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PARA NÃO ESQUECER JAMAIS! História de PEDRO ALEXANDRINO DE OLIVEIRA FILHO
PEDRO ALEXANDRINO DE OLIVEIRA FILHO (1947-1973)
Filiação: Diana Piló de Oliveira e Pedro Alexandrino de Oliveira
Data e local de nascimento: 19/03/1947, Belo Horizonte (MG)
Organização política ou atividade: PCdoB
Data do desaparecimento: 04/08/1974
Mineiro de Belo Horizonte, Pedro fez o 1º e o 2º graus no Colégio Anchieta, naquela capital. Bancário, começou a trabalhar, em 1962, aos 15 anos, no Banco Hipotecário do Estado de
Minas Gerais, atual Bemge. Em 1967, foi transferido para São Paulo, onde terminou seus estudos e fez um curso de Inglês. Dois anos depois, retornou para Belo Horizonte. Nessa época, já era procurado pela polícia por suas atividades políticas. Como estudante universitário participou do Movimento Estudantil em São Paulo.
Foi preso pela primeira vez em dezembro de 1969, dentro da casa de sua irmã Ângela, no bairro Gutierrez, para onde correu quando se sentiu seguido e ameaçado. Lá, levou coronhadas na cabeça, pontapés e foi desnudado e espancado na frente de suas duas sobrinhas, de três e quatro anos de idade. Levado para o DOPS/MG foi torturado. Quando solto, estava surdo de um ouvido e com o outro em péssimo estado.
Pedro passou o Natal de 1969 com a família. Depois dessa data, nunca mais foi visto por seus familiares, passando a viver na clandestinidade, como militante do PCdoB. A casa de seus pais foi várias vezes invadida por policiais à sua procura. Sua mãe, Diana, não suportando as constantes invasões, resolveu mudar-se para o Rio de Janeiro. Lá tentou encontrar o paradeiro de seu filho. Bateu em todas as portas: Igreja, Comissão de Direitos Humanos, Comissão Justiça e Paz e outras tantas, até que encontrou um casal, Edgar e Cirene (hoje falecidos), que buscava notícias de dois filhos e uma nora, também desaparecidos. Nessa ocasião, a família soube que Pedro tinha uma namorada, Tuca (Maria Luiza Garlipe, também desaparecida), enfermeira do Hospital das Clínicas de São Paulo e que havia ido com ele para o Araguaia.
No Araguaia, Pedro adotou o nome Peri e viveu a partir de 1970 na Região do Gameleira, incorporando-se ao Destacamento B. Nas cartas enviadas à família pedia notícias de todos e falava de sua caminhada, de seu compromisso com o povo brasileiro e do significado da luta política. Em uma delas escreveu: "Tudo do amanhã está sempre no campo das possibilidades, é de hoje que temos a certeza, é hoje que criamos as condições objetivas para o amanhã".
O relatório apresentado em 1993 pelo Ministério da Marinha ao ministro da Justiça informa que Pedro Alexandrino foi morto em 04/08/1974, em Xambioá. O jornalista Elio Gaspari acrescenta informações novas em A Ditadura Escancarada: "Peri (Pedro Alexandrino de Oliveira Filho), achado sozinho na mata, tinha consigo uma garrafa com sal, uma garrucha e um caderno de notas no qual louvava os jabutis e maldizia os mateiros. Levou um tiro na cabeça, e um helicóptero buscou seu cadáver. Deixado no chão da base de Xambioá, foi chutado pela tropa até que um oficial da FAB interveio, exigindo que respeitassem o inimigo morto" . Em nota de pé-de-página o autor explica que a informação lhe foi transmitida em fevereiro de 2001 por um oficial cujo nome prefere preservar.
No requerimento à CEMDP, a mãe de Pedro Alexandrino, Diana Piló Oliveira, não pede o pagamento da indenização prevista em lei. Ela solicitou notícias do filho e, se morto, a localização de seus restos mortais. Em carta conjunta, Diana e Carmen Rivas, mães de Pedro Alexandrino e Hélio Luiz Navarro de Magalhães, pedem que as autoridades facilitem informações que possam ajudar a esclarecer o mistério que envolve o desaparecimento de ambos.
Mais informações.
Sempre foi um filho e um irmão muito amigo, amoroso e alegre. Perto ou longe, participava intensamente da vida da família e tratava as irmãs com um carinho incomum.
