MATILDE TENÓRIO DA MOTTA), "CELIA" ou "CECÍLIA" (ex-amante de RAUL ELWANGER que está no CHILE), "WALTER" (antigo "JOAQUIM" do RS - deve ser ANTONIO DA CUNHA LOUZADA), "EMILIO" e "JUCA" pela GB e os "rachados" de SP, "ARI" (ADILSON FERREIRA DA SILVA) e "HABIB" (DAVID GONGORA JUNIOR). Compareceu também um representante do PCBR, creio que seu codinome é "CECI" - alto, cabelo tingido de louro, origem AP e bastante transtornado. Os dois "rachados" ficaram só uns 2 (dois) dias e perturbaram bastante os trabalhos; exigiram que o Congresso durasse no máximo 10 (dez) dias, exigindo que o temário fosse discutido nesses dias, o que não foi aceito e eles se retiraram. Os debates giraram em torno do Programa, que não foi fundamentalmente afetado, e da tática. As discussões se centralizaram sobre a conjuntura, tendo sido aprovado o artigo do Comando Nacional na revista AMERICA LATINA (com ressalvas no que se refere a um certo pessimismo do artigo). Sobre a tática operária, existiam duas posições: uma que achava que para se entrar na União Operária era preciso ser contra o regime capitalista e outra, que achava que bastava se dispor à luta pelos interesses da classe - a primeira posição foi aprovada, sendo que "EMILIO", EU e "ALBERTO" se colocaram contra. A posição aprovada advinha de uma análise, a meu ver irreal, do nível de consciência atual da classe operária. Nesse ponto da discussão, o representante do PCBR (acho que no dia 2 ou 3 de fevereiro) fugiu da casa na hora do almoço, pulando o muro de tráz e correndo. Isto, além do fato da saída do "ARI" e do "HABIB" e, pelo ambiente na região não estar bem (alguns carros policiais passavam pelo local) levou à suspensão do Congresso e seu adiamento por mais ou menos um mês, em outra região. Manteve-se um comando provisório composto por mim, "LOYOLA" ou "CORONEL" e "CIRO" (JAMES ALLEN LUZ). Desci, então, para a GB, tentando alugar uma casa de praia, o que não chegou a ser feito, pois fui preso. "CIRO" e "LOYOLA" deveriam continuar no Comando. EU não estava propenso a aceitar e coloquei isso para o Congresso, não só por condições pessoais mas também por posições políticas. Para a 2 fase do Congresso, ficou estipulado que seriam discutidos os seguintes assuntos: táticas componesa e estudantil; política de organização; estatutos; estrutura orgânica; critérios de recrutamento e militância; planejamento a curto e a médio prazo (fechar ou não algumas regionais, concentrando em 2 ou 3 regiões), política de frente (organizações mais próximas); validade ou não de ações armadas; balanço crítico geral; discussão ideológica e eleição do Comando e setorização dos seus membros.
A casa utilizada situa-se na praia de PIEDADE, perto de CANDEIAS (na rua principal, paralela à praia, por onde passa o ônibus Candeias); o número é dois mil quinhentos e pouco; casa de um andar, grande; jardim na frente, muro furadinho, varanda, dois portões (um grande e um pequeno), fachada com pastilhas azuladas claras. Antes dela, tem uma casa menor, depois uns dois ou três lotes vagos. Creio que foi alugada em janeiro, por 2 ou 3 meses.
08. O COMANDO NACIONAL DA VAR-P
Conforme já visto, com o 1º Congresso, em setembro/outubro de 1969, o Comando é constituido de: "MAX" (preso), "CLAUDIO" (JORGE EDUARDO SAAVEDRA DURÃO - preso), o "LOYOLA" ou "CORONEL", o ESPINOSA, preso) e EU; o primeiro a ser cooptado é o "ALDO" (CLAUDIO JORGE CÂMARA - preso). Com a queda de ESPINOSA ("BENTO") é cooptado o "VALDO" (FRENANDO LUIZ NOGUEIRA DE SOUZA, também preso). Com as quedas de "CLAUDIO", "MAX", "ALDO" e "VALDO", restamos apenas EU e o "LOYOLA" que decidimos não cooptar mais ninguém até o Congresso (inclusive porque não víamos quem poderia ser cooptado). Na prineira fase do Congresso de RECIFE, o "CIRO" (JAMES ALLEN CRUZ) foi eleito para compor, com os dois já existentes, provisoriamente, o Comando Nacional, continuando as Regionais a viverem semi-autônomas, situação que se deu a partir da queda de "MAX" e "VALDO".
