Via - Paulo Fonteles Filho
A luta travada no Araguaia é portadora de grande significado
político. O povo brasileiro, oprimido por brutal repressão e açodamento dos canais de respiração democrática, teve nessa luta uma das manifestações mais conseqüentes e ousadas de seus mais elevados anseios. Serviu como um elo das mais justas lutas pela libertação do país contra a opressão e a submissão ao estrangeiro.
O fato de relevo foi o aspecto que um pequeno grupo de combatentes, mal armados, ainda com incipiente experiência militar, possuindo parcos recursos pôde, apesar das enormes dificuldades, enfrentar toda fúria das tropas federais.
Isso só é possível entender pela grande integração com as massas através da consideração de que o problema da luta é, sobretudo, de compreensão cientifica dos problemas populares. Esse entendimento é capital nas pequenas e grandes batalhas políticas.
É por isso que parcelas significativas da população apoiaram a resistência até o fim, em níveis diferenciados de integração que iam desde aqueles que pegaram em armas até os que davam comida e informações. As tropas oficiais, por conta disso, encontraram grandes dificuldades para conter o movimento insurgente.
Merece destaque o fato de que tal resistência tenha ocorrido na Amazônia. Desde sua colonização, no início da década de 1970, a região é objeto de desenfreada espoliação e de intensa devastação de seus recursos naturais. Historicamente, pelo modelo adotado, suas terras são griladas ou cedidas a poderosos consórcios e suas riquezas passam para as mãos de trustes estrangeiros. Como exemplo clássico podemos encontrar o exemplo, no passado, do exemplo do multimilionário norte-americano Daniel Ludwig que apossou-se de 1,5 milhão de hectares e de imensas reservas florestais e minerais. Na atualidade a mais flagrante exibição de grilagem de terras na Amazônia sugere a vil figura do banqueiro Daniel Dantas.
A luta no Araguaia foi uma advertência e um brado de protesto contra a tentativa malsã de internacionalização da Amazônia através da penetração estrangeira, da devastação irracional das florestas, da grave e perturbadora expansão do latifúndio além do saque das riquezas nacionais.
O pano de fundo da contenda nas matas sulparaenses foi exatamente o engendramento das disputas de projetos para a imensa região. Nesse sentido, o programa de 27 pontos da União pelas Liberdades e pelos Direitos do Povo (ULDP), elaborado nas matas, sob a consigna "Em defesa do povo pobre e pelo progresso do interior", expressou a elevação do nível da compreensão popular.
A insubmissão no Araguaia armou de consciência homens e mulheres, até a presente quadra histórica, com o entendimento de não é possível um projeto nacional autônomo sem a soberania sobre a Amazônia e de que suas extraordinárias potencialidades devem servir fundamentalmente ao progresso social dos amazônidas e de todo o povo brasileiro.
Questão de relevo do ponto de vista do enfrentamento com o regime militar foi à desmoralização da ditadura e sua propalada cantilena de apresentar toda insubordinação libertadora como esmagada. Todos nós sabemos que a partir do AI-5, em 1968, os generais intensificaram o terrorismo no país. Milhares de pessoas foram torturadas e centenas de brasileiros, patriotas, foram assassinados. Os militares tinham a convicção de que tal violência poderia assegurar a estabilidade política do regime, insistentemente reclamada pelos capitalistas estrangeiros e seus aliados internos. Todavia, a luta popular em nível alto no Araguaia surpreendeu e atiçou a ira dos donos do poder de então. Buscaram abafá-la através da censura para que o exemplo não incendiasse o país e somente em 1975, distorcendo os fatos, fizeram a primeira referência oficial dos acontecimentos: publicamente Geisel reconheceu, em sua posse presidencial, a existência do movimento guerrilheiro. A resistência armada revelou que o movimento democrático não tinha sido derrotado apesar do terror imposto pelos generais.
Temporariamente contido, o sentimento mudancista do povo brasileiro ganhará impulso na luta pela Anistia que antecipou as multitudinárias manifestações das Diretas Já, em 1984, que preparou com o tempero das grandes massas o fim da longa noite do regime militar através do Colégio Eleitoral no ano seguinte.
A luta no Araguaia foi a única experiência de guerrilha rural de envergadura realizada no Brasil durante o regime militar. Questão singular é que a guerrilha fora organizada por um partido de feição proletária, inspirado pelo Marxismo-Leninismo e com bastente experiência política. Nas matas do Araguaia o Partido Comunista do Brasil completava meio século de existência e os dirigentes João Amazonas e Maurício Grabois elaboraram o documento "Cinquenta anos de luta" onde buscavam analisar e tirar lições da história do partido e da luta de classes no Brasil.
