Quatro ex-soldados identificaram, por foto, Walter da Silva Monteiro, 74, como o médico militar conhecido à época como "capitão Walter"
Soldados da
Guerrilha do Araguaia (1972-74) reconheceram um coronel aposentado de Belém
como sendo o médico de bases militares onde ocorreram torturas e levantam a
suspeita de seu envolvimento na morte de guerrilheiras com injeções letais.
Quatro ex soldados
localizados pela Folha identificaram, por foto, Walter da Silva Monteiro, 74,
como o médico militar conhecido à época como "capitão Walter".
A suspeita de
sua participação nas mortes surgiu em um vídeo com dois ex soldados, gravado em
abril pelo grupo do governo federal que procura ossadas das vítimas.
As testemunhas
dizem ter convivido com Monteiro no 52º Batalhão de Infantaria de Selva, em
Marabá (PA), de onde partia para missões em outras bases na região.
O
reconhecimento do "capitão Walter" foi feito por meio de sua imagem
contida num registro de candidatura, guardado no Tribunal Regional Eleitoral do
Pará. Em 2002, ele tentou se eleger deputado federal pelo PHS.
INJEÇÕES
"Esse aí
era da linha de frente", relata o ex soldado Adaílton Bezerra, que disse
ter sido vítima de um suposto erro do médico --uma lavagem no ouvido teria
resultado em danos no tímpano.
Monteiro, que
já dirigiu dois dos principais hospitais de Belém, nega participação na
Guerrilha do Araguaia.
Mesmo assim,
será convidado a depor na Comissão sobre Mortos e Desaparecidos Políticos da
Secretaria de Direitos Humanos, ligada à Presidência da República. Ele está
livre de punição, graças à Lei da Anistia.
O militar,
hoje na reserva do Exército, pode ser um arquivo vivo das violações aos
direitos humanos no Araguaia, diz Paulo Fonteles Filho, observador do grupo do
governo que busca ossadas.
Foi ele quem
produziu o vídeo no qual aparece o relato sobre as injeções letais.
As possíveis
mortes por esse método existem apenas em relatos.
A primeira
menção a elas ocorreu há dois anos, por meio de um oficial do Exército que
atuou no conflito. Mas a citação ao "capitão Walter" surgiu só no
vídeo de abril.
"A gente
ouviu circular no quartel que duas guerrilheiras tinham sido mortas com injeção.
O pessoal dizia que tinha sido o capitão Walter, o médico", disse o ex soldado
Manuel Guido Ribeiro na gravação. Ele confirmou à Folha o teor do vídeo. Nele,
está acompanhado por um colega, José Adalto Xavier, não localizado pela Folha.
Bezerra e outro
ex soldado, Raimundo Melo, confirmam que ouviram à época a história, mas não as
ligam ao "capitão".
Agora, o
observador do governo federal quer achar outras pessoas que deem mais detalhes
das mortes.
OUTRO LADO
O coronel da
reserva Walter da Silva Monteiro negou ter participado da Guerrilha do
Araguaia.
O primeiro
contato ocorreu por uma mensagem de celular, em 15 de julho. O número foi dado
pelo vereador Fernando Dourado (DEM), que propôs o título de "Cidadão de
Belém" a Monteiro e disse desconhecer a participação dele na guerrilha.
Informado dos
relatos dos ex soldados sobre seu envolvimento em mortes por injeção letal, ele
respondeu: "Você é louco. Nessa época eu tinha 16 anos e nem formado eu
era, muito menos militar. Vá se informar direito!"
Mas, de acordo
com seu registro eleitoral, em 1972, quando o conflito começou, ele completou
35 anos.
Duas semanas
depois, a Folha foi até sua casa, em Belém. Ele não aceitou receber a
reportagem.
Em uma rápida
conversa pelo interfone de seu prédio, limitou-se a afirmar que no período da
guerrilha estava em Belém, e não na região do conflito.
Procurado, o
Exército disse que Monteiro não aceitou liberar as informações sobre em que
locais trabalhou durante sua carreira militar.
Foto: Editoria
de Artes- Folha Press
Fonte: Folha.com/João
Carlos Magalhães de Brasília Felipe Luchete de Belém
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