As reunião do CN que EU me lembro foram as seguintes:
- Em Outubro/Novembro 69, na GB, em um apartamento no LEBLON, alugado pelo "MAX" (estourado). Tratou-se de: divisão de tarefas, envio de alguns militantes para o NE e início de trabalho na Área.
- Em Dezembro/Janeiro 70, em GUARAPARI: apartamento de temporada, alugado por alguns dias. Foram tomadas as seguintes decisões: lançar a tribuna de debates internos e o jornal PALMARES; discusão sobre situação política, com a elaboração de um documento sobre a conjuntura política nacional.
- Em Fevereiro/Março 70, na Região dos Lagos (RJ): parece que em SAQUAREMA (ou ARARUAMA ?); casa de temporada alugada por "ALEX" e esposa (ambos banidos). Sai um longo documento, definindo militante, parapartidários, simpatizante e aliado; sai, ainda, a tática operária que o Congresso não elaborava, aprovando apenas as linhas gerais. Delibero sobre a transferência de "LOYOLA" para o NE a fim de assumir a direção do trabalho; aprovação dos estatutos.
- Em Maio/Junho 70, em CURITIBA: casa alugada por "BODE" (ROBERTO HEINZ METZGER), reunião lenta - sai a tática camponesa, o jornal PALMARES, um documento sobre nível ideológico/nível político, uma análise de conjuntura. Também se decide sobre a convocação do Congresso para resolver alguns impasses (concentrar mais ou dispersar, fazer ou não ações armadas de propaganda, atualização tática). Dessa reunião, participa, pela primeira vez, o "VALDO". A reunião leva uns vinte dias.
Logo após essa reunião, caem o "ALDO" e o "CLAUDIO" e ocorreu furos de pontos com o "VALDO" que é encontrado, por acaso, na rua. Faz-se, então, uma reunião de emergência na casa de um parapartidário ou simpatizante operário, numa favela. Fomos até às imediações de taxi e fechados, levados pelo "VALDO". Tomam parte: EU, "VALDO", "MAX" e "LOYOLA". Esta reunião é em final de julho e o Congresso é adiado para convocação posterior.
A partir daí, não se reune mais o Comando - o "MAX" cai em SP e o "VALDO" no RIO ocasionando desestruturação bastanto acentuada. EU e "LOYOLA" nos reunimos em Setembro/Outubro em pontos de rua no RECIFE e na GB (Praia de BOA VIAGEM, Praia de BOTAFOGO, etc...). Convoca-se então o Congresso, já que os dois (EU e "LOYOLA") julgamo-nos incapazes de resolver a crise violenta que se abatera sobre a Organização e não víamos quem iríamos cooptar para o CN.
09. REUNIÕES PREPARATÓRIAS PARA O CONGRESSO DE RECIFE:
(JANEIRO/FEVEREIRO 71)
Houve as seguintes reuniões preparatórias:
a. Reunião preparatória na GB, para o Congresso de RECIFE:
Em fins Dez/início de Jan 71, "BRENO" e "LOYOLA" tomaram parte na reunião preparatória da Regional/GB (durou 3 a 4 dias). Esta reunião foi realizada no "aparelho" de "MARCELO", para onde todos os participantes foram "fechados" ("BRENO" acha que é na Zona Sul, um apartamento de 2º ou 3º andar). Tomaram parte na reunião:
- "EMILIO" ou "ANDRÉ" ou "MIGUEL" ou "ROBSON" (SERGIO EMANUEL DIAS CAMPOS), Cmdo Reg.
- "MARCELO" (= GERALDO LEITE) - residente no aparelho; deve ser legal, tem um volks creme ou gelo. Deve ser do Setor de imprensa.
- "MARIA" (= ROSALINA SANTA CRUZ LEITE) - amante de "MARCELO"; é bem bonita. "BRENO" teve 2 ou 3 pontos com ela; ela esteve em Recife, onde cobriu um ponto com "BRENO" no dia 18 ou 19 Jan, à noite, a fim de lhe entregar a documentação para o Congresso (toda documentação é rodada na GB). "MARIA" não tomou parte no Congresso.