Alí, naquelas condições, o movimento armado teve importantes êxitos e cometeu erros também.
Do ponto de vista dos êxitos podemos destacar que o movimento insurgente, ou seja as Forças Guerrilheiras do Araguaia (FORGA), conseguiram amplo apoio popular suficiente para resistirem por quase três anos. Foi demasiado o esforço para a integração entre os comunistas com a população local. Isto se expressava tanto do ponto de vista da assistência a saúde e a educação dos lavradores como também na atividade laboral, na introdução de conhecimentos técnicos que os ajudavam na produção.
No curso da intensa repressão perpetrada pelas tropas oficiais a massa camponesa fora decisiva para a manuntenção da guerrilha, seja no apoio de alimentação e informações principalmente. Isso sem falar das dezenas de camponeses que pegaram em armas.
O movimento guerrilheiro situou, de certa forma, a resistência popular no campo num terreno favorável. Como a guerra de guerrilhas têm na base de sua estratégia o fato de que, "na mata, o soldado tem de estar a pé como o guerrilheiro", como ensinou Angêlo Arroyo, dirigente militar da insurgência.
Aspecto mais importante da resistência armada foi o fato de ter despertado, no campesinato, a idéia da luta organizada como meio de se defender e conquistar seus direitos.
O fato é que em 1976, um ano após o fim da guerrilha começa a frutificar a oposição sindical em toda a região do baixo-araguaia. Toda esta imensa área estava circunscrita ao Município de Conceição do Araguaia na qual o Sindicato de Trabalhadores Rurais (STR) era dirigido por um apaniguado do Ministério do Trabalho, o tristemente famoso, à época, pelego Bertoldo.
O movimento oposicionista dos lavradores, na retomada do STR para seus legítimos proprietários teve como referência central o Programa de 27 pontos da União pelas Liberdades e Direitos do Povo (ULDP).
Amplo e democrático, tal programa continha um conjunto de reivindicações econômicas e políticas mais sentidas pela massa. Exigia terra para trabalhar e título de propriedade; combate à grilagem, com castigo severo a todos que grilassem terras; preços minímos compensatórios para os produtos da região. Levantava questões políticas como "liberdade para reunir-se, discutir seus problemas, criticar as autoridades, exigir seus direitos, organizar suas associações e eleger, sem pressão de nenhum tipo, seus representantes".
O fato é que esse movimento de massas vai se desenvolver a tal ponto que, em 1980, a oposição só não venceu as eleições sindicais por conta do empastelamento perpetrado pelo governo federal como também pelo assassinato de Raimundo Lima, o "Gringo", morto semanas antes do pleito eleitoral. Nessa batalha os principais articuladores governistas era gente de triste estirpe, como o major Curió e o coronel Passarinho.
Num conjunto de artigos para o semanário "Tribuna da Luta Operária" em 1981, Paulo Fonteles sustentava a afirmação acerca da estreita ligação entre a luta das Forças Guerrilheiras do Araguaia e o efervescente movimento camponês no Bico-do-Papagaio. Indicava o advogado:
"...Hoje, em todo Sul do Pará, desenvolve-se um dos movimentos de massas mais ricos do Brasil. Milhares de camponeses erguem seus punhos e, não raro, as armas, para lutar pelo seu direito à terra, levantando-se contra o latifúndio, os grandes grupos econômicos. Particularmente neste último ano, os camponeses da área obtiveram importantes vitórias. No baixo-araguaia, onde se implantou o Destacamento C da guerrilha, dos Caianos, mais de 250 mil hectares de terra já foram apropriados pelo povo, numa verdadeira guerrilha das massas. Só nos últimos 12 meses mais de 30 pessoas, na grande maioria pistoleiros, morreram no conflito. A guerrilha do Araguaia foi, incontestavelmente, a sementeira desta extraordinária luta camponesa...".
É possível se afirmar que a contemporânea luta camponesa na Amazônia têm no exemplo da guerrilha importante ensinamento do ponto de vista de luta organizada e decidida pelo direito à terra e ao trabalho.
Do ponto de vista dos equivocos cometidos pelas Forças Guerrilheiras do Araguaia podemos enumerar que a tática da guerrilha permaneceu estática durante o período da luta.
A Comissão Militar subestimou as tropas oficiais na terceira e última Campanha de Cerco e Aniquilamento, erro considerado decisivo para a derrota militar da guerrilha. Derrotado duas vezes consecutivas, as Forças Armadas retomaram sua operação promovendo mudanças radicais e utilizando-se largamente de tropas especializadas tanto na informação como na repressão propriamente dita.
