terça-feira, 4 de outubro de 2011

Militantes pedem mudanças na Comissão da Verdade em São Paulo


Sempre presente nesta luta, a ex-prefeita de São Paulo e deputada federal Luiza Erundina (PSB-SP), não acredita em modificações significativas dos senadores no projeto. Em sua opinião, é preciso aprovar o projeto de lei que limita a Lei de Anistia aos perseguidos pelo Estado. Isso criminalizaria aqueles que cometeram crimes em nome do Estado.

A breve caminhada de militantes dos direitos humanos ocorrida nesta sexta-feira (30) levou, do Museu de Arte de São Paulo até o escritório regional da Presidência da República, uma carta em defesa da verdade e da justiça, em relação aos crimes cometidos durante a ditadura militar.

Era um reduzido, mas obstinado grupo de velhos e jovens militantes da causa, insatisfeito com o projeto de lei aprovado pela Câmara, e enviado ao Senado, que cria uma Comissão da Verdade com limitações para apuração real dos fatos, e sem a possibilidade de responsabilização e julgamento dos criminosos.

Sempre presente nesta luta, a ex-prefeita de São Paulo e deputada federal Luiza Erundina (PSB-SP), não acredita em modificações significativas dos senadores no projeto. Em sua opinião, é preciso aprovar o projeto de lei que limita a Lei de Anistia aos perseguidos pelo Estado. Isso criminalizaria aqueles que cometeram crimes em nome do Estado. Segundo o Supremo Tribunal Federal (STF), o texto atual da lei de anistia beneficia perseguidos e agentes da ditadura que torturaram e mataram - isto é, limpou a barra dos militares. “Se ele já estão anistiados, vão comparecer a uma comissão e dizer a verdade sobre eventuais crimes que eles possam ter cometidos? Não vão”, acredita ela.

Outro militante antigo da causa, Cloves de Castro, ex-membro da Ação Libertadora Nacional (ALN), prometeu acompanhamento das discussões no Senado para tentar emplacar as modificações pedidas. Cloves acha que “de forma nenhuma pode ficar fora a punição daqueles que torturaram, mataram e contribuíram para todo esse processo da ditadura militar”. Ele questiona se o povo brasileiro não tem o direito de saber a verdade sobre esse momento da história.

Na chegada do grupo à frente do edifício que abriga o escritório presidencial em São Paulo, foi permitida a subida ao terceiro andar para o protocolo do documento. Recepcionados pelo chefe da segurança terceirizada do local - um ex-sargento das Forças Armadas que disse, no elevador, apoiar a punição aos torturadores - o grupo conseguiu a promessa de uma resposta da presidenta Dilma Rousseff.

Entre Crimeia de Almeida, que foi presa e torturada, e Angela Mendes de Almeida, ex-companheira do jornalista assassinado Luiz Eduardo Merlindo, estava a jovem Cândida Guariba. Neta de Heleny Guariba, diretora de teatro e militante desaparecida quando levada à “Casa da Morte” de Petrópolis em 1971, Cândida pretende assumir a tarefa de levar adiante a luta para que “deixemos de ser este país sem memória”.

Enquanto os manifestantes tentam fazer ecoar as palavras memória, verdade e justiça na sede da Presidência, Erundina ajuda a refletir os motivos históricos dessa letargia nacional. Segundo ela, “os períodos de exceção, de restrição às liberdades democráticas terminaram por apodrecimento. Não foram fruto de uma resistência tão forte capaz de exigir uma ruptura para início de outro período”, afirma. “Tanto é que os governos que se seguiram àquele período são compostos pelos que o promoveram e sustentaram, como Sarney e tantos outros”, conclui a deputada, lembrando da primeira presidência civil, que foi parar nas mãos do homem que preside o Senado, a instituição que agora avaliará o projeto de lei.

Veja aqui o abaixo-assinado que pede mudanças no projeto de lei 7.376/2010: http://www.petitiononline.com/PL7376/petition.html

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“Este é tempo de divisas, tempo de gente cortada. É tempo de meio silêncio, de boca gelada e murmúrio, palavra indireta, aviso na esquina.”
Carlos Drumond de Andrade