- "ADRIANA" (= MARIA EMILIA SILVA) - origem mineira, amante de "ORLANDO" com quem reside. Fez curso de jornalismo em MG. Parece ser legal e não trabalha fora.
- "ORLANDO" (= OSMAR SANTOS) - é do GAV/GB, origem COLINA, estudantil. Bastante conhecido no ME de MG como "GRILO". É natural de uma cidade chamada COROMANDEL, em MG. Quem o pode identificar, como "GRILO" é ERWIN RESENDE DUARTE, preso em Minas.
- Observação: Talvez seja OSMAR SANTOS.
- "JUCA" ou "ZÉ" (= CARLOS HENRIQUE VIANA PEREIRA) - é, também, Comando Regional. Seus pais foram presos, há uns 3 meses, por motivo de cartas enviadas do CHILE para ele. No dia 4 ou 5 Fev 71, "BRENO" hospedou-se com "JUCA" no Hotel PARAISO, na Rua dos Democratas, em SALVADOR; nessa oportunidade, "JUCA" registrou-se no Hotel com o nome real, por estar sua documentação falsa deficiente; "BRENO" registrou-se como PAULO ROBERTO DE SOUZA. "JUCA" é de origem DDD.
- "TEREZA" (= HELIANA GASPAR BIBAS) - amante de "JUCA", não deve ser legal
- "MATEUS" - pára-partidário ou simpatizante, representante do ME. É estudante e legal.
- "TEREZINHA" - originária de MG; "BRENO" cobriu 2 pontos com ela, para receber documentação falsa. Morava com "BIGODE".
b. Reunião preparatória em SP, para o Congresso de RECIFE:
A reunião foi realizada em CARAGUATATUBA, numa casa alugada por "BRENO" (saindo de uma praça onde tem uma fonte luminosa, entra-se numa rua em direção contrária à praia; a casa fica à esquerda, quase no fim da rua; o dono da casa tem um caminhão que fica sempre parado à porta). Tomaram parte, além de "BRENO": "NELSON" (ou "ITALIANO"); "VERA" ou "SHEILA" (identificada per "BRENO" como OROSLINDA MARIA TARANTO COULART, origem COLINA); "ZÉ MARIA" (origem bancária, entrou na clandestinidade com as últimas quedas da VAR-PALMARES em SP) e "JUSTINO" (origem estudantil). "MAX" pode identificar "NELSON". A reunião durou 3 dias. Esta reunião foi realizada após o dia 20 Dez.
c. Reunião preparatória em RECIFE, para o Congresso:
Foi levada a efeito em um "aparelho" perto da praia, em princípios de Dezembro e durou 3 a 4 dias. Tomaram parte: "BRENO", "LOYOLA", "MARCOS", "CRISTINA", "CELIA" ou "CECILIA" (amante de RAUL ELWANGER), "MIGUEL" (ou "MANOEL") e mais 2 camponeses levados pelo "LOYOLA".
d. Reunião preparatória na ÁREA, para o Congresso em RECIFE:
Houve 2 reuniões (face à transferência de data do Congresso): em Ago 70 e em Nov 70.
Ambas foram realizada em um "aparelho" na lha do Mosqueiro (em frente a BELÉM) e tomaram parte: "BRENO", "ALBERTO" e a mulher SARA, ...UI, "TIÃO", "CRISTO" e "CARLOS" (ou "MANECO"). O "aparelho" foi alugado por "ALBERTO" e SARA.
10. ATUAÇÃO NO CEARÁ
No princípio deste ano (1971), através "LOYOLA", fizemos um contacto na BAHIA, com um antigo militante do PCB de codinome "HUMBERTO" (é de FORTALEZA, da família ALENCAR e foi ou é professor ou assistente da Universidade do CEARÁ - esteve preso várias vêzes, antes e depois de 1964). "HUMBERTO" tentava formar um grupo para luta armada. Esses contatos resultaram no encaminhamento de vinte e pouco milhões de cruzeiros para montar uma empresa cujos lucros reverteriam para a VAR-P. Segundo soube, foi montada uma empresa de compra e venda de madeira e, apesar de ter vendida duas partidas de madeira, soube que ela faliu. Pertenceu ao grupo de "HUMBERTO": "TORRES" (que se deslocou posteriormente para SP e rompeu com a VAR-P), um antigo operário "HIDALGO" e um outro, chamado de "PLACIDO" ou "BAIXINHO". Estive com eles, 2 ou 3 vezes em FORTALEZA, para discutir com eles (tomaram parte nessas reuniões, também, "CRISTINA" e um rapaz do interior). O nível deles era baixíssimo. Eles se diziam membros da VAR-P, mas pelo desinteresse e falta de ideologia, achei conveniente a sua não participação no Congresso.
