Se Dilma sucumbir às chantagens estará oferecendo os próprios pulsos aos que têm culpa no cartório e são capazes de tudo
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Sarney age como um psicótico que tem culpa no cartório e chantageia  a presidente,  usando pretextos pueris. Collor é o bobalhão que faz seu jogo.  | 
"Não   me lembro se colocamos no Isordil, no Adelpan ou no Nifodin.   Conseguimos colocar um comprimido nos remédios importados da França. Ele   não poderia ser examinado por 48 horas, senão aquela substância  poderia  ser detectada."
Mário Neira Barreiro, um dos assassinos confessos de Jango, em entrevista gravada por João Vicente Goulart.
Anote e confira um dia, se a sociedade   puser a boca no trombone e reverter essa abominável articulação   obscurantista para preservar o sigilo eterno de documentos oficiais: seu   principal objetivo é encobrir os assassinatos de Estado, como os de    Juscelino Kubitschek, João Goulart, Carlos Lacerda e Tancredo Neves, bem   como as verdadeiras circunstâncias da morte de Getúlio Vargas.
É isso mesmo: estou falando de assassinatos perpetrados com os conhecidos requintes que foram mais salientes no regime do apartheid, na África do Sul, e no Portugal salazarista, no tempo da PIDE – Polícia Internacional de Defesa do Estado.
Se esse cavalo de pau vingar,   quando o projeto de lei que insere no Brasil nos hábitos das nações   civilizadas já está pronto para ser votado 8 anos depois de apresentado, falar em Comissão da Verdade para inventariar os abusos na ditadura será uma impertinente piada de mau gosto. 
A sociedade brasileira terá   perdido uma grande oportunidade de conhecer tramas do arco da velha,   guardadas a sete chaves por exporem as vísceras dos podres poderes ao   longo de anos e séculos.
Apenas para esclarecer: o   projeto que põe fim ao sigilo eterno foi encaminhado em 2003 ao   Congresso pelo ex-presidente Lula. Na Câmara, foi detectada uma falha   que, no fundo, preservaria os segredos para sempre, na medida em que   permitia a prorrogação indefinida do sigilo dos documentos considerados   ultra-secretos. Com a emenda aprovada, o maior prazo é de 50 anos, o  que  já não é pouco. 
Três vultos da história mortos no espaço de 8 meses
No caso das minhas afirmações iniciais, basta lembrar coincidências gritantes: O   ex-presidente Juscelino Kubitscheck foi “acidentado” no dia 22 de   agosto de 1976; 104 dias depois, em 6 de dezembro do mesmo ano, o   ex-presidente João Goulart foi envenenado em Mercedes, na Argentina, no   auge frenético da “Operação Condor”, que juntava em ações  transnacionais  de extermínio as ditaduras do Brasil, Chile, Argentina e  Uruguai; 166  dias mais tarde, em 22 de maio de 1977, o ex-governador  Carlos Lacerda  morreu em uma clínica particular, onde fora internado  com uma gripe  comum.
Esses três líderes de correntes   rivais haviam se unido a partir de iniciativa de Lacerda, o principal   arauto do golpe de 1964, quando este descobriu, em 1966, que havia   levado uma tremenda volta dos militares, que se apegaram aos poderes   encantados de Brasília e implantaram o regime em que qualquer um poderia ser presidente, desde que fosse general do Exército.
Em 1966, antes de ser cassado   pelos ex-concubinos na conspirata patrocinada pelos Estados Unidos,   Lacerda resolveu dar o troco de maneira surpreendente: através de Renato   Archer, adversário de Sarney no Maranhão, chegou a Juscelino, que   estava exilado em Portugal, e valendo-se de Doutel de Andrade   sensibilizou João Goulart: em 28 de outubro de 1966 a TRIBUNA DA IMPRENSA   publicava o manifesto da Frente Ampla, assinado pelos três, pleiteando  a  volta das eleições diretas e política externa soberana, entre outros   pontos.
Mesmo sob desconfiança dos   parlamentares oposicionistas, que suspeitavam da metamorfose de Lacerda e   da condenação de Brizola, que soltou os cachorros em cima de Jango, a   frente começou a ganhar corpo até que em 5 de abril de 1968 a ditadura   cassou o ex-governador e proibiu as atividades do grupo. A partir de   então, suas articulações passaram para a clandestinidade e pesaram na   decisão que levou ao AI-5, em 13 de dezembro de 1968.
Sarney, o pau-mandado da ditadura
Em todos esses episódios, José   Sarney se comportou como um crápula de carteirinha, procurando prestar   todo tipo de serviço à ditadura para consolidar o vice-reinado do   Maranhão, ainda dividido, devido à força que seu ex-padrinho Vitorino   Freire ainda gozava no regime, sobretudo pelas mãos dos irmãos Geisel.
Documentos secretos do governo   americano, tornados públicos na década de 90, revelaram que Sarney foi o   emissário dos militares junto à Embaixada norte-americana para  explicar  o AI-5, ato institucional ultra-ditatorial  que dividia  os próprios militares. O grupo de Golbery, que perdera o  manuseio dos  cordéis, usava seus contatos para convencer os patrões de  que esse golpe  dentro do golpe era uma carta branca a "linha dura"   radical e poderia  trazer dores de cabeças para a Casa Branca e os   trustes, tudo, naturalmente dentro do clima de intrigas e disputas   pessoais entre generais, almirantes e brigadeiros que marcaram os 20   anos sórdidos, nos quais Sarney deu nó em pingo d’água para manter-se na   crista da onda.