Aconteceu que o Exército entrou em profundidade na mata, em época de chuvas e promovendo um cerco total da área e fez campanha longa e demorada. O grande desafio identificado pelo Planalto que dirigiu a terceira campanha era evitar a consolidação da guerrilha que, por sua vez, não ampliou sua área de atuação.
Havia no seio das Forças Guerrilheiras o debate para ampliar a atuação para Goiás, Maranhão e Mato Grosso. Dois aspectos devem ter corroborado para que tal ampliação não acontecesse. O primeiro era a insolvência da base material da guerrilha, absolutamente desprovida de recursos ou seja, a guerrilha do Araguaia fora um movimento paupérrimo do ponto de vista dos recursos financeiros. O segundo aspecto fora o fato de que mesmo com amplo apoio popular, tal apoio não permitiu adesão suficiente dos camponeses ao movimento e isso se explica pela extrema brutalidade com que atuaram as tropas oficiais, baseadas na coação, tortura e assassinatos em massa, como agora revela o famigerado Major Curió.
Mesmo com essas limitaçoes que condicionaram a atuação da guerrilha, a Comissão Militar fez um julgamento de natureza idealista e, na terceira investida do Exército praticou uma tática que contrariava o espírito da luta guerrilheira: a concentração de forças.
Com o objetivo de "ter força à mão" para realizar "ações de certa envergadura" a CM decidiu juntar os Destacamentos B e C, fazendo que 32 guerrilheiros passassem a marchar juntos. Essa tática ensejou problemas sérios de abastecimento e deixou rastros marcantes para os mateiros recrutados pelo Exército, além de se transformar num corpo pesado, com pouquissíma mobilidade, diferente da ação de pequenos agrupamentos, agéis na prática do deslocamento e ações de fustigamento. Soma-se a isso a centralização excessiva da Comissão Militar que, na prática, retirava dos combatentes o imprescindível efeito militar de surpreender um inimigo melhor apetrechado do ponto de vista bélico.
Com a vigência de um governo fascista, a brutal repressão promoveu o isolamento político da guerrilha sob o império da mais ferrenha censura e, as Forças Guerrilheiras do Araguaia tiveram que arcar sozinhas, sem nenhum apoio de fora, com aquela importante frente de luta armada contra a ditadura militar. O resultado não poderia ser outro, senão a derrota militar do movimento rebelde.
político. O povo brasileiro, oprimido por brutal repressão e açodamento dos canais de respiração democrática, teve nessa luta uma das manifestações mais conseqüentes e ousadas de seus mais elevados anseios. Serviu como um elo das mais justas lutas pela libertação do país contra a opressão e a submissão ao estrangeiro.
O fato de relevo foi o aspecto que um pequeno grupo de combatentes, mal armados, ainda com incipiente experiência militar, possuindo parcos recursos pôde, apesar das enormes dificuldades, enfrentar toda fúria das tropas federais.
Isso só é possível entender pela grande integração com as massas através da consideração de que o problema da luta é, sobretudo, de compreensão cientifica dos problemas populares. Esse entendimento é capital nas pequenas e grandes batalhas políticas.
É por isso que parcelas significativas da população apoiaram a resistência até o fim, em níveis diferenciados de integração que iam desde aqueles que pegaram em armas até os que davam comida e informações. As tropas oficiais, por conta disso, encontraram grandes dificuldades para conter o movimento insurgente.
Merece destaque o fato de que tal resistência tenha ocorrido na Amazônia. Desde sua colonização, no início da década de 1970, a região é objeto de desenfreada espoliação e de intensa devastação de seus recursos naturais. Historicamente, pelo modelo adotado, suas terras são griladas ou cedidas a poderosos consórcios e suas riquezas passam para as mãos de trustes estrangeiros. Como exemplo clássico podemos encontrar o exemplo, no passado, do exemplo do multimilionário norte-americano Daniel Ludwig que apossou-se de 1,5 milhão de hectares e de imensas reservas florestais e minerais. Na atualidade a mais flagrante exibição de grilagem de terras na Amazônia sugere a vil figura do banqueiro Daniel Dantas.
A luta no Araguaia foi uma advertência e um brado de protesto contra a tentativa malsã de internacionalização da Amazônia através da penetração estrangeira, da devastação irracional das florestas, da grave e perturbadora expansão do latifúndio além do saque das riquezas nacionais.
O pano de fundo da contenda nas matas sulparaenses foi exatamente o engendramento das disputas de projetos para a imensa região. Nesse sentido, o programa de 27 pontos da União pelas Liberdades e pelos Direitos do Povo (ULDP), elaborado nas matas, sob a consigna "Em defesa do povo pobre e pelo progresso do interior", expressou a elevação do nível da compreensão popular.