11. SITUAÇÃO DA VAR-P NO RIO GRANDE DO SUL
Quando de sua entrada no BRASIL, o "CIRO" (JAMES ALLEN LUZ) fez contatos no RS e marcou um ponto no RIO para mim. Veio uma moça (não conheço) e EU passei para ela Cr$ 3.500,00 e pedi-lhe para que "JOAQUIM" (talvez ANTONIO DA CUNHA LOUZADA) viesse ao RIO - "MAX" o conhece legalmente. Encontrei-me com ele a fim de convidá-lo para o Congresso de RECIFE.
A situação no RS é legalmente acéfala e desorganizada. Ele ("JOAQUIM", agora "LAURO") mantém uns 6 ou 7 operários como militantes, mas de baixo nível político. No Sul, não houve reunião preparatória para o Congresso, já que só "LAURO" tinha condições de comparecer e opinar.
12. INFILTRAÇÃO NAS FORÇAS ARMADAS IMPRENSA E CLERO
A VAR-P não tem infiltração nas FFAA. Os contatos possíveis, se existem, são ou eram da VPR (através de seus militantes ex-militares). Após o "racha" (Set 1969), comentava-se que a VPR teria entrado em contato com o grupo do Gen AL (ALBUQUERQUE LIMA), sendo mal recebida por este que declarou não "dialogar com terroristas". Há também comentários que o Gen AL vem se encontrando com JANIO QUADROS.
Na Imprensa, desconheço qualquer aliado ou simpatizante da VAR-P ou de outras Organizações (de quem eu tenha conhecimento, apenas o GABEIRA - banido - que poderia ter feito muita coisa, caso não caísse).
No clero, existia um aliado no RECIFE, padre da Igreja Brasileira (GERALDO MAGELA DO NASCIMENTO) que foi preso. Em casa de MARIA DE LOURDES SIQUEIRA (amante de "CIRO"), foi-me apresentado um padre francês ao qual, expus-lhe, em linhas gerais, a finalidade da VAR-P; ele mostrou-se interessado e manifestou o desejo de discutir o assunto com detalhes posteriormente. Nessa ocasião, ele prometeu-me entregar um exemplar de "AMERICA LATINA" a TEOTONIO, no CHILE e tentar conseguir na EUROPA documentação falsa para a VAR-P. Ele é alto, corpulento, anda à paisana, cabelos esbranquiçados com entradas, tipo europeu (identificado posteriormente como FRANCISCO LESPINAI). Tem funções na Conferência dos Bispos de França e sua missão oficial, quando visita a AMÉRICA LATINA, é assistir os padres franceses neste continente. É bastante radical e profundo conhecedor da Igreja Brasileira. Deve retornar ao BRASIL em março ou abril.
13. A VAR-P NO EXTERIOR:
A Organização não mantém militantes no exterior. Na FRANÇA, o "JACQUES" (antigo "AMAURI" ou "GORDINHO" da POLOP e depois da VPR - foi para lá em 1968) se considera próximo da VAR-P e divulga seu material na imprensa (progresso, campanhas de torturas, etc...). O seu último endereço para correspondência era o de SAMUEL ("MORAIS") - 18, Rua des Ecoles, PARIS. No CHILE, existem o TEOTONIO DOS SANTOS e sua esposa VANIA BAMBIRRA DOS SANTOS e RUI MAURO MARINI - nenhum dos três é militante da VAR-P, apenas simpatizam com a Organização e aceitam divulgar material político. A comunicação com estes está perdida há algum tempo (de lá para cá); daqui para lá, é feita através de envio de material para o CESO (Centro do Estudos Econômicos e Sociais) da Universidade do CHILE.
