Postagem Dag Vulpi 03/05/2011
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Marco Lisboa Estou concluindo meu
livro sobre o Araguaia e tive que modificar vários trechos, a luz do diário de
Grabois. Mais tarde comentarei documentário.
Paulo Oisiovici Por quê modificou? Não
vá na onda da mídia!
Marco Lisboa Porque ele parece ser
em grande parte autêntico e complementa informações importantes sobre a
guerrilha. Ele reforça várias conclusões as quais eu já havia chegado. Estou
procurando ser o mais imparcial possível e o meu propósito é escreve...r a
história como foi realmente e não como deveria ter sido. Meu livro não se
prestará às conveniências políticas de momento. Por exemplo, faço uma avaliação
muito crítica à atuação da Comissão Militar. Isso em nada diminui minha
admiração pela pessoa do Grabois. Acho que a homenagem mais sincera que se pode
fazer aos que tombaram é uma análise correta do que foi a guerrilha. Já que os
companheiros não estão mais presentes para fazer esta crítica, devemos fazê-la.
A verdade é revolucionária.
Paulo Oisiovici Se eles não estão mais
presentes, essa atitude não é uma homenagem sincera, não... É o julgamento mais
parcial que conheço, pois à parte avaliada/julgada não será dado o direito de
apresentar sua versão/argumentação (direito ao contraditório), por não estar
presente. Todo julgamento que ocorre sem todas as partes envolvidas, é uma
farsa... é leviano, ilegítimo e injusto... Uma análise deturpada, precária,
parcial, incompleta... Quem somos nós para julgar a justeza da Guerrilha do
Araguaia, o procedimento dos camaradas... Só quem pode julgá-los é a História e
mais ninguém... Não temos a devida formação para fazer isso... Quem de nós já
se devotou e entregou sua vida tão generosamente à causa da liberdade e do
socialismo mais que aqueles camaradas? Homens que fazem isso estão muito acima
de nós para que os possamos julgar. A imparcialidade científica e/ou
jornalística é um mito que só serve à classe dominante... É muita ingenuidade,
analfabetismo político ou revisionismo, falar de análise imparcial de um fato
histórico numa sociedade de classes com interesses antagônicos
irreconciliáveis... O julgamento feito ou emitido, nessas condições jamais será
uma verdade revolucionária, mas sim uma verdade reacionária!
Paulo Oisiovici Assim que for
publicado, vou estudar o texto de seu livro, fazer a resenha crítica da obra e
publicá-la...
Paulo Oisiovici Citações favoritas:
“Destino das explicações:
Em algum lugar deve haver uma lixeira onde estão amontoadas as explicações.
Uma única coisa inquieta neste exato panorama: o que pode acontecer no dia em que, alguém consiga explicar também a lixeira.”
Júlio Cortazar “Um tal Lucas”
Em algum lugar deve haver uma lixeira onde estão amontoadas as explicações.
Uma única coisa inquieta neste exato panorama: o que pode acontecer no dia em que, alguém consiga explicar também a lixeira.”
Júlio Cortazar “Um tal Lucas”
Paulo Oisiovici Escrever sobre uma
História como a do Araguaia, como foi realmente, sem que os protagonistas
estejam presentes, sem se ouvir todos eles e sem ter participado dela, é uma
pretensão imensurável, perigosa e um desafio acima de quem não possui formação
adequada para tal empreendimento... A pesquisa histórica tem regras e
procedimentos particulares...No final das contas, é inevitável a pergunta: qual
o real propósito disso e a quem servirá tal relato/análise? Nesse caso o
objetivo se revela muito mais pessoal que científico ou revolucionário...
Paulo Oisiovici Se julgar polímata é
uma das principais características dos sofistas...
Marco Lisboa Meu caro Paulo,Eu não
usei o termo julgar. Usei analisar. De qualquer maneira, escrevo para um
público adulto que poderá chegar a conclusões diferentes das que cheguei.
Também não usei o termo análise imparcial, que é uma contradição em termos.
