Carlos Araújo, ex-militante de esquerda Maria Lima
/ Arquivo O Globo
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O ex-deputado estadual pelo Rio Grande do Sul Carlos Araújo, 75,
afirmou nesta segunda-feira, em depoimento à Comissão Nacional da Verdade
(CNV), que foi vítima de sessões de tortura durante o regime militar com a
presença de empresários ligados à Federação das Indústrias do Estado de São
Paulo (Fiesp). Segundo Araújo, a Federação não apenas financiava o aparato
repressor do regime militar, como revelou O GLOBO
na edição de 9 de março,
mas “estimulava e assistia” aos interrogatórios de presos políticos. O
ex-deputado pelo PDT citou o empresário Nadir Figueiredo como um dos
financiadores da Operação Bandeirantes (Oban) e, posteriormente, das atividades
do Destacamento de Operações de Informações-Centro de Operações de Defesa
Interna (Doi-Codi).
- Não são poucos os empresários que foram para as salas (de tortura) estimular
os torturadores e se envaidecer com a tortura de nossos companheiros. Tenho
certeza de que a Comissão da Verdade vai entrar no antro da Fiesp – disse
Araújo.
Araújo citou ainda o empresário Henning
Albert Boilesen, morto numa ação terrorista em 15 de abril de 1971, como
frequentador das salas de tortura do Departamento de Ordem Política e Social
(Dops) de São Paulo. Segundo o ex-deputado, o empresário assistiu a várias
sessões de tortura a que foi submetido.
O ex-deputado esteve preso em São
Paulo entre 1970 e 1974, primeiro na sede do Dops, comandada pelo delegado
Sérgio Paranhos Fleury, e depois na Oban. Ex-marido de Dilma Rousseff, os dois
militavam na Vanguarda Armada Revolucionária Palmares (Var-Palmares) quando
foram presos.
O depoimento de Araújo foi curto e
não durou nem dez minutos. Com problemas de saúde, ele não acompanhou toda a
audiência pública da CNV em Porto Alegre, que teve também a presença de
familiares do ex-presidente João Goulart e de vítimas da Operação Condor, que
reuniu os aparatos repressores das ditaduras do Cone Sul em ações articuladas
em vários países.
O atual presidente da Comissão da
Verdade, Paulo Sérgio Pinheiro, disse que uma das linhas de investigação da CNV
é o financiamento privado à repressão, mas reconheceu que o tema é
“delicadíssimo”. Ele não quis comentar a citação de Araújo à Fiesp.
A Federação informou, por meio de
nota oficial, que sua atuação tem se pautado pela defesa da democracia e do
Estado de Direito e que “eventos do passado que contrariem esses princípios
podem e devem ser apurados”.
No último dia 9 de março, reportagem
de O GLOBO revelou que Geraldo Mendes de Mattos, funcionário do Serviço Social
da Indústria (Sesi), e o empresário Nadir Dias de Figueiredo eram os
interlocutores principais da entidade junto ao governo militar. Os recursos
para financiar o aparato repressor eram coletados, entre outros, pelos
empresários Gastão de Bueno Vidigal (Banco Mercantil de São Paulo), João
Batista Leopoldo Figueiredo (Banco Itaú e Scania) e Paulo Ayres Filho
(Pinheiros Produtos Farmacêuticos), além do advogado Paulo Sawaia. Empresas
como Ultragaz, Ford, Volkswagen e Chrysler forneceram carros blindados,
caminhões e até refeições prontas para as equipe do Dops.
O Globo
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