14. O SEQÜESTRO DO AVIÃO E OS BANIDOS
Fui designado pelo CN da VAR-P de discutir com o "CIRO" (JAMES ALLEN LUZ) sobre um seqüestro de avião para CUBA, com tríplice objetivo: diminuir o monopólio de CUBA pela ALN e VPR, conseguir treinamento para alguns militantes e tirar do BRASIL a mulher e filhos de FAUSTO FREIRE. Após discutirmos o assunto, "CIRO" cncarregou-se do planejamento e execução da ação. Tomaram parte: ATHOS ("RODRIGO"), ISOLDE SOMMERS ("ANITA, "MARIA"), CLAUDIO GALENO ("LOBATO"), o próprio "CIRO" (JAMES ALLEN LUZ), a mulher e os filho do FREIRE e um gaúcho levado por GALENO, sem autorização, eu não o conheço ("TIARAJU" - NESTOR ......... HEREDIA). Após o seqüestro, só soube de uma carta de ATHOS e da ISOLDE (que eu não li) na qual diziam que não haviam sido matriculados em cursos, não faziam nada e que os dois haviam rompido com GALENO, CIRO e o gaúcho ("TIARAJU").
Em fins de DEZEMBRO, o "CIRO" entrou no BRASIL, pelo URUGUAI, vindo por iniciativa própria; veio junto com ele o "LAURO", da FLN, ligado ao CERVEIRA. "CIRO" me disse que GALENO e o gaúcho já estavam no CHILE, assim como o "BAIANO" (ADERVAL ALVES COQUEIRO - morto) e que viriam para o BRASIL. Além desses, havia mais outros dois banidos (o "CIRO" e o "LAURO" os conhecem). Haviam montado um esquema de um carro para ir buscar o "BAIANO" e os dois banidos que eu não conheço e que a VAR-P tinha que fornecer os meios. A Organização, então, entregou-lhe Cr$ 10.000,00, sob a garantia de que o carro, após ser comprado e usado, fosse vendido e o dinheiro obtido restituido à VAR-P. "CIRO" disse-me, então, que como a VAR-P não tinha infra-estrutura para manter esse pessoal, seus aliados o ajudariam.
Estando com "LAURO", no dia 13 Fev à tarde, ele me contou que "COQUEIRO" havia lhe dito que tinha ponto no fim do mês no URUGUAI para pegar os dois banidos citados e encaminhar 15.000 dolares que a VAR-P deveria ceder para compra de armas. Disse a "LAURO" que a VAR-P possuía apenas pouco mais da metade dessa quantia e que, além do mais, não tinha infra-estrutura para mantê-los ("COQUEIRO" e os banidos) e nem para guarda e uso das armas. O "LAURO" disse então que passaria um telegrama para o URUGUAL, adiando o ponto por 30 a 60 dias, a fim de aguardar a volta do "CIRO" do NORTE, para discutir o assunto. Desse esquema, eram conhecedores o CERQUEIRA (banido), o APOLONIO (banido) e o "CIRO".
15. SOBRE AS ORGANIZAÇÕES:
a. DVP - Conheço elementos de origem COLINA e outros. Rompeu com a VAR-P depois do 1º Congresso. Conheço apenas o APOLO e CARMEM e o "TOMAZ". Outros elementos parece que são de origem estudantil das anos 67/68, com os quais nunca mantive contato. Nunca li documentos deles, a não ser uma carta de "racha", de muito baixo nível. Soubemos que não chega a ser uma organização centralizada. Parece que se concentram na GUANABANA.
b. GPR - Não tenho mínimo informe, pois é pessoal origem 1969, quando eu já tinha saído de MINAS. Só fui informado que os poucos quadros que a VAR-P tinha em BH, aos quais não se dava assistência, estavam mantendo contatos com o APOLO e a VPR e logo depois "racharam".
c. VPR, ALN e MRT - Não temos frente com eles, que, aliás, têm para conosco uma atitudo extremamente sectária em tudo. Os boatos que correm é que estariam bastante fracos (a VPR), reduzidos a pouco mais de 10 pessoas e, inclusive, com a oposição interna do LAMARCA, que estaria mais próximo do "HENRIQUE" (do MRT). Supõe-se que a direção seja LAMARCA e "DANIEL" (HERBERT). No exterior, corre um boato de que muitos banidos voltariam para fortalecê-la (segundo informe do "CIRO"), mas não se sabe de nada concreto sobre isso, já que o próprio "CIRO" se dava muito mal com os elementos da VPR em CUBA. Outro informe é de que os que estão em CUBA (ONOFRE, "MÁRIA JAPA", "LEO") não aceitam "JAMIL" e MARIA DO CARMO (na ARGÉLIA) como líderes da Organização.
