Nas revistas: os nervos expostos da ditadura
As mais de 2 mil páginas de documentos secretos do Centro de Informação da Marinha (Cenimar) mostram que o Cenimar se tornou um gigantesco aparato de conspirações e perseguição aos adversários do governo.
Os nervos expostos da ditadura
Criador do Serviço Nacional de Informações (SNI), em 1964, o general Golbery do Couto e Silva, anos mais tarde, passou a chamar de “monstro” o aparelho de espionagem e repressão que montou. O SNI ficava no topo de uma complexa estrutura de órgãos encarregados de combater as organizações de esquerda que se opunham ao regime militar (1964-1985). As mais de 2 mil páginas de documentos secretos do Centro de Informação da Marinha (Cenimar) obtidas por ÉPOCA dão razão a Golbery. O conteúdo desses arquivos mostra que o Cenimar se tornou um gigantesco aparato de conspirações e perseguição aos adversários do governo.
Um relatório escrito no fim de 1971 diz que, àquela altura, o arquivo do Cenimar guardava cerca de 330.000 prontuários acondicionados em 160 gavetas de aço. As fichas pessoais eram organizadas sem muito critério, como se o serviço secreto quisesse dominar o mundo. O cadastro incluía inimigos notórios da ditadura, vivos ou mortos, líderes do golpe de 1964, como o ex-presidente Castello Branco, e até personalidades estrangeiras, como o ex-presidente dos Estados Unidos John Kennedy, assassinado em 1963. Muita coisa estava distante do tema “segurança interna”, objetivo declarado do Cenimar. Muitas vezes, nem os chefes escapavam da bisbilhotagem.

A estrutura que fez de órgãos como o Cenimar tão poderosos começou a ser montada no fim da década de 1920. Mas a influência dos serviços de informação cresceu nos preparativos do golpe contra o governo do presidente João Goulart, derrubado pelos militares em 1964. A insubordinação da Marinha, fundamental na queda de Goulart, era alimentada desde 1962 dentro de seu serviço secreto. Numa investigação interna sobre o comportamento de um integrante do centro, um oficial do Cenimar fez um relatório que descrevia a conspiração. O texto afirma que o almirante Pedro Paulo de Araújo Suzano, ministro da Marinha de Goulart, tinha interesse em bloquear as atividades do Cenimar, definido pelo oficial como um “baluarte da ação anticomunista”, o que “contrariava os interesses do governo João Goulart”.
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