quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

ESPEDITO FREITAS, UM BRASILEIRO TORTURADO PELO REGIME MILITAR


*Espedito Freitas
Aprendi a não ferir um lobo, se isso fizer e deixa-lo solto, ele será o seu maior inimigo, e um dia vai lhe pegar”.



Durante o meu tempo como militar em julho de 1966 sofri a minha primeira prisão na Rua dos Inválidos como suspeito de comunista e punido por isso, e em agosto deste mesmo ano, eu como ala direita no QG da Colina Longa vi e acionei o alarme de um militar no escuro caído todo ensanguentado, rasgado, todo espancado e gemendo de dor, por volta das 02h30min, e ali, o superior passará o rádio pedindo ao Regimento Santos Dumont solicitando tangues de guerra, metralhadoras e, um contingente de duzentos homens para tomar o quartel Duque de Caxias do então Tenente Carlos Lamarca. Na linguagem militar: “Rebu!” Eu como ala não participei.
Final do ano de 1966. Entrei com meu pedido de baixa e fui avisado pelo Capitão Leomar com o seguinte dizer: Se eu lhe vir envolvido com os comunistas, lhe darei o tiro de misericórdia!
Assim sendo: Durante os anos de 1967 até novembro de 1970 não consta em meu dossiê, ou SNI porque, fiquei nas atividades clandestinamente com ações ali e acolá com fugas e outras. E, no dia 10 de novembro por volta das 06h20min tive a surpresa de ser capturado pelo PIC e encapuçado e levado para o DOI-CODI com aquela recepção do corredor polonês já dentro das instalações do porão da policia do exercito e diziam: Esse é ex PQD amigo do Capitão Lamarca e vai cooperar! Caso contrário vai sair daqui morto! Tirem o capuz e sente ele aí nesta cadeira para ser interrogado, e jogaram uma lâmpada muito forte em meu rosto e eu só conseguia ver que eram oficias como major, ten. Cel. Coronel que queriam saber do QG (material bélico) e tipos de armas e endereço do Capitão Lamarca.
-Não sei! Vocês estão enganados comigo.
Seu “fdp!” fala! Tu vai morrer aqui “fdp!” Tu és PQD e pensa que é forte!? Leva ele para mesa que assim ele vai falar!
Levaram-me para essa maldita mesa de fuso que tinha uma companheira com a cabeça virada e espuma ainda na boca, havia acabado de morrer por não aquentar a tortura de choque e outras, jogaram o seu corpo como fosse um saco de batata ao chão, e me disseram: Agora é você!
Tiraram minha roupa, me amarraram sobre a mesa e iniciaram a tortura girando a rosca sem fim da maldita mesa para dilacerar o meu corpo, e perguntavam: Vai falar!
Nestas alturas eu já não reconhecia minhas pernas e bacia, fiquei sem controle e gritava pedindo ao Nosso Pai Deus para tirar a minha vida, com o maxilar travado e lábios tremulando de tanta dor, e novamente interrogatórios e outra vez torturas com o “umbigo de boi” no sistema de empalamento e espancamento nos pâncreas, rins, fígado, baço e não satisfeitos me colocaram os clipes em minhas partes intimas e ligaram e armaram as chaves de energia elétrica e ligavam e desligavam para perguntar: Resolveu falar? E eu respondia: Falar o que não sei. Matem-me!
Isso durante dois dias, aí chegava o 1º. Tenente médico Ricardo Agnase Fayad com um cabo enfermeiro, e aplicavam injeções para reativar o meu corpo que, se rasteja sem forças para ficar de pé.
De lá me transferiram para outra sela de isolamento, de onde eu ouvia dos outros companheiros, o horror da morte sobre a vida durante vinte dias!

* Espedito Freitas É um brasileiro Pernambucano, atualmente reside em São Paulo, nasceu em 20 de julho de 1947.  Sofreu os horrores da Ditadura Militar na própria carne. Que tem a seguinte visão da vida: "À vida para mim, não acaba e, nesse mundo somos poeiras."

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“Este é tempo de divisas, tempo de gente cortada. É tempo de meio silêncio, de boca gelada e murmúrio, palavra indireta, aviso na esquina.”
Carlos Drumond de Andrade