Fez o curso primário e o ginasial no Colégio Monte Calvário e o científico no Colégio Anchieta.
Gostava muito de cantar e o fazia muito bem, pois era dono de uma belíssima voz. Adorava fazer serenatas com os seus amigos, inclusive para as próprias irmãs. Duas eram as músicas de sua preferência, as que mais marcaram sua irmã Eliana: "Perfídia" e "Relógio".
Era uma pessoa tranqüila e muito querida por seus inúmeros amigos: Fredinho Silésio, Leonardo Andrade, Didiu e muitos outros.
Pedro trabalhou no antigo Banco Hipotecário, hoje Banco do Estado de Minas Gerais e, quando foi transferido para São Paulo, em 1967, lá terminou seus estudos, fazendo também um curso de Inglês.
Retornou a Belo Horizonte em 1969, onde já era procurado e foi preso em dezembro do mesmo ano, dentro da casa de sua irmã Ângela, no bairro Gutierrez, para onde correu quando se sentiu seguido e ameaçado.
Na própria casa de Ângela, que se encontrava no trabalho, levou coronhadas na cabeça, pontapés, foi colocado nu e espancado na frente de suas duas sobrinhas, de 3 e 4 anos de idade.
Levado para o DOPS/MG, foi torturado com choques elétricos no intestino, "pau de arara", palmatória, enforcamento e outras atrocidades.
Quando foi solto, estava surdo de um ouvido e o outro encontrava-se em estado lastimável.
Pedro Alexandrino passou o Natal de 1969 com a família, almoçando com todos na casa dos avós. Depois do almoço, foi à residência do casal Mário Silésio e D. Maria Eugênia, pais de seu amigo Fredinho. Saiu da casa dos amigos e nunca mais foi visto. Sem condições de viver como até então, optou pela clandestinidade.
Estudante universitário, Pedro já participava ativamente do movimento estudantil em São Paulo. A partir desse período, a família não teve mais paz: a casa onde moravam era freqüentemente invadida por policiais à procura de Pedro Alexandrino.
D. Diana, não suportando as constantes violências, resolveu mudar-se para o Rio de Janeiro, onde foi tentar encontrar o paradeiro de seu filho tão querido.
Bateu em todas as portas possíveis: Igreja, Comissão de Direitos Humanos, Comissão Justiça e Paz e outras tantas, até que encontrou um casal, Sr. Edgar e D. Cirene (hoje falecidos), que buscavam notícias de dois filhos e uma nora, também desaparecidos.
Nessa ocasião, a família soube que ele tinha uma namorada, Tuca (Maria Luiza Garlipe, também desaparecida), enfermeira do Hospital das Clínicas de São Paulo, e que havia ido com ele para o Araguaia.
Pedrinho - como era carinhosamente chamado pela família - ou Peri pelos companheiros, ao transferir-se para a região do Araguaia, foi residir na região do Gameleira, incorporando-se depois, como combatente, ao Destacamento B.
Desapareceu naquela região, em 1974, quando tinha 24 anos.
As cartas escritas por Pedro Alexandrino para a família eram extremamente afetivas e carinhosas. As saudades eram sempre imensas e a vontade de poder abraçar, beijar, sorrir e cantar com as irmãs era seu cuidado constante. Sempre se colocava como um grande amigo e companheiro delas, para o que viessem a precisar algum dia.
Perguntava pelos sobrinhos, queria notícias de todos. De seus projetos pessoais e de sua vida, pouco falava. Mas falava de sua caminhada, de seu compromisso com o povo brasileiro, do significado da luta política, da importância da honestidade, da seriedade, do crescimento interior, de atitudes decentes e até da vontade de ter um filho, um dia.
Dizia numa das cartas: "Tudo do amanhã está sempre no campo das possibilidades, é de hoje que temos a certeza, é hoje que criamos as condições objetivas para o amanhã."
O Relatório do Ministério da Marinha diz que foi morto em 4 de agosto de 1974, em Xambioá. Já o Relatório do Ministério do Exército, afirma que Pedro Alexandrino de Oliveira Filho participou da Guerrilha do Araguaia, usando os codinomes de Moisés, Chico e Peri, sem esclarecer sobre o seu paradeiro.
Mais detalhes.
Soldados descobertos por ÉPOCA mostram onde enterraram guerrilheiros e o governo ordena escavações.
Dois corpos na mesma vala Peri e Atista chegaram mortos. Doca virou refém
SELVA
À esquerda: Peri chegou morto. À direita: Doca (agachado) com Santa Cruz (em pé).