Sobre ALN e MRT não temos nenhum informe, a não ser que atuam junto com a VPR. Suas linhas políticas se parecem. A VPR não tem um programa político estratégico e tático. É considerada "foquista", no sentido em que superestima o papel de um foco guerrilheiro atuando no campo e, portanto, subestima o trabalho político necessário junto às massas de trabalhadores do campo e da cidade. Mas, essas são colocações e não um programa definido, o que torna difícil uma apreciaçaão crítica maior sobre sua posição política.
d. O PRT e o PCBR - Em São Paulo, houve proximidade com o PRT, que tem uma linha política próxima à da VAR-P. Seus quadros, depois da queda de ALÍPIO são reduzidíssimos (4 ou 5, segundo nos disseram) e hoje só em São Paulo. Estamos com contato perdido desde dezembro, não sabendo sua situação atual. Sua estratégia é socialista, através da luta armada guerrilheira na cidade e no campo. Propõe trabalho junto à classe operária e aos trabalhadores rurais, além de ações armadas de comando. Seu elemento conhecido é ALTINO (ex-vice-presidente da UNE, em 1965). Também o PCBR propõe este tipo de trabalho, só que prega uma estratégia de libertação nacional, isto é, no caminho do socialismo, existe uma etapa de libertação nacional, da qual poderão participar setores progressistas da própria burguesia. Os contatos com o PCBR estão rompidos (o caso do Congresso e furo de ponto com o pessoal da GUANABARA). Inclusive tinha sido marcado um ponto deles com o "LAURO" e parece que eles haviam furado, segundo aquele me disse. Tem poucos quadros na GB e outros tantos no NORDESTE.
e. PCB, PC do B e AP - Sobre PCB, PC do B e AP não temos notícias, nem informe, nem contatos. São consideradas Organizações reformistas.
f. VAR-PALMARES - Considera o BRASIL um país capitalista dependente, ligado ao sistema capitalista internacional. É a própria situação de dependência que vai informar sua maneira de ser, isto é, suas estruturas econômicas e sociais, em suma, sua situação de subdesenvolvimento. Só rompendo com a dependência ele pode romper com o subdesenvolvimento e propiciar ao povo brasileiro o usufruto das riquezas nacionais. Isto significa o socialismo, pois requer o rompimento com a dependência financeira, econômica, de tecnologia, patentes, knowhow, etc. Isto requer uma luta longa, que tem que ser armada. A primeira fase dessa luta é considerada como de defensiva estratégica, isto é, a esquerda é fraca e o governo e o imperialismo fortíssimos. Tem que se ir acumulando forças a fim de mudar essa situação. Na medida em que as forças se modificam, com o fortalecimento da esquerda e a instalação da luta armada na cidade e no campo, passar-se-ia a uma situação de equilíbrio de forças - equilíbrio estratégico. Esta seria a 2ª fase da luta. A terceira e última seria a da ofensiva estratégica, quando as esquerdas fossem mais fortes que o governo e tivessem o apoio da maioria do povo, na luta decisiva pela tomada do poder político. Seria a fase de ofensiva estratégica, etapa final da luta revolucionária, que culminaria com a tomada do poder e a instauração do governo socialista do proletariado.
A curto prazo teria que conquistar bases sociais no proletariado urbano e rural, consideradas as forças básicas (em termos sociais) da Revolução. Aí estaria seu trabalho fundamental. Como sua situação financeira era bastante ruim, teria que formar um setor de operações (já que o tinha e que estava em formação rompeu: "ARI") para conseguir alguns meios de sobrevivência.
Teria que procurar auxílio do exterior, mas não havia nenhuma perspectiva concreta em vista, já que CUBA não reconhece a VAR-P enquanto Organização.
Só a partir do seu fortalecimento junto ao proletariado poderia almejar intensificar ações armadas. Seu isolamento atual, como o isolamento das demais organizações de esquerda, teria que ser rompido através de sua penetração no proletariado. Do contrário, o desaparecimento certo do cenário político nacional.