A insubmissão no Araguaia armou de consciência homens e mulheres, até a presente quadra histórica, com o entendimento de não é possível um projeto nacional autônomo sem a soberania sobre a Amazônia e de que suas extraordinárias potencialidades devem servir fundamentalmente ao progresso social dos amazônidas e de todo o povo brasileiro.
Questão de relevo do ponto de vista do enfrentamento com o regime militar foi à desmoralização da ditadura e sua propalada cantilena de apresentar toda insubordinação libertadora como esmagada. Todos nós sabemos que a partir do AI-5, em 1968, os generais intensificaram o terrorismo no país. Milhares de pessoas foram torturadas e centenas de brasileiros, patriotas, foram assassinados. Os militares tinham a convicção de que tal violência poderia assegurar a estabilidade política do regime, insistentemente reclamada pelos capitalistas estrangeiros e seus aliados internos. Todavia, a luta popular em nível alto no Araguaia surpreendeu e atiçou a ira dos donos do poder de então. Buscaram abafá-la através da censura para que o exemplo não incendiasse o país e somente em 1975, distorcendo os fatos, fizeram a primeira referência oficial dos acontecimentos: publicamente Geisel reconheceu, em sua posse presidencial, a existência do movimento guerrilheiro. A resistência armada revelou que o movimento democrático não tinha sido derrotado apesar do terror imposto pelos generais.
Temporariamente contido, o sentimento mudancista do povo brasileiro ganhará impulso na luta pela Anistia que antecipou as multitudinárias manifestações das Diretas Já, em 1984, que preparou com o tempero das grandes massas o fim da longa noite do regime militar através do Colégio Eleitoral no ano seguinte.
A luta no Araguaia foi a única experiência de guerrilha rural de envergadura realizada no Brasil durante o regime militar. Questão singular é que a guerrilha fora organizada por um partido de feição proletária, inspirado pelo Marxismo-Leninismo e com bastente experiência política. Nas matas do Araguaia o Partido Comunista do Brasil completava meio século de existência e os dirigentes João Amazonas e Maurício Grabois elaboraram o documento "Cinquenta anos de luta" onde buscavam analisar e tirar lições da história do partido e da luta de classes no Brasil.
Alí, naquelas condições, o movimento armado teve importantes êxitos e cometeu erros também.
Do ponto de vista dos êxitos podemos destacar que o movimento insurgente, ou seja as Forças Guerrilheiras do Araguaia (FORGA), conseguiram amplo apoio popular suficiente para resistirem por quase três anos. Foi demasiado o esforço para a integração entre os comunistas com a população local. Isto se expressava tanto do ponto de vista da assistência a saúde e a educação dos lavradores como também na atividade laboral, na introdução de conhecimentos técnicos que os ajudavam na produção.
No curso da intensa repressão perpetrada pelas tropas oficiais a massa camponesa fora decisiva para a manuntenção da guerrilha, seja no apoio de alimentação e informações principalmente. Isso sem falar das dezenas de camponeses que pegaram em armas.
O movimento guerrilheiro situou, de certa forma, a resistência popular no campo num terreno favorável. Como a guerra de guerrilhas têm na base de sua estratégia o fato de que, "na mata, o soldado tem de estar a pé como o guerrilheiro", como ensinou Angêlo Arroyo, dirigente militar da insurgência.
Aspecto mais importante da resistência armada foi o fato de ter despertado, no campesinato, a idéia da luta organizada como meio de se defender e conquistar seus direitos.
O fato é que em 1976, um ano após o fim da guerrilha começa a frutificar a oposição sindical em toda a região do baixo-araguaia. Toda esta imensa área estava circunscrita ao Município de Conceição do Araguaia na qual o Sindicato de Trabalhadores Rurais (STR) era dirigido por um apaniguado do Ministério do Trabalho, o tristemente famoso, à época, pelego Bertoldo.
O movimento oposicionista dos lavradores, na retomada do STR para seus legítimos proprietários teve como referência central o Programa de 27 pontos da União pelas Liberdades e Direitos do Povo (ULDP).
Amplo e democrático, tal programa continha um conjunto de reivindicações econômicas e políticas mais sentidas pela massa. Exigia terra para trabalhar e título de propriedade; combate à grilagem, com castigo severo a todos que grilassem terras; preços minímos compensatórios para os produtos da região. Levantava questões políticas como "liberdade para reunir-se, discutir seus problemas, criticar as autoridades, exigir seus direitos, organizar suas associações e eleger, sem pressão de nenhum tipo, seus representantes".