Tancredo, a morte mal contada
No caso de Tancredo Neves, de   cuja morte foi Sarney o grande beneficiário, como se tivesse ganho a   Presidencia na mega-sena, há histórias cabeludas que deixaram até hoje   familiares do veterano político mineiro com a pulga atrás da orelha. As   suspeitas aumentaram quando o general Newton Cruz admitiu em entrevista  à  TV Cultura, no ano passado, informnações antecipadas sobre sua  morte.
Isso levou a família do   ex-presidente a cogitar de pedir abertura de investigações rigorosas.   OsNeves até hoje não digeriram o caso do garçom João Rosa, escolhido   para ser o mordomo do presidente eleito. Ele também teve uma morte   estranha, um dia depois do falecimento de Tancredo. Rosa tinha 52 anos e   morreu oficialmente em consequência de diverticulite, primeiro   diagnóstico para a doença do presidente. O garçom, que era funcionário   do Palácio do Planalto, chegou a trabalhar alguns dias na Granja do   Riacho Fundo, residência provisória do novo presidente e onde Tancredo   fazia as refeições enquanto definia o Ministério da Nova República.
Suicídio de Getúlio nunca foi devidamente esclarecida
Em relação à morte do presidente   Vargas, já se levantaram variadas hipóteses. Em 2007, a ex-vedete   Virgínia Lane, que privou de sua intimidade, afirmou no programa de   Roberto Canázio, da Rádio Globo, que estava na cama com   ele quando quatro homens mascarados o mataram. Gervásio Batista,   fotógrafo histórico, autor da última foto de Tancredo vivo, disse em   2008 ao site G1 que foi impedido por Gregório Fortunato de fotografar Getúlio morto, porque este “estava em trajes menores”.
Especulações e doideiras à parte   há especulações sobre a possibilidade de que a própria  carta-testamento  do ex-presidente não tenha sido escrita por ele,mas  pelo ex-ministro  João Neves da Fontoura, o mesmo que divulgou “correspondências secretas”   entre Vargas e Perón sobre repúblicas sindicalistas, usadas no complô   para derrubá-lo. Curioso: embora se conheça o documento manuscrito, a   historiadora Maria Celina D’Araujo fala de três vias: “Como   testemunho de seu gesto Getulio deixou uma carta testamento com três   cópias. Uma, na mesa de cabeceira da cama onde morreu, outra dentro do   seu cofre e uma terceira entregue a Goulart, ainda durante a reunião   ministerial. Getulio pedira a Jango que guardasse o documento sem lê-lo e   se retirasse para o Rio Grande do Sul, pois no Rio, ele, Getulio e o   próprio governo eram muito vulneráveis”.
Assassinato de Jango não há como esconder
Falo de alguns fatos dignos de suspeita, mas a história dos assassinatos de Estado é madeira de dar em doido. Graças à tenacidade do seu filho João Vicente o Ministério Público Federal passou a investigar a morte do ex-presidente no início de 2008, quando escrevi:
O assassinato de   Jango fazia parte de um sofisticado plano internacional, que incluía   outras vítimas, como o ex-embaixador chileno Orlando Letelier,   "explodido nos EUA", o ex-general chileno Carlos Prates, o ex-presidente   boliviano Juan José Torres e dois parlamentares uruguaios - senador   Zelmar Michelini e o deputado Héctor Gutiérrez Ruiz - ocorridos na   Argentina, após a deposição de Isabelita Peron, em 24 de março de 1976, e   a ascensão do mais sangrento bando golpista, comandada pelo general   Jorge Rafael Videla, que disputou com o colega chileno Augusto Pinochet a   comenda de grão-mestre da tortura e do extermínio de opositores. 
Na ocasião, o advogado   Christopher Goulart, neto do ex-presidente, declarou que a investigação   levaria inevitavelmente à descoberta de outros crimes, no âmbito da   “Operação Condor”. A apuração já ia ser arquivada se não fosse pela   insistência do seu filho. Agora em junho, a procuradora da Republica   Gilda Carvalho determinou à Procuradoria do Rio Grande do Sul, que   reative as investigações a respeito e exigiu rigor nos interrogatórios   de quem pode esclarecer o crime. 
Uma forma de algemar a presidente Dilma
Mas há muita nebulosidade sobre   uma história que vem sendo sistematicamente escondida aos brasileiros   num ambiente que ameaça até mesmo os governantes de hoje.
Nesse episódio, a   presidente Dilma Rousseff tem o apoio de todas as correntes de opinião,   inclusive as mais conservadoras, para manter o projeto como chegou ao   Senado. Só quem está ensebando é quem tem culpa no cartório, no caso os   bolsões da intolerância das Forças Armadas, que esperam assim sepultar a   Comissão da Verdade, e traquinas da laia de Sarney e Collor, que devem   estar muito mal na papelada que pretendem eternamente protegidas da  luz  do dia.
A matéria já devia ter sido   votada no último dia 3 de maio, mas Dom Sarney e seus lacaios amestrados   travaram, puseram as facas no peito da presidente e deixaram todo o   país a ver navios.
Se a presidente Dilma se   curvar a tamanha monstruosidade, estará oferecendo os próprios pulsos   às algemas, iguais as que marcaram seu espezinhado corpo juvenil. E   ficará nas mãos tintas de sangue de uma meia dúzia de psicóticos de vida   pregressa impublicável.



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