Dois corpos cravados de balas foram despejados na pista. Sem camisa, vestiam bermudas jeans desfiadas, presas com cintos de couro. Um deles estava descalço, o outro usava tênis Topa Tudo. Foram chutados pelos militares. Um soldado pegou o facão e abriu um buraco no peito de um dos mortos. ''Tem gordura aí'', zombou.
O cadáver com o peito aberto a facão era do guerrilheiro Peri, de 27 anos, disfarce do bancário Pedro Alexandrino de Oliveira Filho. O outro era de Batista, um dos poucos camponeses que os membros do PCdoB conseguiram cooptar para a luta. Os dois não foram mortos juntos. Batista, conforme relatos de agricultores da região, foi preso com a guerrilheira Áurea perto da casa de uma camponesa amiga.
O soldado Antônio Fonseca e um colega foram escalados para sepultar os corpos numa cova dentro da base. ''Eles já estavam duros'', conta. Fonseca pegou Peri pelos cabelos, levantou-o e jogou-o nas costas. O colega fez o mesmo com Batista. Ambos foram largados no mesmo buraco, um por cima do outro. Para cobrir os corpos foi usado um pano com listras vermelhas e brancas. Um camponês que estava preso na base encheu a cova de terra.
Mais detalhes.
José Dirceu: Desaparecidos políticos, justiça e reconhecimento
Não adianta deixar o tempo passar, o assunto estará sempre ressurgindo enquanto o Brasil se mantiver como o último país do mundo a abrir seus arquivos militares e da repressão.
A Folha de S.Paulo publica nesta segunda-feira (2) reportagem sobre a morte de Pedro Alexandrino de Oliveira Filho, assassinado pelos militares, em 1974, na ocasião em que integrava a guerrilha rural do Araguaia, do PCdoB. O militante havia desaparecido em Belo Horizonte, depois de sair para uma simples compra de cigarros e, desde então, a família sofre com mais uma pessoa que integra a lista dos desaparecidos políticos. O caso só foi esclarecido em abril deste ano, quando o mateiro Abel Honorato de Jesus prestou depoimento à Comissão de Anistia do Ministério da Justiça.
O mateiro contou à Comissão que viu o corpo de Pedro Alexandrino de Oliveira Filho ser retirado do local em que foi metralhado enquanto descansava, e levado para um helicóptero que o transportou para Xambioá (PA), onde militares que combatiam à guerrilha na região tinham uma base de operações.
De tempos em tempos, relatos como esse vêm à tona. E os militares ainda resistem a abrir os arquivos sobre esse conflito - a guerrilha do Araguaia - e sobre a repressão política comandada pela ditadura. É inútil. É certo que a verdade surgirá e os militares que praticaram crimes não se eximirão da condenação pública por tê-los praticado. O melhor - e o inevitável, o futuro mostrará - será contar de uma vez toda a verdade, mostrar a localização dos restos mortais de todos os desaparecidos para que as famílias possam dar-lhes sepultura digna segundo a tradição religiosa de cada um.
Reafirmo minha opinião, já expressa em outras notas deste blog: a questão não vai ser calada, voltará sempre enquanto os responsáveis não derem todas as informações que os familiares de mortos e desaparecidos reivindicam. Manter a situação atual, sem abrir os arquivos, é mais um erro que só agrava os cometidos no passado.
Não adianta deixar o tempo passar, o assunto estará sempre ressurgindo enquanto o Brasil se antiver como o último país do mundo a abrir seus arquivos militares e da repressão.
Leia, abaixo, a matéria da Folha sobre Pedro Alexandrino
Guia dá pista sobre sumiço de guerrilheiro no Araguaia
Mateiro conta a comissão que viu Pedro Oliveira Filho ser fuzilado por militares Militante de esquerda saiu de casa em 1969 e não foi visto mais por familiares; segundo depoimentos, teria sido assassinado em 1974 Rafael Andrade/Folha Imagem Diana Temporão, irmã de Oliveira Filho, em sua casa no Rio
SERGIO TORRES DA SUCURSAL DO RIO
Pedro Alexandrino de Oliveira Filho saiu de casa no dia de Natal de 1969 para visitar a família do amigo Hélio Garcia, 22 anos depois eleito governador de Minas Gerais. Lá chegando, conversou um pouco e avisou que sairia para comprar cigarros. Nunca mais foi visto em Belo Horizonte, onde morava com a mãe e duas irmãs. Desapareceu. Só agora, quase 39 anos depois, a família teve notícias dele.