O fato é que esse movimento de massas vai se desenvolver a tal ponto que, em 1980, a oposição só não venceu as eleições sindicais por conta do empastelamento perpetrado pelo governo federal como também pelo assassinato de Raimundo Lima, o "Gringo", morto semanas antes do pleito eleitoral. Nessa batalha os principais articuladores governistas era gente de triste estirpe, como o major Curió e o coronel Passarinho.
Num conjunto de artigos para o semanário "Tribuna da Luta Operária" em 1981, Paulo Fonteles sustentava a afirmação acerca da estreita ligação entre a luta das Forças Guerrilheiras do Araguaia e o efervescente movimento camponês no Bico-do-Papagaio. Indicava o advogado:
"...Hoje, em todo Sul do Pará, desenvolve-se um dos movimentos de massas mais ricos do Brasil. Milhares de camponeses erguem seus punhos e, não raro, as armas, para lutar pelo seu direito à terra, levantando-se contra o latifúndio, os grandes grupos econômicos. Particularmente neste último ano, os camponeses da área obtiveram importantes vitórias. No baixo-araguaia, onde se implantou o Destacamento C da guerrilha, dos Caianos, mais de 250 mil hectares de terra já foram apropriados pelo povo, numa verdadeira guerrilha das massas. Só nos últimos 12 meses mais de 30 pessoas, na grande maioria pistoleiros, morreram no conflito. A guerrilha do Araguaia foi, incontestavelmente, a sementeira desta extraordinária luta camponesa...".
É possível se afirmar que a contemporânea luta camponesa na Amazônia têm no exemplo da guerrilha importante ensinamento do ponto de vista de luta organizada e decidida pelo direito à terra e ao trabalho.
Do ponto de vista dos equivocos cometidos pelas Forças Guerrilheiras do Araguaia podemos enumerar que a tática da guerrilha permaneceu estática durante o período da luta.
A Comissão Militar subestimou as tropas oficiais na terceira e última Campanha de Cerco e Aniquilamento, erro considerado decisivo para a derrota militar da guerrilha. Derrotado duas vezes consecutivas, as Forças Armadas retomaram sua operação promovendo mudanças radicais e utilizando-se largamente de tropas especializadas tanto na informação como na repressão propriamente dita.
Aconteceu que o Exército entrou em profundidade na mata, em época de chuvas e promovendo um cerco total da área e fez campanha longa e demorada. O grande desafio identificado pelo Planalto que dirigiu a terceira campanha era evitar a consolidação da guerrilha que, por sua vez, não ampliou sua área de atuação.
Havia no seio das Forças Guerrilheiras o debate para ampliar a atuação para Goiás, Maranhão e Mato Grosso. Dois aspectos devem ter corroborado para que tal ampliação não acontecesse. O primeiro era a insolvência da base material da guerrilha, absolutamente desprovida de recursos ou seja, a guerrilha do Araguaia fora um movimento paupérrimo do ponto de vista dos recursos financeiros. O segundo aspecto fora o fato de que mesmo com amplo apoio popular, tal apoio não permitiu adesão suficiente dos camponeses ao movimento e isso se explica pela extrema brutalidade com que atuaram as tropas oficiais, baseadas na coação, tortura e assassinatos em massa, como agora revela o famigerado Major Curió.
Mesmo com essas limitaçoes que condicionaram a atuação da guerrilha, a Comissão Militar fez um julgamento de natureza idealista e, na terceira investida do Exército praticou uma tática que contrariava o espírito da luta guerrilheira: a concentração de forças.
Com o objetivo de "ter força à mão" para realizar "ações de certa envergadura" a CM decidiu juntar os Destacamentos B e C, fazendo que 32 guerrilheiros passassem a marchar juntos. Essa tática ensejou problemas sérios de abastecimento e deixou rastros marcantes para os mateiros recrutados pelo Exército, além de se transformar num corpo pesado, com pouquissíma mobilidade, diferente da ação de pequenos agrupamentos, agéis na prática do deslocamento e ações de fustigamento. Soma-se a isso a centralização excessiva da Comissão Militar que, na prática, retirava dos combatentes o imprescindível efeito militar de surpreender um inimigo melhor apetrechado do ponto de vista bélico.
Com a vigência de um governo fascista, a brutal repressão promoveu o isolamento político da guerrilha sob o império da mais ferrenha censura e, as Forças Guerrilheiras do Araguaia tiveram que arcar sozinhas, sem nenhum apoio de fora, com aquela importante frente de luta armada contra a ditadura militar. O resultado não poderia ser outro, senão a derrota militar do movimento rebelde.
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