Após o "racha", a VAR-P pouco fez, pois quando começava a se organizar vinham as sucessões de quedas que a colocavam por meses a tapar buracos e remendar os ferimentos. Não conseguiu fazer nem ações de meios nem ações políticas; a queda da imprensa nacional impediu, por longos meses, a circulação de material. Só o mimeógrafo da GUANABARA funcionou nos últimos meses, assim mesmo para rodar um número da "AMERICA LATINA" (que já estava quase todo pronto há vários meses) e um jornalzinho ("UNIÃO OPERÁRIA") da região, que não conseguia ser distribuido.
16. POSIÇÃO DA VAR-P QUANTO A SEQUESTRO DE AUTORIDADES
O último seqüestro demonstrou, segundo análise da VAR-P, que o governo passou a ditar as regras. Isto significa que mesmo que aceite soltar novos presos, será numa situação ainda mais dura do que a da última vez. Este problema foi abordado no Congresso mas não se chegou a nenhuma posição oficial a respeito. A VAR-P no entanto, achava (pode mudar de posição no Congresso) que mesmo não havendo condições políticas de fazer seqüestro nessa conjuntura, isso não significa que em outra situação não se possa pensar em fazê-lo. Em termos práticos, em função de sua nenhuma capacidade operacional, não discute o problema de maneira concreta.
Como adendo: encontrando-me, casualmente, com JOSÉ ROBERTO (nome legal), atualmente na VPR (origem COLINA/MG) (JOSE ROBERTO GONÇALVES DE REZENDE, "BIGODE", "ERALDO", "FLAVIO", "NELSON", "RODOLFO", "RONALDO", em fins de DEZ 70 em COPACABANA, disse-me ele que, nas listas de nomes exigidos (a serem trocados pelo Embaixador suíço) não constavam nomes da VAR-P, porque ela era contra os seqüestros e que os elementos da VAR-P que tinham caído (os Comandos) tinham aberto tudo o que sabiam sobre a VPR. Isso originou uma discussão violenta entre nós, nos separando em seguida.
17. FRENTE BRASILEIRA DE INFORMAÇÕES
Parece que a FBI não chega a congregar organizações, mas sim pessoas. Quem tem maior peso é o MIGUEL ARRAES e o MARCIO MOREIRA ALVES. Há também uma irmã de ARRAES. Pelo que se sabe, é a VPR que tem mais influência (há até comentários de uma aliança com ARRAES) - ela, a VPR, a influencia mas não a domina. O "JAQUES" não chega a ter influência na FBI, apenas trabalha para ela, de maneira não fixa - ele sabe, com certeza, os integrantes da FBI.
18. SITUAÇÃO ATUAL DA VAP-P
Após as quedas no SUL e as de SÃO PAULO, a VAR-P ficou restrita a pouquíssimos quadros no NE, GB e SP.
No NORDESTE, existiam:
- "LOYOLA";
- "MARCOS" (origem ALA VERMELHA. transferido para o NE junto com "JORGE CURURU", este agora na VPR; "MARCOS" pode ser identificado por "MAX" e "VALDO");
- "ANTONIO" (origem NML); e
- o irmão de NAHAS - ambos presos;
- há, ainda, em PE, o "MIGUEL" ou "MANOEL", camponês da região ampliado por "LOYOLA", com quem mantém ligação;
- na BAHIA, existe um elemento de codinome "BAIANO" que tem contacto com "LOYOLA".
Na GUANABARA, segundo o "EMILIO" (SERGIO EMMANUEL DIAS CAMPOS), há alguns pouco militantes sem capacidade operacional (ver letra "a", item 09) e alguns parapartidários ou simpatizantes (existem contatos no ME da GB).
Em SÃO PAULO, após as últimas quedas, restaram (que eu conheço):
- "NELSON" ou "ITALIANO" (antigo "ORFIRIO", gaúcho, já esteve na GB em fins de 1969 mas foi transferido para SP; "MAX" pode identificá-lo); e
- "VERA" ou "SHEILA" (OROSLINDA MARIA TARANTO GOULART - antiga militante da COLINA/MG). Creio que ambos têm contatos no Movimento Operário.