O depoimento do mateiro e lavrador Abel Honorato de Jesus à Comissão de Anistia do Ministério da Justiça, no último dia 26 de abril, pode ajudar os parentes a saber o que aconteceu com Pedrinho -apelido de infância ainda empregado pela família quando o cita.
Abel Jesus disse que Oliveira Filho, a quem conhecia como Peri, foi metralhado quando descansava na então densa selva amazônica que cobria o sudeste do Pará. Foi no início de 1974. Ele era um dos guerrilheiros rurais do PCdoB. Bancário de profissão, criado em ambiente urbano, estava na mata havia quatro anos.
O corpo do rapaz, à época com 26 anos, foi retirado da floresta em um helicóptero do Exército, segundo o mateiro. Teria sido levado para a então ativa base militar do município de Xambioá, à época Goiás, hoje Tocantins. Jamais foi localizado por aqueles, que desde a década de 80, vasculham as terras do Araguaia em busca das ossadas dos guerrilheiros.
A Folha revelou, em abril, o teor do depoimento de Abel Jesus, 63. Ele afirmou que o guerrilheiro estava doente, deitado em uma rede. Não reagiu nem a ele foi perguntado algo pelos pára-quedistas do Exército que o guia orientava na área chamada de Grota da Lima, ainda de acordo com seu relato. "Os militares pegaram o Peri, chegaram atirando", disse Abel Jesus. A frase está reproduzida na ata de seu interrogatório pela Comissão de Anistia.
A família já sabia que Pedrinho havia passado pelo Araguaia, após deixar Belo Horizonte. O nome dele consta da relação de desaparecidos na região de 1972 a 1974, quando Exército, Marinha e Aeronáutica se uniram para aniquilar a guerrilha iniciada na década anterior pelo Partido Comunista do Brasil.
Antes do sumiço, Pedrinho já havia sido preso e torturado por cinco dias, sob a acusação de envolvimento em atividades subversivas. Em São Paulo, onde morara antes, tornara-se militante de organizações de esquerda, conforme a família tinha conhecimento. Mas a vinculação dele ao PCdoB e à guerrilha do Araguaia era desconhecida.
Além do registro oficial de desaparecido, a morte de Peri é citada no livro "A Ditadura Escancarada", do jornalista Elio Gaspari (Companhia das Letras, 2002). A fonte do escritor foi um oficial cuja identidade não revelou.
"No dia de Natal de 69 Pedrinho almoçou em família. Depois saiu para encontrar Hélio Garcia, de quem era muito amigo. Foi para a casa do sogro dele. Mais tarde, saiu para comprar cigarro. Nunca mais o vimos. Na realidade, até agora a gente não sabia de nada", disse à Folha a jornalista Diana Maria Temporão, 55, irmã caçula de Oliveira Filho.
Mãe de Pedrinho, a psicóloga Diana Piló Oliveira, 84, chegou a conversar, anos atrás, com o deputado federal José Genoino (PT-SP), sobrevivente da guerrilha. Ele confirmou que Peri era mesmo filho dela e que, no Araguaia, chegaram a morar juntos em uma cabana.
Na década de 90, ela percorreu a região, mas não encontrou pessoas que pudessem ajudá-la na busca ao filho. Emocionada com o relato do mateiro, Diana não se sentiu em condições de falar à Folha. "Sempre fica uma esperança, mesmo passados tantos anos, mais de 30. É muito difícil falar quando surge um relato como esse. Até agora ninguém tinha visto ele morrer", disse a irmã.
Querida Diana, Seu empenho em descobrir a verdade sobre seu filho se tornou na saga de uma mae que nao pode se conformar com a leviandade e omissao de uma sociedade descomprometida com as consequencias dos atos barbaros cometidos contra um cidadao-filho-irmao-amigo que sonhava com uma Nacao mais justa e igualitaria. Que Deus lhe conceda tempo para descobrir todos os fatos, prestar todas as homenagens e perdoar seus inimigos. E que os responsaveis por esse capitulo negro de ditadura que manchou a nossa historia e destruiu nossas familias, se encontrem finalmente com a justica, a punicao e o arrependimento. Minha mestra e amiga, desejo que tenhas paz, a paz que sobrepassa todo o entendimento. Contigo mesmo longe,
ResponderExcluirMartha.