Oposição denuncia "tentativa de branqueamento da História"
Por Rita Siza
A oposição chilena uniu-se em bloco para denunciar a “tentativa de branqueamento da História” por parte do Presidente Sebastian Piñera, que fez aprovar um novo regulamento para eliminar a palavra “ditadura” das referências ao período entre 1973 e 1990 em que o general Augusto Pinochet governou o país.
A mudança, decidida pelo Conselho Nacional de Educação, prevê o uso alternativo da expressão “regime militar” nos manuais escolares oficiais.
“As ditaduras são ditaduras, não têm apelido”, reagiu violentamente o antigo Presidente e actual presidente do Senado, Eduardo Frei, o segundo chefe de governo eleito democraticamente pela coligação de centro-esquerda “Concertación” que assumiu o poder depois da saída de Pinochet. “O Governo pode tentar mudar o que quiser, mas no imaginário colectivo, na realidade do Chile e internacionalmente, o país viveu uma odiosa ditadura, e não há texto ou declaração que possa apagar esse facto”, comentou o político democrata-cristão, que em 2009 perdeu as eleições contra Piñera.
A senadora Isabel Allende, filha do Presidente Salvador Allende, deposto por Pinochet, considerou a mudança de terminologia “absolutamente inaceitável”. “Toda a gente sabe que o que existiu no Chile durante 17 anos foi uma ditadura feroz, com as mais graves violações dos direitos humanos, com perseguições, com
assassínios, com desaparecimentos e sem liberdade”, recordou.
De acordo com o site El Dínamo, que divulgou em exclusivo a iniciativa governamental, a decisão foi tomada há um mês, numa reunião extraordinária do Conselho Nacional de Educação. Segundo denunciou o diário electrónico, “apesar do que estabelece a Lei Geral da Educação”, o Governo não renovou os membros daquele órgão, que ainda foram nomeados nos tempos da ditadura.
A alteração – incluída num pacote de revisões dos currículos escolares do primeiro ao sexto ciclo de ensino – foi justificada pela necessidade de “uniformização da linguagem”: segundo o ministro da Educação, Harald Beyer, “no resto do mundo recorre-se à designação mais geral de regime militar”.
O Chile viveu quase três décadas sob a mão de ferro do general Pinochet, que tomou o poder num golpe militar e instaurou um regime de brutal repressão política: uma comissão de investigação aos crimes da ditadura apontou o desaparecimento de 3225 indivíduos e a prisão ilegal e tortura de mais de 37 mil pessoas.
O Presidente Sebastian Piñera é o primeiro líder conservador a chefiar um Governo da nova era democrática. Mas a sua maioria parlamentar está dependente do apoio da União Democrática Independente, a antiga base política de Pinochet.
Via Mundo P
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