Aliás, na própria introdução do livro eu me posiciono inequivocamente. O que eu
quis dizer foi que procurarei tomar os fatos como realmente ocorreram e não
como deveriam ter ocorrido. Não farei martiriológico e nem apologia. Para
deixar mais claro o que quero dizer: o PC do B não menciona os três cursos que
foram feitos na academia militar de Nanquim, para não agravar a acusação de ter
sofrido forte influência maoista. Eu acho que isto é extremamente relevante e
não pode ser deixado de lado. Descreverei em detalhes como foram os tais
cursos, baseado em depoimentos de quem foi lá. Não tenho formação na área de
história. Aliás, poucos que escreveram sobre o Araguaia tem esta formação. O
Prof. Romualdo Campos fez um ótimo trabalho, assim como outros que serão
devidamente citados. Se estarei à altura da tarefa a que me propus, é uma
questão em aberto. Como os que estiveram no Araguaia, em sua maioria, estão
mortos, exigir que nada seja dito sem ouvi-los é o mesmo que proibir qualquer
análise sobre a guerrilha. Proibição um tanto inútil, porque a direita já
cansou de dar a sua versão. A História, com maiúscula é escrita por homens, e
na maior parte das vezes pelos vencedores. Escrever uma obra sobre o Araguaia é
dar uma contribuição a um debate que ainda está por se fazer em profundidade.
Marco Lisboa A propósito:
entrevistei sobreviventes do Araguaia, membros do Comitê Central do PC do B à
época e pretendo ainda fazer mais uma ou duas entrevistas. Toda crítica será
muito bem-vinda, sem falsa demagogia. Uma versão inicial das 100 primeiras
páginas está no meu blog e pode ser lida. Fiz algumas modificações, que não
alteraram muito o texto. Aliás, ele ainda está em elaboração. O site é: www.elsenorgato.blogspot.com
Paulo Oisiovici No sistema capitalista
tudo é mercadoria - inclusive as versões de um determinado fato histórico.
Escreve sua versão histórica quem pode publicar. Publicar implica em se vender
uma ideia ou versão a uma editora que edita o que for do seu interesse
(mercadológico e ideológico, pois visa lucro pertence aos detentores do
capital, logo pertence a uma classe: a burguesia), ou então, se se tem dinheiro
para bancar de forma independente a publicação, divulgação e venda. Assim, no
debate e registro de uma história, vence não quem apresenta uma versão real do
fato histórico, e sim, quem escreve uma versão interessante à classe dominante
(submete-se, portanto a um controle ideológico do texto) ou quem tem dinheiro
para bancar a publicação, a divulgação e a comercialização, do que se
transforma inevitavelmente em mercadoria. Escrever, embora alguns façam questão
de ignorar, implica numa questão ética: informar ou deformar, inculcar uma
determinada versão histórica, fazer prevalecer a memória de um ou outro grupo
que compõe a sociedade dividida em classes, portanto, contraditória. A dimensão
ética da responsabilidade de quem publica um texto (histórico, jornalístico ou
científico) está na questão: o que realmente e não aparentemente se quer com a
publicação do texto? A quem serve a publicação do texto? Qual a real mensagem
contida no texto? Quais as consequências da publicação, leitura e assimilação
da mensagem contida no texto? É importante ainda, se considerar que as posições
do PCdoB não são mais as mesmas de quando organizou a Guerrilha do Araguaia,
assumiu a via institucional e consequentemente eleitoral de se fazer a
"revolução". Princípios foram, portanto, abandonados e substituídos
(vide posição do PCdoB na formulação do novo Código Florestal-defesa dos
interesses do latifúndio, do agronegócio, em detrimento do meio ambiente e dos
agricultores familiares) . Isso inevitavelmente será determinante nas declarações
de sua direção partidária e não mais do Comitê Central na época... João
Amazonas, por exemplo, não está mais vivo.
Marco Lisboa Paulo, sinceramente, eu
não pensei nem na metade das questões que você levantou. Vamos fazer assim: eu
publico e depois você me diz quais foram as minhas reais intenções.
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