No RIO GRANDE DO SUL, "WALTER" (talvez ANTONIO DA CUNHA LOUZADA) me disse que só haviam restado seis a sete operários que, embora de baixo nível político, ele ("WALTER") os considerava militantes, por falta de quadros melhores
Na ÁREA e no PARÁ, são os elementos já citados (ver item 06).
Desde SETEMBRO de 1970, a VAR-P vive de forma federativa: cada Regional (ou, às vezes, cada militante) agia como achava melhor, até que o Congresso decidisse.
Em dezembro de 1970, na GB, fiz um ponto com um elemento do PCBR, convidando-os a enviarem um representante ao Congresso do RECIFE. Foi, então, marcado um ponto com senha para esse representante. Em SP, fiz um ponto com "ARI" (que ainda se dizia VAR-P e tinha ficado com sete ou oito "rachados") a fim de que ele enviasse dois representantes para o Congresso (o que foi feito). O PRT furou um ponto comigo, marcado pelo "ARI" e não foi representado no Congresso.
Quanto à situação financeira, restavam ainda cerca do 8.000 dólares do cofre do ADEMAR - 5.000 dólares estavam no meu "aparelho" na Rua Farme de Amoedo (estourado) e 2.000 dólares remeti ao "LOYOLA", através CRISTINA (ver depoimento do dia 26 FEV 71). Havia, ainda, em meu "aparelho" cerca de Cr$ 1.000,00. Essa importância (8.000 dólares) daria ainda para uns 4 ou 5 meses, inclusive o aluguel da casa para a 2ª Etapa do Congresso. Como se vê, a situação financeira é ruim já que o grosso do dinheiro caiu com o "ALDO" no RS.
Parece que existe um investimento no exterior - não sei exatamente o que seja, mas foi coisa de 25.000 dólares, que o irmão de "MAX" (= LUIZ HERON PAIXÃO DE ARAUJO - o "LOYOLA") levou para o exterior.
Não existe, na Organização, nem Imprensa Nacional nem Setor de Comunicações (os próprios membros do CN marcam ponto com as Regionais). Tudo gira em torno do Congresso e das definições que ele terá de adotar. Há, mesmo, perspectiva de haver um "racha" - o pessoal da GB se separando do NE; os que estão na Área não têm ainda definição elara, nem os de SP.
O armamento da VAR-P se reduz a uns dez a quinze revólveres calibre 38 e 32 e pouquíssima munição (2 a 3 cargas por arma). Não há, creio, nenhuma arma longa. Parece-me que no NE, há uma espingarda calibre 44. O único FAL que ainda tínhamos ficou com o "ARI", que "rachou". Este armamento (segundo fui informado) é o que restava do que não caiu, tendo sido comprado alguns revólveres avulsos.
Quanto à impressão de documentos, o "EMILIO" é que está a par de tudo, já que toda a documentação é confeccionada na GUANABARA.
19. CONJUNTURA POLÍTICA ATUAL
De acordo com análise que se pode fazer, o governo tem conseguido tentos econômicos (o que não significa que resolveu as contradições). Na medida em que elas são pelo menos atenuadas, torna-se mais difícil para a esquerda fazer avançar o seu movimento. A atual situação é de extrema debilidade para a esquerda brasileira, dispersa, desunida, sem lideranças e sem apoio popular. Os aparelhos de segurança do governo marcaram os últimos tentos e a esquerda, já combalida, ameaça desestruturar-se totalmente. Isto não quer dizer que a idéia da mudança social acabe, mas a situação subjetiva lhe é desfavorável. Na medida em que sejam tomadas medidas econômicas que pelo menos diminuam um pouco o arrocho salarial e sejam feitas modificações na estrutura agrária pode-se minorar a crise da maior parte do povo brasileiro. A questão imediata, e a médio prazo, está ai. De qualquer forma, pelo menos conjunturalmente, a situação é extremanete desfavorável à esquerda e, principalmente, aos grupamentos revolucionários que hoje, mais do que nunca, estão isolados das massas, numa briga direta com o governo, e entre si, na qual só levam desvantagens. Isto os fatos do último ano vêem mostrando e, principalmente, os últimos acontecimentos dos últimos meses. É claro ainda que uma abertura política atenuaria parte dos argumentos da esquerda (mas isso não é o fundamental e sim a situação econômica).
Em 28/02/1971.
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